O cineasta mexicano e vencedor de Óscares Guillermo del Toro recusou esta terça-feira em Cannes fechar as portas às plataformas de streaming para os seus projetos, porque o seu principal dever é "contar histórias".

Del Toro, ganhador de duas estatuetas douradas por "A Forma da Água" (2017), participou num debate com outros grandes nomes da Sétima Arte, como parte da celebração do 75.º aniversário do Festival de Cannes.

"O meu primeiro dever é contar histórias", disse o realizador mexicano, "seja a usar dinheiro de um familiar ou de um fundo de pensões".

"Sempre que fechamos a porta a alguma coisa, perdemos", insistiu.

A palestra contou com a presença, entre outros, do italiano Paolo Sorrentino, do brasileiro Kleber Mendonça e dos franceses Claude Lelouch e Michel Hazanavicius.

O debate abordou especialmente o papel de plataformas como a Netflix, um dos temas polémicos de Cannes, que tem mostrado relutância em selecionar filmes financiados por esses gigantes por não serem lançados nos cinemas.

Para del Toro, o mundo sobreviveu durante a pandemia graças a três coisas: comida, medicina e histórias.

As histórias são uma necessidade de "primeira ordem", concluiu.

O realizador de 57 anos preparou com a Netflix uma adaptação animada de Pinóquio ambientada na Itália fascista de Mussolini. O projeto era idealizado há 15 anos e foi recusado em várias ocasiões até ser aceite pela plataforma, contou o cineasta.

Paolo Sorrentino também considerou que o mais importante é contar histórias, mas talvez não através dessas plataformas.

"Overdose" de possibilidades

Paolo Sorrentino na conferência

O realizador italiano acha que não voltará a trabalhar com a Netflix, após o sucesso de "A Mão de Deus", com o qual participou na Mostra de Veneza no ano passado.

Um filme para a Netflix "não penso que seja algo que farei de novo", avançou.

"Trabalhei com vários meios, fiz filmes para cinema, televisão, mas no final, o que prefiro é fazer filmes como fazia no início", acrescentou o autor de "A Grande Beleza", vencedor do Óscar de Melhor Filme Internacional em 2013.

"Só no grande ecrã grande encontramos todo o poder de uma história", observou.

Segundo ele, nos últimos anos, os realizadores tiveram uma espécie de "overdose" de possibilidades e trabalharam em muitos projetos, muito rapidamente, mas não necessariamente para fazer bons produtos. Foi uma "falsa oportunidade".

Ele também destacou que essas plataformas raramente financiam filmes de jovens talentos, que podem justamente trazer novas formas de filmagem.

O brasileiro Kleber Mendonça, figura frequente no evento em que já competiu várias vezes e no ano passado foi jurado, também defendeu o cinema no grande ecrã.

Ele recordou que a sua geração cresceu com os cinemas e que sempre faz questão de que seus filmes sejam distribuídos nos cinemas. Mas admitiu que, depois de passar por esses ecrãs, "os filmes podem ser vistos de várias maneiras".

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