O IndieLisboa é o festival que mais exibe cinema experimental em Portugal. Na Competição Internacional e na seção Silvestre, um panorama mundial, obras que desafiam as narrativas tradicionais são as favoritas.

A esse aspeto tradicional foi acrescida uma novidade este ano: em parceria com a Cinemateca, quatro sessões de curtas-metragens que celebram os 40 anos da Light Cone. Mas o que esperar, afinal, do cinema experimental?

Numa paisagem literalmente oposta, a repescagem de cineastas mulheres então em curso levou o IndieLisboa ao inesperado mundo do “soft porn” dos anos 1960. A retrospetiva dedicada a Doris Wishman põe a questão: existe diferença entre o olhar feminino dentro da indústria da “sexploitation”? E como estes filmes muitas vezes amadores entram numa programação marcada pelas experiências estéticas?

Tendo como espaços principais os cinemas São Jorge e Ideal, a Cinemateca Portuguesa e a Culturgest, o IndieLisboa começa esta quinta-feira e decorre até 8 de maio. Sobre esta edição, o SAPO Mag entrevistou a codiretora Mafalda Melo.

Doris Wishman

Acha que existe uma diferença entre o "olhar" de Wishman e o dos homens que transitavam na "sexploitation" dos anos 1960 e 1970?

Mafalda Melo: Sem dúvida que existe uma diferença de olhar e isso é válido sempre, não fosse a criação fruto de experiências individuais (e de género), mas é preciso estar atento ou saber reconhecer esse olhar que confere um poder às personagens femininas que parece divergir do "male gaze" do mesmo género fílmico. Mas diria que se for para distinguir Doris Wishman de cineastas homens que mergulharam no "sexploitation", essa diferença vai sentir-se muito mais no campo estético do que no campo das convicções. Veja-se o cuidado e a beleza dos planos dos filmes, a articulação entre a câmara e as personagens. Não sei se existe essa beleza, esse toque, essa preocupação neste género de filmes de outros cineastas, mas poderá existir. Temos de ir à procura!

Esteticamente é um cinema que primava pelo amadorismo e inserido dentro de um contexto bruto de cinema comercial e de género. Como acha que esses filmes se encaixam dentro do conceito do IndieLisboa?

Na perfeição, sendo que o que pretendemos, mantendo-nos fieis ao espírito do primeiro IndieLisboa, é agitar um pouco as águas, transgredindo os códigos que são sempre considerados os caminhos mais seguros. Mas, já agora, devolvo a questão: não será um cinema escrito, produzido, financiado e realizado por uma mulher sozinha, um cinema verdadeiramente independente?

Optaram por uma Sessão de Abertura diferente, com duas curtas-metragens portuguesas (“Albufeira” e “Zéfiro) - uma delas de António de Macedo, um cineasta que recentemente tem sido revalorizado no contexto do cinema português. Por que escolheram estes filmes e o que o público pode esperar deles?

Esta proposta da Cinemateca pareceu-nos uma ocasião para celebrar o trabalho que a instituição faz no sentido da preservação, restauro e divulgação do património cinematográfico português. É uma forma de nos unirmos numa missão importante de divulgação e acesso. O António de Macedo é um verdadeiro independente, no sentido em que muitas vezes foi considerado marginal à corrente do Cinema Novo, sendo um dos mais interessantes cineastas desse período, cujo trabalho foi muitas vezes subvalorizado. O espírito do IndieLisboa celebra a sua obra com um enorme prazer, bem como a revisitação de “Zéfiro”, de José Álvaro de Morais, sendo que iremos exibir o restauro destes dois filmes.

Uma proposta diferenciada este ano são as quatro secções do Foco Silvestre "Light Cone" - um enfoque histórico sobre o cinema experimental. Como posicionam a relevância desta produção para o público do IndieLisboa?

Há pouco espaço para o cinema experimental nas (poucas) salas de cinema do país e considerámos o facto da Light Cone celebrar um aniversário redondo [40 anos] uma motivação para revisitar cineastas e obras que ficaram para a história pelo seu lado mais progressista no momento em que surgiram. Foi também um exercício de programação super interessante, aquele que as pessoas que programaram este foco fizeram: mergulhar num catálogo imenso e desenhar quatro percursos inusitados que lançam um novo olhar sobre a coleção. Penso que o público que vem e descobre o Indie está aberto a todas as experiências cinematográficas e neste programa poderá reencontrar-se com a experiência de ver filmes em película e de se deixar levar por um caminho surpreendente.

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