A vida de Mike Tyson dava um filme e é isso que vai acontecer: de acordo com a publicação Variety,
Jamie Foxx, premiado já com um Óscar pela sua interpretação de Ray Charles, irá produzir e liderar a produção que retratará o polémico pugilista que foi o terror dos ringues na segunda metade dos anos 80 do século XX. Será um regresso do ator ao popular sub-género cinematográfico desportivo depois de ter sido o homem do canto de Muhammad Ali, Dwight «Bundini» Brown, em
«Ali» no filme de
Michael Mann de 2004.

O argumento será desenvolvido por Terence Winter, reconhecido pelo envolvimento na série «Os Sopranos» e principalmente pela associação com
Martin Scorsese, que já deu origem a «Boardwalk Empire» para o canal HBO e o recente
«O Lobo de Wall Street» nos cinemas.

A complexa história de Mike Tyson já deu origem a um telefilme da HBO em 1995, «Tyson», com
Michael Jai White, mas que apenas aflorou os primeiros anos, e um
premiado documentário de
James Toback de 2009. Criado pela mãe depois do pai ter abandonado a família aquando do seu nascimento, Tyson (1966) já tinha sido preso 38 vezes aos 13 anos e escapou a uma existência marginal quando o seu talento natural para o boxe foi descoberto por um conselheiro de um dos centros de detenção que frequentou, que mais tarde o viria a apresentar ao lendário empresário e treinador Cus D'Amato, a figura paternal que colocaria a sua vida em ordem.

Tornou-se profissional aos 18 anos e ganhou 26 dos primeiros 28 combates por KO, 16 vezes ao primeiro assalto, e continuou a fazer o mesmo quando a qualidade dos oponentes melhorou e se tornou campeão aos 20 anos, dominando brutalmente a partir daí a categoria de pesos-pesados. Nesse processo, tornou-se uma das figuras desportivas mais reconhecidas do mundo: os seus comportamentos controversos tanto nos ringues como na vida privada garantiram-lhe uma presença permanente nos media... e nos tribunais.

Em 1990, num dos resultados mais surpreendentes da história, perdeu frente a Buster Douglas por KO e a sua vida começou a entrar numa espiral destrutiva. Em 1992, quando procurava recuperar os títulos, foi condenado pela violação de uma jovem de 18 anos. Quando saiu da prisão, convertida ao islamismo, voltou aos títulos mas já não tinha a forma de outrora nem inspirava o mesmo medo nos adversários, como se comprovou ao ser derrotado, contra as expectativas, por Evander Holyfield em 1996. O combate de desforra, sete meses mais tarde, seria um dos mais controversos de sempre: no decorrer do terceiro assalto, acabou desqualificado por morder as orelhas do adversário.

Após mais problemas com a lei e vários combates, enfrentou e perdeu com Lennox Lewis em 2002, no que foi o evento que gerou mais receitas na história da modalidade. A carreira não terminou e iniciou-se uma lenta decadência: lutou mais 3 vezes, perdendo duas até se retirar em 2005, pouco antes de fazer 39 anos: em 58 combates, ganhou 50, 44 por KO. No entanto, na sua vida privada os desafios continuaram: enfrentou a bancarrota, depressão, desordem bipolar, dependência de álcool e drogas e a morte de uma filha.

Nos anos mais recentes, a existência de Mike Tyson tem sido muito mais pacífica e a sua imagem junto do público começou a melhorar com o documentário de Toback e a participação na saga
«A Ressaca», prosseguindo com a estreia de um espetáculo em Las Vegas em 2012 que mais tarde chegaria à Broadway com a ajuda de Spike Lee e a publicação de uma autobiografia, «Undisputed Truth», que entrou na lista dos «bestsellers» do New York Times.