Jean-Jacques Beineix, o realizador do filme de culto "Betty Blue - 37º,2 de Manhã" (1986), morreu esta quinta-feira aos 75 anos após uma longa luta conta a leucemia, disse à agência France-Presse esta sexta-feira o seu irmão Jean-Claude, bem como a esposa e a filha do cineasta.
O realizador tornou-se conhecido do público graças ao gigantesco sucesso de bilheteira e crítica da sua primeira longa-metragem, "A Diva e os Gangsters" (1981), elogiado e criticado pela sua "estética publicitária", sobre um carteiro obcecado por uma diva de ópera que grava em segredo um dos seus concertos e acaba inadvertidamente com outra gravação a incriminar um polícia e um mafioso.
O filme venceu quatro prémios César (os "Óscares franceses") e está disponível na Netflix, mas Beineix era conhecido por levar muito a peito as críticas negativas e nunca esqueceu que só se tornou um sucesso no seu país após ser consagrado com prémios no estrangeiro.
"Ninguém é profeta na sua própria terra" recordaria o realizador, especialista em manga japonesa que procurou oferecer uma alternativa à "máquina industrial" de Hollywood, muitas vezes criticado por privilegiar o estilo em relação à história.
Seguiu-se "A Lua na Valeta", interpretada por nomes tão conhecidos como Gérard Depardieu e Nastassja Kinski, um fracasso de crítica e de bilheteira.
Beineix também nunca esqueceu as vaias na antestreia no festival de Cannes em 1983: "A dor está lá. O facto de estar acabado hoje começou aí", disse a uma rádio francesa em 2020.
O trabalho pelo qual será mais recordado é "Betty Blue - 37º,2 de Manhã" ("37°2 le matin" no original), a história de amor e loucura baseada no romance homónimo de Philippe Djian.
Um dos grandes clássicos do cinema da década de 1980, com um poster que vendeu milhões de exemplares em todo o mundo (disponível aqui), o trabalho foi nomeado para nove César e ainda ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, revelando Béatrice Dalle, que interpretava a personagem Betty, ao lado de Jean-Hugues Anglade.
Nascido em Paris a 8 de outubro de 1946, Jean-Jacques Beinex começou a estudar Medicina antes de se preparar para a admissão à prestigiada escola de cinema Idhec (agora Femis), que falhou por pouco.
Entre 1964 a 1967, foi assistente do realizador Jean Becker na série televisiva "Les saintes chéries" e posteriormente de Claude Berri e Claude Zidi.
Também trabalhou em publicidade e viria a realizar em 1987 um marcante anúncio "Le Sida Il ne passera pas par moi" ["A Sida Ela não passará por mim"], na primeira campanha governamental de informação sobre a doença. Mais tarde, decidiu deixar essa indústria, explicando que "é bom colocar o seu talento ao serviço das causas" e a publicidade não era isso.
Após "Betty Blue" e acabar por recusar as ofertas de Hollywood, seguiram-se vários filmes, todos fracassos, incluindo "Roselyne e os Leões", de 1989, e "IP5: L'île aux pachydermes" (1992), uma experiência que o deixou traumatizado pela morte do protagonista Yves Montand alguns dias após o fim da rodagem, sentido que alguns o acusavam de ser o culpado pelo desaparecimento de um "tesouro nacional".
Em 2001, após uma ausência de nove anos, regressou com "Transferência Mortal", um completo fracasso de crítica e bilheteira, que destacaria como um trabalho muito pessoal.
O filme era um reencontro com Jean-Hugues Anglade, na pele de um psicanalista que pensava que teria um dia como os outros a ouvir as mesmas histórias e que acabava por adormecer no meio de uma consulta, descobrindo ao despertar que a sua paciente foi assassinada.
Esta seria a última das suas seis longas-metragens, mas fez documentários para a televisão sob a égide da sua produtora, Cargos Films.
Em 2016, foi presidente do júri do 29.º Festival Internacional de Cinema de Tóquio.
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