Há os filmes de culto, os livros premiados e os videojogos de sucesso mundial: épico e fora do comum, o Desembarque dos Aliados na Normandia a 6 de junho de 1944 fascinou criadores do mundo inteiro.

Sempre em busca do espetacular para os seus 'blockbusters', Hollywood não se cansou de inspirar-se na história do Desembarque há 80 anos, às vezes tomando liberdades com os eventos.

Entre os filmes que se tornaram clássicos, destaca-se: "O Dia Mais Longo" (1962) de Darryl Zanuck, com o lendário ator americano John Wayne à frente de um vastíssimo elenco de estrelas.

"O Dia Mais Longo"

Mais de 35 anos depois, veio o que para muitos é a maior referência do género, "O Resgate do Soldado Ryan" (1998) de Steven Spielberg. Com uma crueza assumida, a longa-metragem recebeu cinco estatuetas dos Óscares e tornou-se um enorme sucesso de bilheteira.

Spielberg repetiria a façanha alguns anos depois com a série "Irmãos de Armas", que co-criou com Tom Hanks, o protagonista do filme. Ela vai além do tema do Desembarque e oferece um panorama da Segunda Guerra Mundial através dos olhos dos membros de uma companhia do Exército americano.

Videojogos: reconstituição e paródia

Foi também Steven Spielberg que, embora mais indiretamente do que no cinema, trouxe a primeira representação realista do Desembarque da Normandia aos videojogos. Terceiro episódio de uma saga lançada em 1999 sob a iniciativa do cineasta norte-americano, mas cujos direitos ele cedeu a partir do segundo jogo, "Medal of Honor: Allied Assault" marcou uma geração de jogadores quando foi lançado em 2002.

Os jogadores lembrar-se-ão por muito tempo da missão "Operação Overlord", que permite encarnar pela primeira vez um soldado americano desembarcando sob fogo inimigo na Praia de Omaha.

"Raros são os jogos que nos deixam assim, boquiaberto e maravilhado", escreveu na época o jornalista Dan Adams na sua crítica para o 'site' especializado IGN, elogiando a qualidade gráfica (para a época) dessa reconstituição.

"O Resgate do Soldado Ryan" (1998)

No mesmo ano, outro Medal of Honor, "Frontline", leva os jogadores às praias da Normandia como um aquecimento.

"As referências a 'Soldado Ryan' são evidentes, tanto na coloração da imagem, tendendo para o cinza-azulado, como as sequências tiradas do filme", observa Romain Vincent, professor de história na região de Paris e criador do canal "Jeux vidéo et Histoire" no YouTube.

Alguns jogos apostaram na paródia, como "Conker's Bad Fur Day" (2001), que opõe esquilos e ursos de peluche sanguinários, numa versão 'gore' e absurda do Desembarque, ou "Worms 3D" (2003) e as suas batalhas militares de minhocas.

Livros: relatos e testemunhos

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O Desembarque gerou poucas ficções, mas muitos testemunhos e relatos. O clássico absoluto permanece "O Dia Mais Longo", do jornalista irlandês e americano Cornelius Ryan, de 1959, que foi adaptado para o cinema.

Na França, o romance vencedor do Prémio Goncourt de 1963, "Quand la mer se retire" de Armand Lanoux, narra o regresso às praias do Dia D de um ex-combatente canadiano.

Do lado civil, Jean-Luc Bizien relatou em 2004, em "Marie Joly", o difícil período do fim da Ocupação e dos combates da Libertação na Normandia.

Para o 80.º aniversário do evento, novas publicações foram lançadas.

Na França, a jornalista Annick Cojean publica 18 relatos de intervenientes desse dia, militares ou civis, reunidos em "Nous y étions". No Reino Unido, o escritor Michael Morpurgo, cuja obra aborda quase exclusivamente as duas Guerras Mundiais, lançou o livro ilustrado "Finding Alfie: A D-Day Story".