"Queremos fazer um retrato da comunidade chinesa no Martim Moniz [em Lisboa], e o projeto surgiu porque encontrámos lá uma chinesa albina, que nos apareceu como um raio de luz. Seguimo-la e ela aceitou participar", revelou Maya Kosa em declarações à agência Lusa, em Berlim.

Maya Kosa e Sérgio da Costa referiram que o filme terá uma "dimensão micro e macro", porque, além de se focarem numa personagem específica, querem também abordar "a exploração económica dos chineses em Portugal".

Os realizadores encontram-se na capital alemã a promover o filme "Rio Corgo", uma coprodução entre Portugal e a Suíça, em exibição no festival de cinema de Berlim, que encerra este domingo.

"Rio Corgo", que recebeu o galardão para melhor filme da competição portuguesa no DocLisboa 2015, acompanha a caminhada de Silva, um forasteiro excêntrico que deambula de aldeia em aldeia, de trouxa ao ombro.

Nesta caminhada solitária, o Espanhol, como também é conhecido, depara-se com visões que são "uma companhia para ele", referiu Sérgio da Costa.

Maya Kosa acrescentou que "ele falava das visões como se fosse uma coisa muito normal. Ele não tem um lado esquizofrénico, nem está a delirar. Ele gostava do que via, não era uma fonte de angústia".

Os realizadores explicaram que, encontrar este protagonista, foi determinante para desenvolverem a película, apesar dos planos iniciais para as filmagens serem diferentes.

"Estávamos a preparar um filme na aldeia do Sérgio, a Bairrada, e um dia apareceu o senhor Silva, num café, de chapéu e a fazer truques de magia. Então fizemos as malas e fomos com ele para o norte, foi instintivo", referiu Maya.

Os cineastas alteraram o guião diversas vezes, à medida que encontravam novas personagens durante a rodagem, como é o caso da jovem Ana, com quem Silva desenvolve uma relação de amizade.

"Eles são dois 'outsiders' que se encontram, daí esta ligação construída entre eles. A relação dos dois também surge do facto dele sentir que está a perder as forças, e de querer deixar uma herança, tal como acontece numa relação de pai e filho, que sente a necessidade de transmitir informação, porque sabe que não se estará cá para sempre", referiu Sérgio da Costa.

"Rio Corgo" é o segundo trabalho da dupla que, em 2010, rodou a película "Aux bains de la reine", vencedora do Prémio Canon para a melhor curta-metragem, da competição portuguesa no DocLisboa 2012.