
Dois dos atores mais "gostáveis" do cinema e da televisão dos últimos anos são o grande chamariz da nova aposta da gigante do streaming e não passaram despercebidos na antestreia europeia de "Estado Elétrico" em Madrid, no final de fevereiro.
Chris Pratt e Millie Bobby Brown foram recebidos com pompa e circunstância por centenas de fãs (maioritariamente jovens) no Cinema Callao, no centro da capital espanhola, sem perderem o sorriso estampado que já tinham mantido durante a conferência de imprensa, poucas horas antes, na qual o SAPO Mag também esteve presente.
Sinal dos tempos, e de uma "fandom" para alimentar, a atriz revelada na série "Stranger Things" (também da Netflix) e o ator que alcançou outros voos em sagas da Marvel e do universo de "Parque Jurássico" não se pouparam a esforços para retribuir a atenção do público: durante quase uma hora, foram incansáveis na distribuição de autógrafos e assumiram ainda o papel de fotógrafos em sucessões de selfies que, partilhadas nas redes sociais, darão a sua contribuição para que o filme dos irmãos Anthony e Joe Russo se destaque entre as novidades da plataforma nas próximas semanas.

"Estado Elétrico" pode ser visto na Netflix a partir desta sexta-feira, 14 de março, e acompanha "um grupo de desajustados que tenta encontrar algo maior pelo qual valha a pena lutar, abandonando o egoísmo em prol da proteção de uma jovem brilhante", resume Chris Pratt, coprotagonista da aposta que, além de Millie Bobby Brown, junta Giancarlo Esposito, Stanley Tucci, Ke Huy Quan, Jason Alexander, Woody Norman e as vozes de Woody Harrelson, Anthony Mackie, Brian Cox, Jenny Slate, Hank Azaria, Colman Domingo e Alan Tudyk.
O ator reconhece "algumas semelhanças com os Guardiões da Galáxia" na premissa desta aventura retrofuturista, ambientada nuns anos 90 distópicos, que adapta a novela gráfica homónima do sueco Simon Stålenhag, editada em 2018. Mas o norte-americano também aponta diferenças. "As experiências com os Russo tiveram sempre um espírito muito colaborativo, tanto em 'Vingadores: Guerra do Infinito' como em 'Vingadores: Endgame'. O interessante nesta foi partirmos de uma tela em branco para a construção das personagens, o que não tinha acontecido antes: do aspeto visual à forma de caminhar ou à atitude, da construção narrativa ao improviso em algumas cenas cómicas. Foi um ótimo desafio poder criar algo completamente fresco e divertido", conta.

"Há uma leveza na minha personagem que se complementa com o lado mais dramático da personagem da Millie", diz Pratt sobre Keats, um contrabandista desbocado mas, no fundo, bem-intencionado, que não anda muito distante de Star-Lord, anti-herói que marcou a sua passagem pela Marvel. Já Michelle, a personagem que Millie Bobby Brown encarna, não está assim tão próxima de Eleven, que a apresentou ao mundo (e a uma legião de fãs) em "Stranger Things".
"O maior desafio foi interpretar alguém a viver o luto, acho que já toda a gente passou por isso", diz a britânica sobre a jovem orfã que parte em busca do irmão mais novo, que julgava ter morrido, ao lado de Keats e de dois robôs amistosos. "É uma experiência multifacetada, com muitas camadas", confessa a atriz de 21 anos, sublinhando a viragem que "Estado Elétrico" trouxe ao seu percurso: "Encarnar a Michelle a passar por todas as fases do luto e a tentar sair desse espaço sombrio".

De Drew Barrymore a Mark Wahlberg
Se em "Stranger Things" Millie Bobby Brown mergulhou nos anos 80, em "Estado Elétrico" olhou para a década seguinte... pela qual também não passou. "Nasci em 2004, por isso tive de fazer pesquisa", diz entre risos. Ao preparar-se para o papel, (re)descobriu ícones de uma geração anterior e inspirou-se num em particular para a cor do cabelo, penteado e guarda-roupa. "Encontrei uma foto da Drew Barrymore, enviei-a para os produtores e esse visual foi aprovado", revela.
A experiência de Pratt, ator de 45 anos, foi naturalmente diferente. "Sou um filho dos anos 90, então tive a oportunidade de relembrar a música que adorava quando era mais novo ou a forma como as pessoas se vestiam nessa época", partilha, realçando que o filme tem "uma faceta nostálgica por uma era que não existiu verdadeiramente, já que a ação decorre nuns anos 90 alternativos".

Estranhamente, algumas das canções-chave de "Estado Elétrico" são clássicos de artistas que vão dos Journey aos Clash. Além de não terem surgido na década de 90, reunidas aqui soam mais a uma extensão das icónicas playlists de... "Guardiões da Galáxia". Uma das raras exceções é "Good Vibrations", de Marky Mark and the Funky Bunch (banda liderada pelo futuro ator Mark Wahlberg), que mesmo assim foi editada logo em 1991. E apesar de Pratt destacar as referências do filme à cultura pop, as marcas de um tempo são bem mais discretas do que em "Stranger Things" - tirando pormenores muito pontuais, a ação poderia decorrer em qualquer outra década.
TECNOLOGIA E ENTROPIA
Além de "Guardiões da Galáxia" ou "Stranger Things", o mundo de "Estado Elétrico" parece feito com peças de "Toy Story", "Transformers" ou da recente série "Fallout" (Amazon Prime Video), entre outros piscares de olho à ficção científica, animação ou ação de apelo mainstream. Mas embora a tecnologia tenha um papel fundamental numa realidade com humanos e robôs em colisão, os atores garantem que o olhar sobre ela é crítico.

"Acho que o público que acompanha o meu trabalho deveria mesmo ver um filme como este", salienta Millie Bobby Brown. "A mensagem não é muito óbvia nem moralista, mas julgo que a essência do filme é um convite a refletirmos sobre a nossa relação com a tecnologia e tentar chegar a um ponto de equilíbrio saudável. Claro que a tecnologia pode ter grandes benefícios, mas também é um dos maiores motivos pelos quais os jovens têm problemas de saúde mental. É algo a que temos de estar mesmo mais atentos, temos de proteger os mais novos", apela.
Os mais jovens, no entanto, não são os únicos sujeitos a este efeito de dependência, comprova Chris Pratt. "Sou dolorosamente viciado no meu telemóvel. Claro que acho que a tecnologia é maravilhosa, permitiu avanços incríveis. Mas tento controlar-me para não ficar demasiado dependente dela. Uma das coisas que pode fazer é tornar-nos consumidores passivos de entretenimento gerado por algoritmo, deixando-nos num estado hipnótico. E sou tão suscetível a isso como qualquer outra pessoa", assume, deixando um exemplo recente. "Nesta press tour estou longe de casa e às vezes dou por mim a fazer scroll sem ganhar nada com isso: só perco umas quatro horas de sono. A minha relação com a tecnologia é como com uma droga. Provavelmente, tenho de tentar uma reabilitação o mais rapidamente possível."
O SAPO Mag viajou a Madrid a convite da Netflix
TRAILER DE "ESTADO ELÉTRICO":
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