Foi um “Ludwig” inesquecível em "Luís da Baviera", o filme de Luchino Visconti, seu mentor e amante: o ator Helmut Berger morreu na quinta-feira aos 78 anos, após queimar a vida pelas duas pontas, tornando-se ao longo dos anos uma figura do jet set no estilo “sexo, drogas e rock 'n roll".

"Vivi três vidas. E em quatro línguas! Não me arrependo de nada!", disse ele, misturando inglês e francês, recordado pelo seu agente.

O austríaco cuja última aparição no ecrã remonta a "Saint Laurent", de Bertrand Bonello, em 2014, no papel do envelhecido estilista, pelo qual foi aclamado no Festival de Cannes, morreu "pacificamente, mas repentinamente, na sua cidade natal, Salzburgo", na Áustria, "pouco antes de seu 79.º aniversário".

Antes de liderar "la dolce vita durante toda a vida" e sem deixar ninguém indiferente, no ecrã e fora dele, Helmut Berger foi um dos atores favoritos de Visconti, que reparou nele pela sua beleza incandescente e lhe confiou papéis de aristocratas atormentados, que se lhe colaram à pele.

Em "Os Malditos" (1969), sobre a ascensão do nazismo, Helmut Berger disfarça-se de Marlene Dietrich, em "Luís da Baviera" (1973), ele é um sombrio príncipe Luís da Baviera com uma homossexualidade reprimida, que lhe valeu um prémio especial David di Donatello (os Óscares de Itália), ao lado de Romy Schneider interpretando a personagem de Sissi, enquanto em "Violência e Paixão" (1974) é um jovem gigolo.

O encontro entre o maestro Visconti e o austríaco Apollo aconteceu em meados da década de 1960 no set de "Estrelas Vagas de Ursa Sandra", um filme do realizador de 1965 com Claudia Cardinale.

Helmut Berger, então Helmut Steinberger, nascido a 29 de maio de 1944 em Bad Ischl (oeste da Áustria), era empregado de mesa e modelo, entre aulas de representação. Encontrando-se por acaso no set na Itália, ele chamou a atenção de Visconti, que rapidamente o tornou um dos seus atores favoritos.

Como um certo Alain Delon, com quem manteve uma forte inimizade.

Os vícios

Helmut Berger no Festival de Cannes em maio de 2014

"Não gostei de como ele [Delon] se portou com o Luchino, com a [esposa] Nathalie [Delon] e a [namorada] Romy [Schneider]. Por aqui, todos perdoam tudo ao deus da beleza francesa. Mas conheço outras, as belezas: o David de Florença também não é mau", riu Helmut Berger durante uma entrevista ao diário francês Liberation em 2015.

Entre outros papéis, Helmut Berger também filmou sob a direção de Vittorio de Sica em "O Jardim Onde Vivemos" (1970), sobre a ascensão do anti-semitismo na Itália; numa adaptação de "A Vida Íntima de Dorian Gray", de Massimo Dallamano em 1970; ou em "A Inglesa Romântica", de Joseph Losey (1975).

Abertamente bissexual e uma longa lista de envolvimentos (Rudolf Nureyev, Ursula Andress, Britt Ekland, Nathalie Delon, Tab Hunter, Jerry Hall e tanto Bianca como Mick Jagger), após a morte de Visconti em 1976 mergulha no álcool e nas drogas e exatamente um ano depois tenta o suicídio, mas é encontrado a tempo.

Além de uma aparição como o corrupto banqueiro Frederick Keinszig na terceira parte de “O Padrinho” em 1990, e o regresso como o Luís da Baviera no aclamado "Ludwig 1881" (1993), passa a ter poucos papéis importantes no cinema e ocupa as páginas da imprensa pelos problemas com vícios, condenações da justiça e a história das suas noites loucas em Roma, onde reside.

Em 2007, foi premiado com um Teddy (prémio LGBT) por toda a sua carreira no festival de Berlim.

"O favorito de todas as festas do jet-set internacional viveu feliz, satisfeito e bem-disposto em Salzburgo até ao fim", onde tinha voltado a viver, disse o seu agente Helmut Werner no comunicado a anunciar a sua morte.