"Em apenas duas semanas, as figuras mais brilhantes do país partiram", disse Sahraa Karimi, de 38 anos, a primeira mulher a chefiar a Organização de Cinema do Afeganistão.

"Imagine, um país sem artistas!", lamentou a cineasta diante de um grupo de jornalistas e cineastas, entre eles o diretor do festival, Alberto Barbera.

"Os talibãs estão a destruir os instrumentos de música, os estudantes escondem-se (...) Por favor, sejam as nossas vozes e falem da nossa situação", pediu, por sua vez, a cineasta Sahra Mani, diretora do documentário "A thousand girls like me" (2018), sobre uma mulher violentada pelo pai durante anos.

Karimi descreveu uma imagem sombria: "Tudo parou no espaço de algumas horas. Os arquivos estão sob o controle dos Talibã. O trabalho dos realizadores desapareceu", relatou ela.

"Pela primeira vez na história do cinema afegão, um filme foi convidado para o festival francês de Cannes. Estávamos a planear adaptar 11 curtas-metragens sobre histórias afegãs. Estávamos a preparar a segunda edição do prémio nacional de cinema", afirmou.

A cineasta disse que, no domingo, 15 de agosto, teve de abandonar os seus projetos e deixar o seu país para trás em poucas horas.

"Foi a decisão mais difícil da minha vida: ficar, ou sair do meu país", confessou.

"Já não temos casa, não temos país (...) a arte é proibida. A minha geração não quer isso", afirmou Karimi, lançando um pedido de ajuda à comunidade internacional.

"Pedimos ajuda! Precisamos de esperança. Aqueles que ficaram no Afeganistão apagaram as suas contas nas redes sociais", completou.