"Devido ao estado crítico da minha saúde e das mudanças patológicas que começaram a sofrer os meus órgãos, as autoridades planearam alimentar-me à força. Nessas condições vejo-me obrigado a abandonar a greve de fome a partir de sábado, dia 06 de outubro", disse Sentsov numa carta publicada no jornal russo "Nóvaya Gazeta".

O cineasta, condenado a 20 anos de prisão por conspiração destinada a promover atos terroristas, acrescenta que o argumento das autoridades russas é o de ter perdido a capacidade de raciocínio para tomar decisões.

Por seu turno, o diretor adjunto do Serviço Federal Penitenciário russo, Valeri Maximenko, confirmou que o cineasta "abandonou a greve de fome, decisão que deixou escrita".

"Também aceitou começar a comer. Está a ser consultado pelos melhores nutricionistas de Moscovo sobre a maneira de reabilitar-se. Desenvolveu uma dieta especial para melhorar o seu estado de saúde", disse Maximenko à agência de notícias TASS.

"145 dias de luta e 20 quilos de peso a menos e uma saúde prejudicada sem conseguir cumprir o meu objetivo. Agradeço a todos os que me apoiaram, e peço perdão por ter falhado. Viva a Ucrânia!", conclui a carta.

A União Europeia pediu em agosto a libertação do cineasta e dos restantes prisioneiros políticos ucranianos, que excedem a meia centena.

Também mais de 60 personalidades do mundo da cultura apelaram, na mesma altura, aos líderes europeus para que pressionem pela libertação imediata do cineasta.

Putin não reconhece a existência de presos políticos na Rússia e, em várias ocasiões, defendeu a legalidade da condenação de Sentsov.

"Sentsov foi preso por preparar ataques terroristas, não por vandalismo", argumentou o Presidente russo, quando da condenação.

Os ataques cometidos por Sentsov a que Putin alude seriam os ataques perpetrados com líquidos inflamáveis, em abril de 2014, contra os escritórios do partido no poder, Rússia Unida, e da Sociedade Russa da Crimeia em Simferopol, a capital da península.

A península da Crimeia foi anexada pela Rússia em maio de 2014.

Oleg Sentsov, de 42 anos, tem nacionalidade ucraniana, mas é considerado por Moscovo um cidadão russo, na sequência da anexação da Crimeia.

O cineasta foi condenado em 2015 a 20 anos de prisão por terrorismo na Crimeia e está em greve de fome desde 14 de maio, e tem vindo a exigir a libertação de "todos os presos políticos” ucranianos na Rússia.