A caminho dos
Óscares 2023
Os preparativos aproximam-se do fim: a grande noite dos Óscares acontece já esta madrugada em Los Angeles, transmitida pela RTP.
O SAPO preparou uma cobertura especial, que começou logo na manhã com uma série de conteúdos de antevisão e prosseguirá pela madrugada fora (de domingo para segunda-feira) com acompanhamento ao minuto, atualização de todos os vencedores e análise dos principais acontecimentos, da passadeira vermelha até à cerimónia. Tudo isto, numa área especial dedicada ao tema no SAPO Mag e em www.sapo.pt.
As principais atenções da 95.ª cerimónia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas estarão em filmes que vão disputar os principais prémios e as categorias técnicas, a começar por "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, que parte na frente com 11 nomeações, mas também "Top Gun: Maverick", "Elvis", "A Oeste Nada de Novo", "Os Espíritos de Inisherin", "Avatar: O Caminho da Água", "Tár" ou "Babylon".
E, claro, um interesse nacional incontornável: "Ice Merchants", realizado por João Gonzalez e produzido por Bruno Caetano, o primeiro filme português nomeado para um Óscar, na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação.
Óscar para Portugal? Uma “campanha de guerrilha" contra a máquina da Apple
Metáfora poderosa e universal sobre a família, a perda e a reconciliação, a partir de um ponto de partida simples mas graficamente muito arrojado, fazendo pleno uso da vertigem e das perspetivas mais extremas, "Ice Merchants" é uma curta-metragem de 14 minutos, completamente sem diálogos sobre pai e filho que vivem suspensos nas alturas, numa casa presa no alto de um precipício, e trabalham no comércio de gelo, que vendem numa aldeia na planície lá muito em baixo. Como lá chegam? Lançam-se pelos ares, de para-quedas, de forma tão temerária como visualmente espetacular.
Veja o trailer de "Ice Merchants".
A estreia mundial no Festival de Cannes, onde foi premiado com o troféu Leitz Cine Discovery, destinado à melhor curta-metragem a concurso, foi o início de um período recheado de galardões em todo o mundo, que culminou com a nomeação ao Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação.
Desde 21 de janeiro que o realizador João Gonzalez e o produtor Bruno Caetano têm vivido num frenesim de entrevistas, parabenizações e solicitações. A campanha intensificou-se a partir de 13 de fevereiro com a presença no tradicional almoço que junta os nomeados em Los Angeles e ainda mais depois da vitória a 25 de fevereiro em Melhor Curta-Metragem nos Prémios Annie, os mais importantes para o o cinema de animação nos EUA.
Após chegar a este patamar e sobre a possibilidade de conquistarem a seguir o Óscar, que não está nas previsões finais de qualquer imprensa especializada de referência americana, o realizador confessou: “Seria algo absolutamente incrível, mas temos de manter os pés na terra. Acho que nenhum de nós acha que é completamente impossível, mas na corrida há, claramente, um ou dois favoritos que, em termos mediáticos, têm mais projeção que nós”.
A maior concorrência vem do popular “O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo” baseado no célebre livro do mesmo título de Charlie Mackesy, que realizou o filme com Peter Baynton: vencedor de quatro Annie na mesma cerimónia e ainda do BAFTA da Academia Britânica, é o grande favorito, em parte, como notou o The Hollywood Reporter nas suas previsões finais, porque "apesar de ser bastante banal e sem graça", tem a seu favor o impacto do livro, a presença de estrelas no elenco de vozes e na produção (Gabriel Byrne, Idris Elba, Tom Hollander, J. J. Abrams, Woody Harrelson) e... "a Apple gastou uma fortuna para promovê-lo".
Já "Ice Merchants" tem na equipa de promoção exatamente quatro pessoas, duas delas os próprios Gonzalez e Caeteno, com Benoit Berthe Siward e Celine Ufenast, da Animation Showcase, que criaram a estratégia até ao fim da votação às 17h00 de terça-feira.
À Lusa, o produtor descreveu uma “campanha de guerrilha” para promover a obra portuguesa: “É lógico que gostaríamos de ter cartazes nas paragens de autocarro e ‘outdoors’ em Los Angeles, mas quando um ‘outdoor’ o mínimo são 15 mil dólares, nós não temos maneira nenhuma”.
