No passado sábado, na última récita de “Hamlet”, de Shakespeare, no Teatro da Cornucópia, em Lisboa, o ator, de 66 anos, anunciou que tinha sido a última vez que subiu a um palco para representar.
“Hoje foi por certo o último dia em que representei nesta casa que foi a casa desta companhia, a minha, a nossa casa, há 40 anos. Tenho dificuldades concretas de saúde que me não deixam continuar a apresentar-me perante vós e a estar em cena com os outros, que é o que mais gosto de fazer”, afirmou na ocasião o ator e encenador, que manifestou preocupações quanto à continuidade da companhia que fundou há 42 anos, com Jorge Silva Melo.
“Para ajudar à festa, a estrutura que construímos ao longo destes tantos anos, não vemos como, na atual conjuntura, como se costuma dizer, possa ter capacidade de ultrapassar as dificuldades económicas que tem. Não sabemos quanto durará”, disse Luís Miguel Cintra.
À Lusa, fonte da Cornucópia afirmou que esta decisão de Luís Miguel Cintra, “não implica a saída da direção da Cornucópia nem o fim da Cornucópia, implica apenas deixar de ser ator de teatro, pois continuará a ser encenador, ator de cinema, declamador, etc.”.
Luís Miguel Cintra será um dos homenageados no Lisbon & Estoril Film Festival, que decorrerá em novembro entre Lisboa e Cascais.
De acordo com o diretor do festival, Paulo Branco, Luís Miguel Cintra é “o maior ator português, que atravessa tudo o que de mais importante se fez no cinema e no teatro”.
O festival irá exibir alguns filmes nos quais Luís Miguel Cintra participou como ator e algumas filmagens de peças que encenou.
De acordo com o programa, haverá ainda uma sessão em que Luís Miguel Cintra lerá poemas e outros textos.
“O velho do Restelo” (2014) e “O gebo e a sombra” (2012), ambos de Manoel de Oliveira, são dois dos filmes recentes nos quais Luís Miguel Cintra participou.
Este ano, a Academia Portuguesa de Cinema atribuiu-lhe o prémio Sophia de Carreira.
No dia da despedida, Luís Miguel Cintra fez um rasgado elogio ao ator Guilherme Gomes, de 22 anos, que encarnou a personagem “Hamelet”, sobre quem se referiu “como uma novo grande ator”.
“É com uma imensa confiança em ti, e grande alegria que te apresento a estes senhores como um novo grande ator”, disse Cintra.
“Felizmente no momento em que isto me acontece, vejo aparecer a meu lado um caso que considero e não serei o único a ter essa opinião, absolutamente excecional. O que o Guilherme [Gomes] nos deu neste papel dificílimo de Hamlet, o prazer que tive em ajudá-lo a construi-lo, revelaram qualidades de tal modo raras e surpreendentes, de tal maneira se apoderou da interpretação do texto que fomos fazendo, acrescentando-a ensaio a ensaio e de espetáculo em espetáculo com ideias suas, que torna este meu dia de despedida destas tábuas, num dia de festa em que me autorizei a sair da norma”, afirmou o ator e encenador.
Luís Miguel Cintra, entre outras distinções, recebeu em 2006 o Prémio Pessoa, e à frente do Teatro da Cornucópia levou à cena centenas de peças, algumas em estreia absoluta. Em 1997, interpretou no Théâtre de la Commune-Pandora, em Paris, “Sertorius”, de Corneille, com encenação de Brigitte Jaques, e, em 2005, encenou no Teatro de la Abadía, em Madrid, “Comedia sin Título”, de Federico García Lorca.
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