Com “Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões”, que estreia esta semana em Portugal, uma história acessível, repleta de emoção e a tocar em pontos pouco conhecidos da sociedade japonesa, Hirokazu Kore-eda, um dos mais prestigiados realizadores do seu país, venceu a distinção máxima na última edição do Festival de Cannes
O filme foi um enorme sucesso de público no Japão e quase três milhões de espectadores foram vê-lo só no primeiro mês de exibição.
Ainda assim, muita polémica cercou a obra e incluiu a recusa do cineasta em receber as congratulações pelo prémio por parte do governo nipónico.
“Shoplifters” começa num supermercado, mostrando um homem (Lily Franky) e um menino (Jyo Kairu) parceiros na “arte” de roubar em lojas. Mais tarde, eles recolherão da rua uma menina (Sasaki Miyu) maltratada pelos pais.
Na sua casa ainda encontram-se a “matriarca” (Kiki Kilin) e mais duas mulheres adultas (Ando Sakura e Matsuola Mayu).
A partir daí, "Shoplifters" deambula sobre algumas questões caras ao cineasta na sua já longa filmografia – especialmente a de analisar em que medida os laços sanguíneos determinam o que constitui efetivamente uma família.
Esta não é propriamente ortodoxa: para já, dedicam-se a atividades menos “honestas” para a moral tradicional (além dos roubos, há extorsão, fraude na segurança social, atividade de “stripper” e até ocultação de cadáver). A complexidade dos laços entre eles é algo que vai sendo revelado e, a partir de certo ponto, Kore-eda passa a desvendar um amplo imbróglio de relacionamentos que passa por uma gestão delicada entre afetos e dinheiro, amizade e oportunismo.
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Apesar dos prémios, do reconhecimento da crítica internacional e do sucesso no seu país, a dura realidade social mostrada na fita, a de um Japão muito diferente da sociedade tecnológica e dos seus centros urbanos muito iluminados, revelou-se explosiva.
Os setores conservadores, por exemplo, foram desde o mais raso e antidemocrático argumento de que o filme "usa o dinheiro público para mostrar a vergonha do Japão" até ao suposto “incentivo às atividades criminais”.
Sob o primeiro aspeto, o cineasta teve mesmo que dizer aos seus conterrâneos, conforme entrevista no “site” The Asahi Shimbun, que “no Ocidente é uma prática comum os governos darem subsídios para filmes que atacam as suas próprias atividades. Gostaria que os japoneses aceitassem estes valores europeus. A cultura morrerá se obediência ao poder for um requisito para receber fundos públicos”.
No mesmo veículo, aliás, Kore-eda também explicou porque se recusou a receber os parabéns do primeiro-ministro: andar a tirar fotos com ele e a posar com a Palma contradiria as críticas às instituições que tem feito desde sempre....
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