Ou seja, apostou-se em mais entrevistas a meios importantes nos EUA, eventos de exibição e investimento em publicidade direcionada ‘online’ direcionados às cidades onde há maior concentração de membros da Academia, de forma a maximizar o alcance da curta-metragem, com um posto de operação no próprio apartamento onde estão hospedados Gonzalez e Caetano.
Em Los Angeles, o realizador descobriu o que é estar na corrida aos Óscares: “O que me surpreendeu muito pela positiva foi entrar em contacto direto não só com celebridades, mas com membros da Academia e através das conversas perceber que eles realmente tinham visto o filme. As pessoas conheciam e algumas estavam interessadas em falar connosco”.
“Surreal” é como descreveu a experiência de estar na meca do cinema como nomeado: "É um mundo mais caótico do que o que estamos à espera, mas toca-nos muito saber que numa cidade tão grande, mesmo com os nossos recursos limitados, o filme está a chegar às pessoas”.
Melhor Filme: está tudo decidido?
Para alegria dos produtores da cerimónia e certamente dos responsáveis da Academia e do canal ABC, pela primeira vez em vários anos a corrida a Melhor Filme equilibra grandes produções e sucessos de bilheteira (os chamados "blockbusters") como "Top Gun: Maverick" (6 nomeações ao todo) e "Avatar: O Caminho da Água" (4), que são os recordistas comerciais de 2022 (que não acontecia desde as nomeações para "E.T" e "Tootsie" em 1982), com títulos de prestígio como "Os Espíritos de Inisherin" (9), "Os Fabelmans" (7), "Tár" (6) e "A Voz das Mulheres" (2).
Outro sucesso é "Elvis", com oito nomeações, uma delas para a diretora de fotografia Mandy Walker, apenas a terceira mulher nomeada na categoria em 95 anos.
Num forte sinal do poder cada vez maior do contingente de votantes internacionais, foram ainda nomeados para Melhor Filme o alemão "A Oeste Nada de Novo" (9), a nomeação de honra para as plataformas de streaming e para a própria Netflix, que viu outras apostas mais mediáticas ficarem pelo caminho, e o sueco (mas grande parte falado em inglês) "Triângulo da Tristeza" (3), vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes.
ONDE PODEMOS VER OS PRINCIPAIS FILMES NOMEADOS.
O grande favorito é "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", um fenómeno da primeira metade de 2022 junto dos críticos e nas bilheteiras ao seu nível (com um orçamento de 25 milhões de dólares, as receitas chegaram aos 100 milhões).
São 11 as nomeações para a comédia do absurdo centrada na dona de uma lavandaria a passar por uma auditoria das Finanças que é absorvida por uma batalha interdimensional e descobre um multiverso com milhares de versões suas: Melhor Filme, Realização (Daniel Kwan & Daniel Scheinert), Atriz (Michelle Yeoh), Ator Secundário (Ke Huy Quan, conhecido ator infantil de "Indiana Jones e o Templo Perdido" e "Os Goonies"), Atrizes Secundárias (Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu), Argumento Original, Montagem, Guarda-Roupa, Banda Sonora e Canção.
Tudo joga a seu favor: a produção independente conquistou os principais sindicatos profissionais (produtores, realizadores, atores e argumentistas), o que não se via há dez anos e apenas aconteceu mais quatro vezes desde que todos atribuem prémios, que chegaram a Melhor Filme: "Beleza Americana", "Este País Não É Para Velhos", "Quem Quer Ser Bilionário?" e "Argo". Em todos esses eventos, foi notório o entusiasmo da comunidade artística com a celebração do filme, que se repetiu na última grande cerimónia antes dos Óscares, em plena votação, quando ganhou sete prémios nos Independent Spirit Awards (um recorde).
No mesmo sentido deverá ir Melhor Realização: Steven Spielberg ainda chegou a ser visto como um favorito sentimental com "Os Fabelmans", mas isso foi perdendo impacto com o avançar das semanas: a estatueta também deve ir para Daniel Kwan e Daniel Scheinert, conhecidos como os "Daniels", fortalecidos pelo prémio do sindicato dos realizadores, que só não coincidiu com os Óscares oito vezes em 74 anos.
