Aos 84 anos, Woody Allen é um realizador lendário, mas a reputação é acompanhada das acusações de alegadamente ter abusado da filha adoptiva Dylan Farrow em 1992.

Apesar dos processos terem sido arquivados depois de duas investigações em separado, a sua imagem deteriorou-se, principalmente nos EUA, quando Dylan renovou as acusações no início de 2018, após o movimento #MeToo.

Entre as consequências estão o fim prematuro de um contrato com a Amazon, que vai seguir para tribunal, e o seu novo filme, a comédia romântica "Um Dia de Chuva em Nova Iorque", chegar este mês a vários países (dia 24 em Portugal), mas não aos Estados Unidos.

Numa entrevista ao El País, o realizador falou sobre cinema, vida, morte, fracasso, sexo, nostalgia, Bergman, Shakespeare e até de Donald Trump, mas ficou em silêncio quando, apesar dos avisos da sua agente, foi interrogado sobre a controvérsia.

No entanto, a resposta sobre o que pensava de palavras como “posteridade”, “legado”, “marca” e “memória”, a propósito da carreira, deixa subtendida a despreocupação com o que as pessoas vão pensar de si após morrer.

"Não me interessa o meu legado, não me interessa o que farão com os meus filmes quando já não estiver, podem atirá-los ao mar. Uma vez que estamos mortos, estamos mortos. Acabou-se. Acha que, quando tiver fechado os olhos, me importarei se as pessoas vêem os meus filmes ou não?", esclareceu.

"Sei que há pessoas que realmente se importam com a posteridade. Não quero saber. E tenho a certaza que o mesmo acontecia com Shakespeare", acrescentou.

Prestes a terminar a rodagem de novo projeto ("Rifkin’s Festival"), Woody Allen insiste que irá continuar: "Nunca fico entediado! Faço os filmes porque há pessoas que pagam por eles, que financiam. E sempre que houver gente disposta a financiar-me, farei filmes. E quando me disserem que são terríveis e que já não me financiarão, dedicar-me-ei a escrever só peças de teatro. E se não der certo, escreverei livros."