O cineasta alemão Wolfgang Petersen, conduzido à primeira divisão de Hollywood graças à admiração e impacto pelo seu filme de guerra "Das Boot" em 1981, faleceu na sexta-feira aos 81 anos, vítima de cancro do pâncreas, anunciou a sua empresa de produção.
Wolfgang realizou as primeiras curtas-metragens quando ainda estava na faculdade e a partir da década de 1960 foi assistente de realização e dirigiu muitos curtas, documentários, telefilmes e séries, entre os quais alguns episódios da popular série policial "Tatort".
Em 1974, fez a sua primeira longa-metragem, "Einer von uns beiden", um policial marcado pela sua competência técnica, tal como o radical telefilme "Die Konsequenz", três anos mais tarde, sobre um amor homossexual, que levaram a Bavaria Film, o centro de produções mais importante da Alemanha na época, e um dos mais importantes da Europa, a oferecer-lhe, em 1980, a mega-produção "Das Boot".
Justamente considerado um dos melhores filmes de guerra da história do cinema, "A Odisseia do Submarino 96", como se chamou em Portugal, ficou célebre pelo sua originalidade, tanto pelo tema (a Segunda Guerra Mundial vista pela perspetiva alemã), que procurava contrariar o estereótipo das produções de guerra norte-americanas, nos quais todos os alemães são insensíveis e cruéis, como pela escolha de registo.
De facto, o filme lançado em 1981 passava-se efetivamente dentro de um submarino, visto na sua totalidade, desde a cabine de comando às casas de banho, descrevendo o dia a dia com uma precisão quase documental, transmitindo a sensação de claustrofobia e o medo de não conseguir mais emergir, além das dificuldades da vida de tantos homens enclausurados de faces cansadas e extremadas num espaço demasiado restrito.
O impacto foi reconhecido nas bilheteiras e com vários prémios, além de umas invulgares seis nomeações para os Óscares, incluindo as duas únicas na carreira de Petersen, para Melhor Realização e Argumento Adaptado, lançando-o a ele, o ator Jürgen Prochnow e vários talentos atrás das câmaras para uma carreira internacional (o realizador não esteve ligado à elogiada sequela com o mesmo título em formato televisivo lançada em 2018).
Logo a seguir foi confiado a Petersen um verdadeiro colosso da época, a produção germano-americana "História Interminável" (1984), a produção alemã mais cara desde o fim da guerra, 60 milhões de marcos, que arrecadou muito mais nas bilheteiras e continua a ser um filme que atravessa várias gerações de espetadores.
A partir daqui, o caminho passou por Hollywood, dirigindo em 1985 o seu primeiro trabalho inteiramente americano, "Os Inimigos", um filme de ficção científica com Dennis Quaid e Louis Gossett Jr. sobre a amizade em tempos de guerra galáctica entre um humano e um extra-terrestre alienígena.
Muito respeitado pelos seus colegas e admirado pelos atores por aliar capacidades técnicas e narrativas, por vários géneros (da guerra à fantasia e aventura, da ficção científica ao "thriller" e filmes de ação), após um discreto "Pulsações Explosivas" (1991), com Tom Berenger, Bob Hoskins e Greta Scacchi, o último dos seus trabalhos em que também teve mão no argumento, Petersen lançou-se nas grandes produções tecnicamente mais complexas de Hollywood com grandes estrelas como Clint Eastwood, Harrison Ford, Dustin Hoffman, Morgan Freeman e George Clooney.
Sempre marcado pelas imagens muito impressionantes, este foi o período dos sucessos de "Na Linha de Fogo" (1993), talvez o seu filme americano mais interessante, "Outbreak - Fora de Controlo" (1995), "Força Aérea Um" (1997) e "Tempestade Perfeita" (2000), além de uma elogiada "versão de realizador" do seu clássico "Das Boot" (1997), que o levaram a ser um dos nomes considerados para dirigir o primeiro filme "Harry Potter".
A relativa desilusão nas bilheteiras de "Tróia" (2004) e o grande fracasso comercial de uma nova versão de "Poseidon" (2006) colocaram fim ao seu percurso em Hollywood.
Após uma série de projetos que ficaram pelo caminho, fez um último filme em 2016 que foi um regresso às origens em todos os sentidos: a comédia de ação "Vier gegen die Bank", uma nova versão de um telefilme que dirigira em 1976.
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