O facto de o filme não ter perdido o ímpeto até chegar à liderança dos Óscares e as outras nomeações "internacionais" são um sinal de como a Academia mudou bastante nos últimos anos, ao integrar pessoas fora da "bolha" de Los Angeles e Nova Iorque, com origens e experiências de cinema mais diversificadas de todo o mundo, reduzindo o domínio do votante com um perfil muito "branco", americano e conservador.
Mas ter quase dez mil votantes e mais internacionais tem um reverso da medalha: os precedentes históricos e vitórias ao longo da temporada já não têm o peso de outros tempos.
Alguns analistas sugerem que "Tudo em Todo o Lado..." pode ser demasiado extravagante para os gostos dos votantes mais velhos e ser prejudicado pela votação por boletim preferencial: os filmes nomeados devem ser ordenados do melhor para o "menos bom" e vão sendo eliminados os que recebem menos votos para o primeiro lugar, com esses boletins a serem redistribuídos pelos filmes que estiverem em segundo lugar, repetindo-se este passo até se chegar a um que tenha mais de 50% dos votos.
Apesar de o sindicato dos produtores ter o mesmo sistema e o vencedor ter sido o mesmo dos outros sindicatos, se essa teoria for verdade, a maior ameaça será "Top Gun: Maverick", o filme que arrecadou 1,5 mil milhões de dólares nas bilheteiras e que também deverá ter ficado em posição elevada no ranking de muitos boletins. E são muitos os que pensam aquilo que Spielberg disse a Tom Cruise no almoço dos nomeado num vídeo que se tornou viral: "Salvaste o coiro de Hollywood. E és capaz de ter salvado a distribuição [de filmes] em sala. A sério. 'Maverick' pode ter salvado toda a indústria de distribuição em sala".
Outra surpresa pode vir de "A Oeste Nada de Novo", a produção alemã que dominou os prémios BAFTA da Academia Britânica e não foi "testada" nos prémios dos sindicatos americanos: não se sabe se o setor anti-streaming dentro da Academia ainda é relevante depois da vitória histórica de "CODA" (da Amazon) no ano passado, mas as nove nomeações, muitas em categorias técnicas, revelam um grande apoio dentro de Hollywood.
Seguindo a tendência dos últimos anos, é improvável que o vencedor do Melhor Filme acumule muitas estatuetas ao vencedor: o último "papa-Óscares" foi "Quem Quer Ser Bilionário?" (2008), com oito estatuetas, e o único que se aproximou a seguir foi "Estado de Guerra" (2009), com seis. A média tem variado entre três (como "Green Book", "Nomadland" e "CODA") e quatro prémios (os casos de "A Forma da Água" e "Parasitas").
Nos atores, só um vencedor antecipado?
Nas categorias de interpretação, os votantes da Academia causaram polémica com algumas omissões (principalmente Viola Davis com "A Mulher Rei" e Danielle Deadwyler com "Justiça para Emmett Till"), mas deram um grande sinal de renovação: 16 dos 20 atores receberam a primeira nomeação nas suas carreiras; e dos quatro repetentes, dois não eram nomeados há décadas.
Além disso, se no ano passado existiam três favoritos arrasadores em quatro possíveis nas categorias de interpretação, este ano é o inverso: o único nessa posição é Ke Huy Quan em Melhor Ator Secundário, que ganhou praticamente todos os prémios da temporada com exceção da surpresa no BAFTA, que foi para Barry Keoghan ("Os Espíritos de Inisherin"). Ninguém aposta que isso volte agora a repetir-se, nem dos outros nomeados Brian Tyree Henry ("Causeway"), Brendan Gleeson ("Os Espíritos...") ou Judd Hirsh ("Os Fabelmans").
Aqui também entra o impacto dos discursos que fez noutros eventos e a "narrativa" ligada à respetiva carreira, que pesam a sério na altura de votar: teve grande sucesso na infância como o Short Round em "Indiana Jones e o Templo Perdido" (1984) e o Data em "Os Goonies" (1985), mas desanimado com a falta de projetos para atores de origem asiática, fez a transição para a produção atrás das câmaras até decidir voltar a tentar a sua sorte, inspirado pelo sucesso de "Asiáticos Doidos e Ricos" (2018). Duas semanas depois de arranjar um agente, fez testes para o filme que agora o coloca na ante-câmara das estatuetas douradas.
