O filme “não é a ‘Peregrinação’ de Fernão Mendes Pinto”, mas é uma parte, “como se fosse uma introdução à leitura” da obra, disse o realizador à Lusa, em abril, mês em que começaram as filmagens.
“Peregrinação”, impresso pela primeira vez em 1614, é um relato da presença dos portugueses no Oriente e uma crónica de viagens de duas décadas de vivência de Fernão Mendes Pinto.
O realizador recordou que, regressado do Oriente, Fernão Mendes Pinto “tentou tudo para conseguir dinheiro na corte portuguesa, mas não conseguiu”. “E, de repente, desata a escrever um livro alucinado e alucinante, uma viagem incrível que tem muita fantasia e muita exageração, mas também tem muita verdade”, referiu.
As aventuras passam-se no Oriente e, apesar de grande parte das filmagens serem feitas em Portugal, no ecrã será como se tudo tivesse sido registado do outro lado do mundo.
João Botelho e uma equipa reduzida (produtor, diretor de fotografia e um assistente) estiveram no verão do ano passado “a filmar todos os fundos” em sete cidades chinesas, no Japão, na Malásia e no Vietname.
Além dos fundos, a equipa fez “quatro documentários sobre os locais do Fernão Mendes Pinto como estão hoje”.
Em Portugal, João Botelho filmou na Quinta da Ribafria, em Sintra, em Vila do Conde, no Arsenal do Alfeite, em Almada, no cais palafítico da Carrasqueira, na Comporta, e noutros locais de Sintra.
O filme é protagonizado por Cláudio da Silva, que, além de Fernão Mendes Pinto, veste ainda a pele de António Faria, “um corsário terrível que decapita, viola, rouba, tudo em nome de deus”.
“Aquilino Ribeiro [que escreveu uma adaptação de ‘Peregrinação’] diz que [Fernão Mendes Pinto] inventou um heterónimo, o António Faria, que existiu mesmo. Mas [Fernão] pôs-se fora do livro e assiste à barbárie do António Faria”, afirmou o realizador.
Além das personagens do livro, o realizador inventou uma outra, “uma espécie de Sancho Pança [personagem do livro ‘Don Quixote de la Mancha’, de Miguel de Cervantes], que é um intérprete, um malaio que sabe as línguas todas”.
Do elenco fazem também parte, entre outros, Catarina Wallenstein, Pedro Inês, Maya Booth, Cassiano Carneiro, Rui Morisson, Jani Zhao e Zia Soares.
O filme inclui “Por este rio acima”, “obra notável” do músico Fausto. “Os textos são todos do Fernão Mendes Pinto, que ele escreveu em poesia e musicou com música popular. [No filme] há um coro que distancia as coisas, que de vez em quando canta a desgraça e a alegria”, contou.
Aos 68 anos, João Botelho considera ter “o dever de pegar em textos importantes na Cultura e na Literatura portuguesas”.
Esse trabalho começou em 2001, com uma adaptação de “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett, seguiu-se “A Corte do Norte” (2009), de Agustina Bessa-Luís, “Livro do Desassossego” (2010), de Fernando Pessoa, e “Os Maias” (2014), de Eça de Queirós.
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