O cineasta egípcio Mohamed Diab, que queria falar de um drama familiar palestiniano, está agora no centro de uma polémica geopolítica que levou à retirada do seu filme "Amira" da corrida aos Óscares, porque, segundo os palestinianos, presta "um serviço à ocupação israelita e ofende os prisioneiros".

Depois de dois prémios na secção Horizontes do mais recente Festival de Veneza em setembro, e muitas sessões em diversos festivais em Itália, Tunísia, Egito e outros lugares, há cerca de um mês que o cineasta fazia campanha - juntamente com a Jordânia, onde a longa-metragem foi filmada - para que o seu trabalho representasse o país nos Óscares, na categoria de Melhor Filme Internacional.

No entanto, esta semana foi anunciada a retirada da candidatura de "Amira" aos maiores prémios do cinema porque causou grande impacto negativo junto da comunidade palestiniana.

"Acreditamos no valor artístico do filme e que a sua mensagem não prejudica de forma alguma a causa palestiniana nem a dos prisioneiros; pelo contrário, destaca a sua situação, a sua resiliência, bem como a sua vontade de viver uma vida decente, apesar da ocupação", destacou a Comissão Real de Cinema da Jordânia.

“No entanto, à luz da recente polémica que o filme gerou e da perceção de alguns de que é prejudicial à causa palestiniana e por respeito aos sentimentos dos prisioneiros e das suas famílias, a a Comissão Real de Cinema decidiu não ter 'Amira' a representar a Jordânia nos óscares de 2022", destacou.

O filme narra a história de uma palestiniana nascida da inseminação do esperma do seu pai, um prisioneiro em Israel, uma medida à qual recorrem dezenas de mulheres palestinas há muitos anos.

No entanto, ela descobre, já adulta, que o esperma utilizado não era do seu pai, mas de um carcereiro israelita, que representa a ocupação.

Nas últimas semanas, a polémica à volta da longa-metragem ficou cada vez mais intensa nas redes sociais, com duras críticas palestinianas.

"Este filme é asqueroso", mas "não será um filme como 'Amira' que nos fará questionar a paternidade dos nossos filhos", escreveu no Facebook a palestiniana Lydia Rimawi, que contou ter gerado três filhos com o esperma do seu marido prisioneiro.

Isso ocorreu graças à ajuda de outros companheiros de cela do seu marido, que conseguiram fazer com que pequenos frascos contendo esperma pudessem passar despercebidos pelo controlo dos soldados israelitas, contou Rimawi.

Outra internauta palestiniana, Reem Jihad, escreveu no Twitter que "Amira" não é mais que um "argumento israelita sem moral, que insulta os prisioneiros palestinianos sem nunca mencionar o sofrimento de centenas de famílias de prisioneiros".

Para o Hamas, o movimento islamista palestiniano que controla a Faixa de Gaza e possui centenas de membros presos em Israel, o filme não é mais que um "serviço prestado ao inimigo sionista".