A narrativa também favorece a sua colega Michelle Yeoh para Melhor Atriz, a primeira que se "identifica" como asiática na categoria (e tem impacto que a primeira, Merle Oberon em 1935, tenha escondido a sua origem racial por medo de discriminação) e a fazer uma estreia após uma carreira com mais de 40 anos onde faltaram merecidas nomeações por "O Tigre e o Dragão" e precisamente "Asiáticos Doidos e Ricos".
Apesar de tudo isso e a vitória nos prémios do sindicato dos atores, tem uma formidável concorrente não em Ana de Armas ("Blonde"), Andrea Riseborough ("Para Leslie") ou Michelle Williams ("Os Fabelmans"), mas em Cate Blanchett, que mesmo após duas estatuetas, tem o que muitos consideram ser a melhor interpretação da carreira e de 2022 em "Tár".
Além de um impressionante trabalho de transfiguração em "A Baleia", também Brendan Fraser tem uma narrativa de carreira na sua corrida para Melhor Ator, que até recebeu o nome de "Brendanaissance", o termo cunhado pelos seus fãs nas redes sociais para descrever o seu "regresso" e a afeição por alguém com a reputação de ser uma das estrelas mais simpáticas e acessíveis, e quase desapareceu durante uma década de Hollywood após o sucesso nas décadas de 1990 e 2000 em "George - O Rei da Selva" (1997), na saga "A Múmia" (1999-2008) e mais alguns filmes.
Fraser também ganhou o prémio do sindicato dos atores, que lhe deu um ligeiro ascendente no favoritismo, mas esta categoria tem sido partilhada durante estas semanas com Austin Butler, que ganhou o BAFTA, fez uma campanha intensa e beneficia de "Elvis" estar na corrida a Melhor Filme e da atração dos Óscares pela interpretação de pessoas que existiram: nele apostam as previsões finais da Variety, The Hollywood Reporter, Deadline Hollywood e The Wrap. E no entanto, se poucos acreditam nas hipóteses de Paul Mescal ("Aftersun") ou Bill Nighy ("Viver"), há quem aposte que esta corrida continua a ser a três, com Colin Farrell ("Os Espíritos de Inisherin").
A categoria mais difícil de fazer uma previsão acabou por ser Melhor Atriz Secundária, onde tudo parecia encaminhado depois da vitória nos Globo de Ouro e nos Critics Choice Awards para Angela Bassett receber em parte uma espécie de prémio de carreira com "Black Panther: Wakanda Para Sempre" (a primeira nomeação de interpretação num filme da Marvel), 29 anos depois de ter estado na corrida para Melhor Atriz pela interpretação de Tina Turner em "What’s Love Got to Do With It?" (1993).
Só que essa teoria foi testada e descartada quando chegaram os prémios da indústria, que podem ter relutância em premiar a interpretação num filme da Marvel: o BAFTA foi para Kerry Condon ("Os Espíritos...") e a seguir Jamie Lee Curtis ("Tudo em Todo o Lado...") foi uma premiada muito aplaudida na cerimónia do sindicato dos atores, mesmo estando na corrida, tal como nos Óscares, a colega Stephanie Hsu. Ainda com Hong Chau ("A Baleia") na categoria, está aqui um grande mistério que só será mesmo esclarecido na cerimónia.
E muitas corridas competitivas noutras categorias...
Com o ascendente das últimas semanas, "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" parece ter garantido o Óscar de Melhor Argumento Original, depois de ter dividido o favoritismo nas primeiras semanas após o anúncio das nomeações com "Os Espíritos de Inisherin".
Para Argumento Adaptado e apesar de se falar em "A Oeste Nada de Novo" ou no Nobel da Literatura Kazuo Ishiguro pela trabalho com o seu próprio romance "Viver", o consenso chama-se "A Voz das Mulheres", que só tem duas nomeações: seria um prémio para Sarah Polley, que não foi nomeada para Melhor Realização e é a única cineasta mulher representada na corrida para Melhor Filme.
