Segundo Fernando Vasquez, programador da 17.ª edição do certame com sede no distrito de Aveiro e iniciativas também no Porto e em Lisboa, o evento está agora “mais próximo do formato pré-COVID, recuperando as ‘masterclasses’ presenciais e mais público em sala”, mas mantém ainda “algumas limitações”, sobretudo ao nível da presença física de profissionais estrangeiros devido a restrições na mobilidade internacional.

“Ainda não está tudo como antes, mas recuperámos alguma normalidade”, diz esse responsável, admitindo, contudo, que a pandemia “enquanto experiência pessoal e social – não na perspetiva médica ou política” – será um dos principais temas nas obras a concurso este ano.

Fernando Vasquez dá à Lusa dois exemplos: “A curta-metragem ‘Sobrevoo’, de Rúben Sevivas, que é uma espécie de diário do realizador durante o confinamento e onde ele expõe completamente as suas angústias e até questões sexuais, e ‘Eva and Jane’, de Irene Ganteri, que conta a história de um casal de lésbicas que pensava juntar-se antes de surgir a COVID-19 e depois tem que se adaptar à mudança”.

Outra temática dominante na competição do FEST será o policiamento, em diferentes perspetivas: “’Enforcement’ é um filme dinamarquês inspirado no caso de George Floyd e fala de tensões sociais provocadas pela polícia, ‘Poppy Field’ fala de um polícia que esconde a sua homossexualidade para corresponder aos padrões machistas da Roménia e ‘Civilian’ conta o que pode acontecer quando a polícia do México é totalmente incapaz face aos cartéis e a população tem que fazer justiça pelas próprias mãos”.

Essas e outras obras estão distribuídas por diferentes sessões de visionamento, a começar pela competição Lince de Ouro, que vai ser disputada entre 10 longas-metragens de ficção e documentário que, no seu conjunto, constituem “um programa de luxo, apresentando algumas das obras mais badaladas do momento” – incluindo êxitos do último Festival de Cannes.

Já a rubrica Lince de Prata, para curtas-metragens, vai ter a concurso 11 documentários, 24 obras de ficção, 13 de animação e 13 experimentais. Essa oferta inclui trabalhos dos “novos realizadores e títulos mais sonantes do momento”, como “Dustin”, de Naila Guiguet, e “One Thousand and One Attempts to Be an Ocean”, de Wang Yuyan.

Outros 22 filmes lutam depois pelo Grande Prémio Nacional, ao qual se apresentam “novos nomes como os de Tiago Iúri e Teresa Sandeman” e ainda diretores já conhecidos como Matilde Calado, Edgar Morais e Alberto Seixas.

No 17.º FEST haverá ainda o FESTinha, que, dirigido ao público infanto-juvenil, constitui “uma das secções com um crescimento mais notável do festival” e dá aos jovens espectadores a oportunidade de elegerem as suas obras favoritas – entre 35 filmes para plateias com menos de 10 anos de idade, 14 obras para sub-12 e seis para sub-16.

Na categoria etária seguinte está focada a seção Nexxt, na qual competem 55 filmes “interessantes e promissores” por estudantes de instituições académicas como a Film Akademy de Vienna, o centro de formação francês Le Fresnoy, a universidade americana UCLA e a escola checa FAMU.

Além do programa competitivo, passarão ainda pelo certame diferentes retrospetivas, a começar pela que exibirá alguns dos filmes mais sonantes da cineasta catalã Isabel Coixet, como “A vida secreta das palavras” (2005), protagonizado por Tim Robbins e Sarah Polley, ou “Elegia” (2008), com Ben Kingsley e Penelope Cruz.

Fernando Vasquez realça que essa realizadora, “considerada uma das pioneiras na luta pela igualdade de género na indústria cinematográfica”, estará em Espinho para orientar “uma ‘masterclass’ exclusiva sobre a sua obra, que é marcada por histórias de conflitos existencialistas contemporâneos”.

Precisamente por esse elo à Catalunha, foi essa a região escolhida para a rubrica “Flavours of the World / Sabores do Mundo”, que divulgará 10 filmes de realizadores desse território espanhol. “Existem poucas regiões na Europa contemporânea com uma marca tão ímpar como a Catalunha e o seu cinema tem vindo a crescer impressionantemente nos últimos anos”, sublinha o programador do FEST.

No mesmo espírito de descoberta, o festival lança este ano a secção “Echoes / Ecos”, com 24 filmes escolhidos para que a audiência possa “mergulhar um pouco mais profundamente” nas razões que justificam que se continue a fazer cinema no século XXI e assim “descobrir novos mundos na grande tela”.

Duas das obras a apresentar nessa rubrica serão os primeiros episódios da série da RTP “Capitães do Açúcar”, que retrata “um grupo de jovens estudantes das Belas Artes do Porto que se envolve num esquema de produção e distribuição de uma substância psicotrópica”.

Já as Sessões Especiais, no arranque e fim do festival, contarão este ano com “dois dos trabalhos mais provocadores do momento”: na abertura, o filme “The Divide”, de Catherini Corsini, que venceu a Palma Queer em Cannes no passado mês de julho, e no encerramento, “The Sacred Spirit” de Chema Garcia Ibarra, descrito como “uma das obras imperdíveis que estimulou mais debate no Festival de Locarno, em agosto.

Tudo o que se passa à frente e atrás das câmaras!

Receba o melhor do SAPO Mag, semanalmente, no seu email.

Os temas quentes do cinema, da TV e da música!

Ative as notificações do SAPO Mag.

O que está a dar na TV, no cinema e na música!

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOmag nas suas publicações.