O produtor de cinema Paulo Branco considerou hoje que a morte de Bernardo Bertolucci, com quem mantinha uma amizade próxima, “é uma perda enorme para o cinema”, destacando que o realizador italiano trouxe uma “nova linguagem cinematográfica”.
Bernardo Bertolucci, realizador responsável por filmes como “O Último Imperador” e “O Último Tango em Paris” - cujo erotismo chocou o mundo no início da década de 1970 -, morreu hoje, em Roma, aos 77 anos, informaram os meios italianos de comunicação social.
“Era um dos grandes criadores, dos últimos que acompanharam toda a evolução do cinema desde o início dos anos 60, que trouxeram ao cinema uma nova linguagem cinematográfica”, afirmou o produtor português à Lusa.
Apesar disso, foi um realizador que “nunca esqueceu o público”, lembra o produtor, assinalando que Bertolucci “foi daqueles criadores que conseguiu, ao mesmo tempo que era extremamente inventivo, ter uma difusão mundial, inclusivamente nos Estados Unidos”.
Paulo Branco dá como exemplo "O Último Imperador", que se encontra entre os filmes que mais Óscares conseguiu, a par de "West Side Story", "Titanic", "Ben-Hur", "Gigi" e "O Senhor dos Anéis".
Ao mesmo tempo – sublinha – foi alguém que “sempre acompanhou as contradições da história, através de frescos como ‘1900’”, que aliou o cinema à psicanálise, como se verificou em “La Luna”, e que sempre foi “um observador de tudo o que de importante se passava na civilização ocidental”.
Paulo Branco refere também “Little Buddha” [“O Ppequeno Buda”], “um filme sobre outros modos de pensar”, e que contribuiu para a difusão do que era o budismo em termos mundiais, através do cinema.
“Eu creio que foi a primeira vez que isso aconteceu e isto, logicamente, por um realizador ocidental”, destacou.
Para Paulo Branco “o cinema fica mais pobre, muito mais pobre”, e os amigos “perderam alguém com quem aprendiam cada vez que estavam com ele”.
Recorrendo ao seu próprio caso – uma vez que era amigo pessoal do realizador italiano – Paulo Branco recorda que cada vez que se encontrava com ele, “era uma fonte de prazer e de aprendizagem”.
“Sobretudo, [era] alguém que era de uma enorme generosidade e de uma enorme curiosidade: ele sempre queria saber o que estávamos a fazer, que filmes é que fazíamos, que mostrássemos. Sempre acompanhou a obra de colegas, como por exemplo, ele tinha uma enorme admiração por Manoel de Oliveira e muitos outros, e, portanto, estamos órfãos de mais de um grande artista”.
Bertolucci foi homenageado na edição de 2008 do Lisbon & Sintra Film Festival (LEFFEST), dirigido por Paulo Branco, que, no ano passado, exibiu de novo "1900" e "A Tragédia de Um Homem Ridículo".
No último domingo, o festival exibiu "O Conformista", "um incisivo retrato" de um homem atraído pelo fascismo, que deu ao realizador a primeira nomeação para os Óscares e a primeira distinção em Berlim.
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