Após terem sido ignorados pelas associações dos críticos e Hollywood, Will Smith e "Emancipação" conseguiram as primeiras nomeações relevantes na temporada de prémios.

Na quinta-feira, a super produção de 120 milhões de dólares da Apple TV+ realizada por Antoine Fuqua surgiu nomeada para concorrer em cinco categorias nos NAACP Image Awards, os prémios da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP) para cinema, televisão, teatro, música e literatura: Melhor Filme, Realização, Ator, Elenco e Guarda-Roupa.

Embora não sejam prémios só de cinema e muito menos entre os mais importante da temporada, são as primeiras nomeações de destaque para o filme inspirado pela história verídica de Peter, um homem negro que enfrentou enormes obstáculos durante a Guerra Civil Americana (1861-65) para escapar da escravatura e se tornou um símbolo dos seus horrores após uma fotografia das suas costas nuas, com cicatrizes atrozes das chicotadas em plantações de algodão, ter chegado a todo o mundo.

TRAILER ORIGINAL.

Após o lançamento nos cinemas a 2 de dezembro e em streaming uma semana mais tarde, fontes da Apple TV+ disseram que "Emancipação" tinha atraído mais 27% de novos subscritores e, sem divulgar números, tinha sido o filme mais visto a nível internacional nesse fim de semana, nomeadamente no México, Brasil, Canadá, Austrália, Itália, França, Alemanha e Coreia.

Mas nada disto causou impacto: o filme tem sido ignorado pelas listas de melhores do ano e nas nomeações para prémios das associações de críticos e dos sindicatos de Hollywood, além dos Globos de Ouro.

Nos mais importantes Black Reel Awards, prémios que reconhecem a excelência de afro-americanos e da diáspora africana na indústria do cinema, "Emancipação" apenas foi nomeado para dois prémios, o de Atriz Revelação para Charmaine Bingwa e pela Fotografia. E na Associação de Críticos de Cinema Afroamericanos (AAFCA), não foi além de um quinto lugar na votação para os filmes do ano, empatado com "Glass Onion: Um Mistério Knives Out".

Houve ainda uma nomeação pela banda sonora de Marcelo Zarvos nos Hollywood Music in Media Awards (HMMA), que homenageiam a excelência na música no cinema, televisão, jogos de vídeo, anúncios publicitários e trailers, mas o único prémio até agora conquistado pelo filme foi nos muito secundários "Women Film Critics Circle Awards": um "Invisible Woman Award" [Prémio Mulher Invisível, em tradução literal] para a personagem e interpretação de Charmaine Bingwa.

Muito pouco para uma produção caríssima e que desde os primeiros visionamentos privados em dezembro de 2021 se falava que seria uma forte candidata aos Óscares de 2023, um ano após a Apple TV+ ter obtido uma vitória histórica com "CODA"; houve mesmo quem apostasse que Will Smith seria o primeiro a ganhar dois Óscares de Melhor Ator consecutivos desde Tom Hanks em 1995.

Mas a campanha ficou em causa quando subiu ao palco na cerimónia de 27 de março de 2022 e deu uma bofetada ao apresentador e comediante Chris Rock após este ter feito uma piada sobre o cabelo rapado da sua esposa, sem saber que ela sofria de alopecia.

Apesar de ter voltado a subir ao palco 40 minutos depois para receber a estatueta pelo filme "King Richard", as repercussões nos dias seguintes levaram-no a renunciar à Academia, que também o baniu de comparecer a todos os seus eventos durante dez anos.

Will Smith resguardou-se dos olhares do público, com exceção dos pedidos de desculpa em dois comunicados escritos e num vídeo de quase seis minutos nas suas redes sociais no final de julho.

Quando a Apple TV+ decidiu lançar "Emancipação" ainda em 2022 e não no ano a seguir, como chegou a ser noticiado para se afastar mais do escândalo, uma nova campanha foi montada, com Will Smith a comparecer em visionamentos de acesso reservado organizados com organizações cívicas, incluindo a NAACP, de onde saíram muitos elogios à produção e à sua interpretação de Peter, e a dar entrevistas onde voltou a pedir desculpas pelo seu comportamento.

Mas os consensos que saíram dos visionamentos privados contrastaram com as opiniões mais polarizadas dos críticos de cinema, que colocaram em causa o argumento e a forma como abordava os acontecimentos históricos.

Após um dos produtores ter sido obrigado a pedir desculpas por ter levado e exibido a fotografia do escravo com as cicatrizes nas costas na passadeira vermelha da antestreia a 30 de novembro, que gerou acusações generalizadas de mau gosto, e a ausência nas listas dos melhores do ano que começaram a sair pela mesma altura, "Emancipação", apesar das audiências promovidas pela Apple TV+, acabou por cair no esquecimento.

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