O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, revelou hoje que, por razões de segurança, a Cinemateca Portuguesa não deu abertura para que sejam exibidos filmes antigos no Cinema Batalha, que deverá reabrir no verão de 2019, após as obras de reabilitação.

“Em reunião, há cerca de três meses, com a direção da Cinemateca e o Secretário de Estado [da Cultura], ficou claro que não há qualquer tipo de abertura da Cinemateca para que possamos exibir, dizem eles, em condições de segurança cinema internacional no Porto”, afirmou Rui Moreira, na conferência de imprensa de apresentação dos princípios estratégicos que vão orientar a reabilitação daquele espaço considerado emblemático da cidade.

O autarca explicou que a câmara pretende que “os programas a apresentar [no Batalha] incluam, e frequentemente cruzem, cinematografias contemporâneas e cinematografias de arquivos, nacionais e internacionais”, e por isso se torna necessário “o envolvimento da Cinemateca” para fornecer as cópias dos filmes.

Rui Moreira garantiu que, caso seja reeleito nas autárquicas de outubro, não deixará “este assunto ficar assim”, tendo “esperança” de que, quando chegar o momento certo, “o ministro e o secretário de Estado da Cultura apoiarão a exibição de cinema de arquivo internacional no Porto, desde que salvaguardadas as condições de segurança”.

O autarca anunciou que “o conhecimento, a inovação e a memória” são os três eixos do programa cultural que quer implementar no Batalha, cujas obras de reabilitação estão orçadas em cerca de 2,5 milhões de euros, aos quais se somarão 500 mil euros para equipamentos e mobiliário.

“Queremos que o Batalha seja um projeto de aprendizagem e encontro através do cinema do Porto, construído com toda a singularidade. Significa que tem que ser um projeto totalmente conectado com as práticas e com os agentes culturais da cidade, como sempre foi”, disse.

Moreira sublinhou que o espaço “não quer imitar a Cinemateca Portuguesa, o British Film Institute, o S. Jorge, em Lisboa, ou qualquer cinema internacional”, quer sim “encontrar-se num modelo distinto que se afirme pela sua singularidade”.

Obras começam no verão de 2018

Sobre os dois painéis de Júlio Pomar que foram ali pintados nas paredes do imóvel, mas depois tapados, o autarca referiu ter já adjudicado “duas sondagens técnicas” que visam “assegurar de forma definitiva que os murais já não existem” e garantiu que “nada será colocado em cima se houver uma preexistência [do trabalho do artista] que possa ser recuperável”.

Rui Moreira adiantou também que o Batalha precisará de uma “equipa de 18 pessoas”, designadamente “um presidente não executivo, que será o presidente da administração da empresa municipal de Cultura” que quer criar, “um diretor geral, que será um dos administradores da empresa, um gestor executivo, partilhado com o teatro municipal”, bem como “um ou dois programadores” e coordenadores técnico, de produção e do serviço educativo”.

“Estes dados estão já considerados no estudo de viabilidade da empresa municipal” a criar, disse, frisando que a Porto Cultura “terá 136 colaboradores”, dos quais “pelo menos 80 serão funcionários da Câmara”.

O autarca antecipou “que a obra arranque no verão de 2018 e o prazo de obra é de um ano e seis meses".

Um ano antes da abertura deste espaço classificado como Monumento de Interesse Público, encerrado desde 2011, a câmara pretende pôr a equipa a trabalhar, estimando que o seu funcionamento, a manutenção e os recursos humanos “perfaçam cerca de 550 mil euros por ano”.

Construído na década de 1940, o Cinema Batalha fechou duas vezes nos últimos 17 anos. No início do ano, a Câmara do Porto anunciou que assume, durante 25 anos, a gestão do Cinema Batalha, através de um contrato com os proprietários que prevê o pagamento de uma renda mensal de 10 mil euros.

O arquiteto responsável pela reabilitação do espaço, Alexandre Alves Costa, reafirmou hoje pretender criar duas salas de cinema (cinema-estúdio, para 150 pessoas, e sala principal), um ‘foyer’, bem como eliminar a Sala Bebé, transformando-a num salão de chá. Haverá também um elevador com ligação ao terraço do edifício, onde ficará uma esplanada.

“A execução do projeto não é fácil, porque o Batalha encontra-se em condições muito degradadas, muito envelhecido”, sustentou o arquiteto.

Moreira disse ainda que pediu já ao arquiteto autor da praça da Batalha uma proposta para a “rearranjar”, mas que se trata de um projeto que não é para já.