"Roma" pode romper no domingo uma tradição na cerimónia dos Óscares: nunca uma produção num idioma diferente do inglês venceu o maior premio da noite, o de melhor filme.

O drama autobiográfico do mexicano e já vencedor do Óscar (por "Gravidade") Alfonso Cuarón é um dos favoritos, mas os prémios dos sindicatos da indústria, que servem como termómetro, não coincidiram e os analistas afirmam que a corrida está em aberto.

O filme, que já venceu diversos prémios, lidera as sondagens ao lado de "Green Book", ambientado no período de segregação racial no sul dos Estados Unidos na década de 1960.

A revista Rolling Stone e os "sites" especializados Gold Derby e IMDB apontam o favoritismo para o filme de Cuarón.

Neste caso, um filme independente, feito no México e por mexicanos, filmado a preto e branco e falado em castelhano e num dialeto indígena, mudaria para sempre a história dos prémios.

"Roma", que chega à cerimónia com 10 nomeações, conta a história das duas mulheres que marcaram a infância de Cuarón: a sua mãe, durante o processo de separação do marido, e uma jovem empregada doméstica de origem indígena, grávida após as suas primeiras experiências sexuais.

Através das duas personagens - interpretadas pelas nomeadas Marina de Tavira e Yalitza Aparicio respetivamente -, o filme apresenta um panorama profundo dos conflitos e hierarquias sociais do turbulento México dos anos 1970.

Colocar um travão à Netflix

Brian Lowry, da CNN, escreveu que "Green Book" será escolhido como o Melhor Filme, mas que "Roma" deveria ser o vencedor do prémio.

"Deixou uma impressão mais profunda que praticamente qualquer outra coisa este ano, mas joga contra ser uma produção estrangeira e distribuída pela Netflix", salientou.

A gigante plataforma de streaming, que disputa pela primeira vez as principais categorias dos Óscares, é criticada pelos estúdios tradicionais por privilegiar a distribuição na internet, com exibições muito limitadas nas salas de cinema.

"'Roma' poderia estar à frente sem ter importância quem é a distribuidora", afirmou à AFP Peter Debruge, crítico da revista Variety.

"Mas a Netflix foi a empresa que apostou, que arriscou com este filme", recordou.

Outros apostam em "Green Book", que venceu o Globo de Ouro e o muito importante prémio do sindicato dos produtores, por ser um filme "mais agradável" e que pode colocar um travão, justamente, ao avanço da Netflix na indústria.

O filme acompanha a amizade entre o famoso pianista negro Donald Shirley e o seu motorista branco Tony 'Lip', estabelecida durante uma viagem pelo sul dos Estados Unidos em plena época da segregação.

"Algumas pessoas descreveram-no como 'um filme de brancos'", disse à AFP Tim Gray, também da Variety, em relação às críticas da família de Shirley.

"Mas o filme nunca teve a intenção de explorar relações raciais, é um filme sobre a amizade de um par estranho, como em 'Arma Mortífera' ou '48 Horas'", defendeu.

A péssima recordação de Branca de Neve

Na disputa pela estatueta de Melhor Ator a interpretação de Rami Malek como Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody" parece ter mais hipóteses do que a transformação de Christian Bale em "Vice".

"Com Rami Malek, vemos um papel que realmente se conectou com o público. Não ficaria surpreso com a sua vitória", afirma Debruge.

Glenn Close é a favorita para vencer a categoria de Melhor Atriz pelo seu papel em "A Mulher". A categoria também tem entre as nomeadas Yalitza Aparicio, a protagonista de "Roma", uma professora sem nenhuma experiência anterior de representação, e a estrela pop Lady Gaga ("Assim Nasce uma Estrela").

Regina King ("Se Esta Rua Falasse") e Mahershala Ali ("Green Book") são considerados os prováveis vencedores nas categorias secundárias.

A organização desta cerimónia dos Óscares enfrentou diversos fiascos, que incluem ideias como a criação de uma ambígua categoria de "filme popular" ou o anúncio de categorias importantes durante os intervalos, ambas abortadas após fortes críticas.

A cerimónia não terá um apresentador pela primeira vez em 30 anos, após o comediante Kevin Hart desistir da função por recusar-se a pedir desculpas por mensagens homofóbicas que publicou há vários anos.

A última cerimónia sem apresentador, em 1989, é recordada pelo desastroso dueto musical entre Rob Lowe e a personagem Branca de Neve durante a abertura.

O SAPO Mag vai acompanhar ao minuto todos os acontecimentos da noite, da red carpet à cerimónia. Fique acordado connosco pela madrugada dentro.

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