A vida e obra do realizador colombiano Luis Ospina estão em destaque na próxima edição do DocLisboa, a decorrer na capital portuguesa, de 18 a 28 de outubro, anunciou a Associação pelo Documentário (Apordoc), que organiza o festival.
O curso do Rio Eufrates, da Ásia Menor ao Golfo Pérsico, desenha também uma secção temática do festival, com cinematografias do sudoeste asiático, abordando a atualidade e antecedentes de conflitos, em países como a Turquia, Síria e o Iraque.
“Luis Ospina: Punk cinéfilo em retrospetiva”, que DocLisboa'18 vai apresentar, é a primeira integral, à escala europeia, "de um realizador cuja vida – e obra – urge celebrar”, lê-se no comunicado da Apordoc, divulgado na quarta-feira.
O realizador colombiano estará em Portugal para acompanhar a programação, que inclui filmes como o recente “Todo comenzó por el fin” ou o mais remoto “Agarrando pueblo”, já apresentado numa antecipação do certame, ocorrida no passado dia 27 de julho, na Cinemateca Portuguesa.
Apaixonado por cinema quase como pela vida, como recorda a Apordoc, o realizador, produtor, argumentista e montador Luis Ospina nasceu em Cali, na Colômbia, em 1949, estudou nos Estados Unidos da América e regressou à sua terra natal, no início da década de 1970, optando por filmar a história do seu país com humor e ironia.
“Consciência social e pujança artística convivem nele com um espírito de 'enfant terrible', que marca o seu olhar sobre os outros e o mundo”, refere a Apordoc sobre o cineasta, que gostou que o tratassem por "punk cinéfilo” e que promete explicar porquê, em outubro, em Lisboa.
"Agarrando pueblo", de 1977, é um falso documentário centrado numa equipa de filmagens ao serviço de uma televisão alemã, que produz um filme sobre a miséria na América Latina.
O modo pouco ético como esta se aproxima da pobreza, explorando-a com fins comerciais está na base do filme, já com 40 anos, mas que se mantém atual, como "crítica contundente ao oportunismo de cineastas que exploram a miséria dos outros", como se lê na apresentação da obra.
"¡Adiós a Cali!", "Video(B)art(h)es", "Camara Ardente", "Puro Sangre", "Un tigre de papel", "La desazón suprema", "De la ilusión al desconcierto" são alguns das cerca de três dezenas de filmes do realizador.
"Todo comenzó por el fin" é um autorretrato do chamado “Grupo de Cali”, também conhecido como “Caliwood”, conjunto de cineastas colombianos, como Ospina, Andrés Caicedo e Carlos Mayolo (parceiro de Ospina em "Agarrando pueblo"), que enfrentaram o "caos histórico dos anos 70 e 80", na Colômbia, e "lograram produzir um 'corpus' cinematográfico que é parte fundamental da história do cinema colombiano".
O filme é também uma história de sobrevivência de Ospina, que sofreu um acidente grave durante a rodagem.
Quanto ao Eufrates, o mais longo e um dos mais importantes rios do sudoeste asiático, é igualmente um tema privilegiado do DocLisboa'18, com a exibição de produções de diferentes cinematografias, provenientes de países ao longo do seu curso, com a preocupação de abrir caminho "para a compreensão da atualidade".
"Navegar o Eufrates, Viajar no Tempo do Mundo", nome desta secção temática do festival, vai da Turquia, pela Síria e o Iraque, até ao golfo Pérsico, abrangendo realizadores e expressões cinematográficas distintos.
Dos filmes a apresentar, o DocLisboa destaca, desde já, "Yol", de Serif Gören e Yilmaz Güney, dirigido após o golpe de estado de 1980, na Turquia, seguindo o quotidiano de cinco prisioneiros que beneficiam de uma licença temporária, para visitarem a família.
Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1982, "Yol" esteve proibido no país de origem, até 1999.
A pré-apresentação do festival, na Cinemateca Portuguesa, na semana passada, contou igualmente com a exibição de "A Flood in Baath Country", documentário do realizador sírio Omar Amiralay, sobre os efeitos devastadores do colapso da barragem de Zayzun.
O desastre causou a morte de dezenas de pessoas, a ruína de "milhares de vidas", como recorda o documentário, que acompanha ainda a revelação de um relatório oficial que previu o destino desta barragem e de outras construídas na mesma época.
Censurado pelo regime sírio, "A Flood in Baath Country" foi rodado em 2005 e integra-se "no espírito de contestação dos poderes instituídos, que floresceu durante a primavera árabe", como recorda a sua apresentação.
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