Pagar do seu bolso foi a forma que Francis Ford Coppola encontrou para finalmente concretizar "Megalopolis": são 120 milhões de dólares, quase 107 milhões de euros.

Trata-se de um projeto de paixão e ambição que descreveu no passado como seguindo a tradição dos antigos épicos romanos de Hollywood, mas sobre uma versão utópica de Nova Iorque chamada "Nova Roma", escrito no início dos anos 1980 e que foi forçado a abandonar por causa dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

Ao receber um Prémio Lumière de Carreira num festival na cidade francesa de Lyon em outubro de 2019, o lendário cineasta foi ainda mais explícito, descrevendo-o como "um filme sobre utopia, sobre o que é realmente o céu na terra", um "filme ainda mais ambicioso do que 'Apocalypse Now'" e muito mais caro: "Esse é o problema: é um filme "em 'escala Marvel'" em termos de produção, acrescentando "Tenho que encontrar uma maneira de chegar lá".

A maneira foi investir o seu próprio dinheiro para concretizar um filme que pode vir a ter no elenco Oscar Isaac, Forest Whitaker e Cate Blanchett, após vender "uma parte significativa do seu império vinícola para usar uma percentagem como garantia para obter a linha de crédito".

O responsável pela saga "O Padrinho" e títulos como "O Vigilante", "Cotton Club", "Rumble Fish" e "Tucker - Um Homem e o Seu Sonho" contou à revista GQ que os maiores estúdios de Hollywood reagiram à sua apresentação de "Megalopolis" da "mesma forma que reagiram quando tinha ganho cinco Óscares e era o realizador mais cobiçado na cidade e entrei com ‘Apocalypse Now’ e disse 'É isto que gostaria de fazer a seguir'. Sou o detentor [dos direitos] do ‘Apocalypse Now’ [...] porque mais ninguém o quis".

"Sei que ‘Megalopolis’, quanto mais pessoal eu o fizer, e quanto maior for um sonho para mim fazê-lo, mais difícil será financiá-lo", acrescentou.

Após enfrentar a bancarrota nos anos 1980, Coppola reergueu-se com o negócio do vinho, hotéis e outros investimentos: aos 82 anos e sem querer esperar mais tempo, garante que não está a investir tudo o que tem, não existem dívidas e já deixou muito aos filhos, que também têm as suas próprias carreiras de talento na indústria: Sofia e Roman Coppola.

Quando a revista lhe perguntou se o autofinanciamento de “Megalopolis” poderia espelhar o que passou quando fez o musical "Do Fundo do Coração" (1982), um grande fracasso comercial pelo qual passou anos a pagar as dívidas, a resposta refletiu a audácia do realizador que se tornou uma lenda há 50 anos: "Não me poderia importar menos com o impacto financeiro. Não significa absolutamente nada para mim”.