Com nove nomeações, incluindo Melhor Filme, "A Oeste Nada de Novo" é o vencedor "antecipado" em Melhor Filme Internacional (nunca perdeu aqui nenhum filme que estivesse nomeado nas duas categorias), com a expectativa de juntar estatuetas técnicas, principalmente Fotografia e Banda Sonora, embora para a segunda tenham surgido em muitas conversas com votantes publicadas pela imprensa especializada John Williams (“Os Fabelmans") e Carter Burwell (“Os Espíritos de Inisherin”) .
Também antecipado parece ser o primeiro Óscar para uma plataforma de streaming em Melhor Longa-Metragem de Animação, para "Pinóquio de Guillermo del Toro", da Netflix, apesar da grande admiração que existe pelos outros nomeados “O Monstro Marinho”, “Turning Red – Estranhamente Vermelho”, “O Gato das Botas: O Último Desejo” e principalmente “Marcel the Shell with Shoes On”, da A24, um caso invulgar de sucesso, feito com um micro-orçamento mas tendo conquistado praticamente todos os que o viram.
Misteriosamente fora das nomeações para Melhor Fotografia, que quase todos achavam que até ia ganhar, parece improvável que "Top Gun: Maverick" fique sem nada, embora tenha competição nas categorias onde agora parece ser o favorito: Montagem com "Tudo em Todo o Lado..." e Som também com esse filme e ainda "Elvis".
Efetivamente, "Elvis" pode ser um dos filmes a sair com mais prémios da noite: além das hipóteses para Austin Butler e no Som, pode ser irresistível distinguir Mandy Walker como a primeira mulher em 95 anos a ganhar Fotografia e há uma disputa taco a taco em Guarda-Roupa com "Black Panther: Wakanda Para Sempre" (Ruth E. Carter já ganhou com o primeiro filme), Caracterização com "A Baleia" e Direção Artística com "Babylon" (que, por sua vez, pode ter hipóteses em Banda Sonora; o seu autor, Justin Hurwitz, já ganhou duas vezes, na mesma categoria e em Canção com "La La Land").
"Navalny" terá um ligeiro favoritismo sobre "Vulcão: Uma História de Amor" e "Toda a Beleza e a Carnificina" para Melhor Documentário, enquanto Efeitos Visuais parece ser consensual que será a única vitória para "Avatar: O Caminho da Água".
Apesar da presença mediática de Rihanna a representar "Lift Me Up", de "Black Panther: Wakanda Para Sempre" ou Lady Gaga com "Hold My Hand", de "Top Gun: Maverick", o favoritismo em Melhor Canção ainda parece inclinar-se para "Naatu Naatu", do fenómeno de popularidade que é o épico "RRR: Revolta, Rebelião, Revolução", o primeiro tema nomeado de um filme indiano. Depois dos relatos de pessoas a dançarem nas salas de cinema (nos EUA), aposta-se aqui num grande momento musical da cerimónia.
Vale ainda prestar atenção à categoria de Melhor Curta-Metragem de Imagem Real: a vitória de "Le Pupille" seria o primeiro Óscar para a aclamada cineasta italiana Alice Rohrwacher e mais um para a conta do seu produtor, que se chama Alfonso Cuarón.
Um "incómodo" com o nome de Andrea Riseboroug...
Óscares sem controvérsia não são Óscares. E apesar de algum "burburinho" com a ausência de mulheres na categoria de Melhor Realização, o choque foi com a maior surpresa no anúncio dos nomeados a 24 de janeiro: a presença de britânica Andrea Riseborough na corrida para Melhor Atriz por "Para Leslie".
Sem ser uma estrela, mas com uma carreira de respeito de duas décadas em cinema, TV e teatro, a atriz de 41 anos foi muito elogiada pela sua atuação de uma mãe que ganha na lotaria no Texas mas acaba por perder tudo e entregar-se ao alcoolismo, mas o filme tinha arrecadado pouco mais de 27 mil dólares nas bilheteiras durante um breve lançamento em outubro do ano passado e não foi amplamente promovido, elementos considerados essenciais para se destacar diante da Academia.
A nomeação confirmou o impacto de uma campanha centrada essencialmente no passar a palavra sobre o filme a a interpretação centrada no ramo dos atores da Academia: Gwyneth Paltrow, Edward Norton, Jennifer Aniston, Frances Fisher, Susan Sarandon, Amy Adams, Jane Fonda, Sally Field, Liam Neeson, Laura Dern, Catherine Keener, Geena Davis, Mira Sorvino, Rosie O’Donnell, Alan Cumming e Zooey Deschanel foram alguns dos que elogiaram publicamente o filme e a atriz nas redes sociais. Outros foram ainda mais longe, surgindo no papel de anfitriões de sessões especiais de visionamento, e até a futura própria concorrente Cate Blanchett destacou a colega no seu discurso ao aceitar o prémio de Melhor Atriz nos Critics’ Choice Awards.
Se inicialmente houve elogios para uma campanha que conseguiu ter sucesso num sistema que favorece as distribuidoras dos filmes que investem milhões de dólares em marketing, firmas e estrategas dos prémios, o debate ganhou a seguir um inquietante tom racial com acusações a um movimento de atores famosos "brancos" a apoiar outra atriz "branca" que "empurrou" para fora da corrida as atrizes "negras" Viola Davis por "A Mulher Rei" e Danielle Deadwyler por "Justiça para Emmett Till", que eram dadas como presenças garantidas.
O incómodo chegou à Academia, que anunciou dias depois uma investigação que revelou que, sem justificar a rescisão da nomeação, algumas das táticas usadas na promoção do filme causaram "preocupação" e "foram discutidas diretamente com as partes envolvidas", segundo um comunicado oficial a 31 de janeiro.
Após a polémica, Andrea Risebourogh só foi vista na cerimónia dos Independent Spirit Awards a 4 de março, onde estava nomeada, e deu uma entrevista à The Hollywood Reporter, medindo bem as palavras: a revista notou que preferiu responder posteriormente por email a perguntas sobre a campanha ou o debate sobre raça e privilégio.
"Não só faz sentido que se desencadeie esse debate, como é necessário. A indústria cinematográfica é terrivelmente desigual em termos de oportunidades. Estou atenta para não falar pela experiência de outras pessoas porque elas estão em melhor posição para falar e quero ouvir", disse por escrito sobre o debate à volta da sua nomeação:
Sem ser por escrito, Riseborough apontou outra desigualdade com que muitos podem concordar: "A campanha de prémios é tão exclusiva como sempre foi. Ainda não sei quais as medidas que poderão encorajar melhor a meritocracia. Tenho tentado descobri-las e continuarei a fazê-lo".
Como será a cerimónia?
Após duas cerimónias memoráveis pelas piores razões — a "socialmente distante" na Union Station de 2021 que bateu o mínimo histórico nas audiências e a do ano a seguir onde praticamente tudo foi ofuscado pela bofetada de Will Smith ao apresentador Chris Rock —, a aposta da Academia e do canal ABC foi na experiência para recuperar o brilho e trazer de volta os espectadores ao maior evento de Hollywood.
Para isso, a organização da cerimónia foi confiada a dois veteranos da televisão, Glenn Weiss e Ricky Kirshner: entre os dois há mais de 20 anos de experiência em produção e realização de Óscares, Emmy (os prémios da TV americana), Tony (distinguem as produções teatrais da Broadway), espetáculos do intervalo do Super Bowl, convenções políticas, cerimónias da tomada de posse do presidente dos EUA e muito mais.
Após a tripla aposta em Amy Schumer, Wanda Sykes e Regina Hall, não se arrisca no anfitrião: Jimmy Kimmel, o popular apresentador do talk show com o seu nome no mesmo canal, ocupará a função pela terceira vez, após 2017 (o ano da famosa confusão de envelopes para Melhor Filme entre "La La Land" e "Moonlight") e 2018.
A principal tarefa do todos será a de recuperar as audiências: para se ter uma ideia clara da rápida erosão, a última cerimónia apresentada por Kimmel chegou aos 26.5 milhões nos EUA, enquanto a de de 2022 foi vista em média por 16,6 milhões, o que até foi uma recuperação em relação ao mínimo histórico de 10,4 milhões da edição na estação de comboios de Los Angeles.
Para atrair o público, estão confirmados como apresentadores, numa lista por ordem alfabética, Riz Ahmed, Halle Bailey, Antonio Banderas, Elizabeth Banks, Halle Berry, Emily Blunt, John Cho, Glenn Close, Jennifer Connelly, Paul Dano, Cara Delevingne, Harrison Ford, Andrew Garfield, Hugh Grant, Danai Gurira, Salma Hayek, Kate Hudson, Samuel L. Jackson, Dwayne Johnson, Michael B. Jordan, Mindy Kaling, Nicole Kidman, Eva Longoria, Julia Louis-Dreyfus, Andie MacDowell, Jonathan Majors, Melissa McCarthy, Janelle Monáe, Elizabeth Olsen, Deepika Padukone, Pedro Pascal, Florence Pugh, Questlove, Zoe Saldaña, John Travolta, Sigourney Weaver e Donnie Yen.
A eles, juntam-se três dos quatro mais recentes vencedores dos Óscares de interpretação que não foram suspensos durante dez anos pela Academia: Jessica Chastain (Melhor Atriz), Ariana DeBose (Atriz Secundária) e Troy Kotsur (Ator Secundário).
O evento promete ser o regresso à "normalidade" pela primeira vez desde 2020, sem máscaras, limites de lotação e o regresso da plateia, depois das mesas onde os nomeados se sentaram frente ao palco no ano passado, removendo centenas de lugares.
As 23 categorias também voltam a ser apresentadas ao vivo, não se repetindo a "experiência" de entregar oito prémios uma hora antes e apresentar uma versão editada durante a cerimónia, uma tentativa de não ultrapassar as três horas de duração que revoltou amplos setores da Academia por dividir os profissionais entre artistas de primeira e segunda classe, e se revelou um falhanço: com três horas e quarenta minutos, foi uma das mais longas de sempre.
Em entrevistas de promoção, os produtores não falam em três horas, mas prometem tornar o evento televisivo "outra vez sobre os filmes" e "o que amamos nos filmes", uma "experiência imersiva" na sala que também terá impacto nas casas dos espectadores, onde o tempo "passará a correr" depois de um número de abertura mantido em segredo "a não perder".
Nas atrações musicais, está confirmada a atuação de Lenny Kravitz para acompanhar o segmento de homenagem aos profissionais do cinema falecidos desde a última cerimónia, e a interpretação de quatro das cinco canções nomeadas, com destaque para Rihanna com "Lift Me Up" de "Black Panther: Wakanda Para Sempre"; Rahul Sipligunj e Kaala Bhairava para "Naatu Naatu", do grande fenómeno que é o filme indiano "RRR"; e David Byrne, Son Lux e Stephanie Hsu para "This Is a Life", de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo".
Já Lady Gaga não vai interpretar "Hold My Hand", a canção que está nomeada do filme "Top Gun: Maverick": a referência à canção ficará apenas por excertos de imagens do filme, já que, após semanas de especulação, Glenn Weiss confirmou na quarta-feira à noite que a artista informou a organização que tenciona ir à cerimónia, mas apenas como nomeada, já que não teve tempo para preparar um número para acompanhar o tema por causa da rodagem de "Joker: Folie à Deux", onde interpreta Harley Quinn frente a Joaquin Phoenix.
Terá sido aqui a grande contrariedade para os produtores: Lady Gaga atuou três vezes nos Óscares, sempre com números elaborados que se tornaram marcantes: em 2015 para uma homenagem a "Música no Coração"; em 2016 com a canção nomeada "Til It Happens to You", do documentário "The Hunting Ground"; e em 2020, num momento inesquecível na história dos Óscares ao lado de Bradley Cooper, com "Shallow", de "Assim Nasce Uma Estrela", que lhe valeu a conquista da estatueta dourada.
Seja como for, os produtores reconhecem que têm muitos trunfos a seu favor para preparar uma grande noite de Óscares, desde a existência de "muitas corridas competitivas" à presença para Melhor Filme de "blockbusters" que foram sucesso de bilheteira e conhecidos do grande público, como "Top Gun: Maverick", "Avatar: O Caminho da Água", "Black Panther: Wakanda Para Sempre", Elvis" e "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo".
"Os deuses dos prémios sorriram para nós. Não há nada que possamos fazer sobre isso", brincou Glenn Weiss durante o almoço em fevereiro que juntou muitos dos nomeados.
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