"Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles", de Chantal Akerman, foi designado o "melhor filme de todos os tempos", segundo a mais recente sondagem da revista especializada britânica Sight and Sound.
O filme de 1975, que nunca estreou nas salas comerciais portuguesas, acompanha durante 201 minutos uma viúva burguesa, metódica, mãe de um adolescente, que ganha algum dinheiro extra prostituindo-se em casa, que vai intercalando os clientes com as tarefas domésticas, respeitando estritamente os mesmos horários, dia após dia. Até que uma manhã, o despertador toca uma hora mais cedo, perturbando a mecânica quotidiana e moribunda de Jeanne.
A votação foi feita por especialistas, num total de 1639 distribuidores, críticos, académicos e escritores valorizaram, segundo as regras da votação, os filmes em função da história cinematográfica, sentido estético, e impacto dos filmes a nível pessoal.
Feita de dez em dez anos desde 1952, quando foi eleito "Ladrão de Bicicletas", de Vittorio De Sica (1948), a lendária lista da Sight and Sound foi dominada durante cinco décadas por "O Mundo a Seus Pés", de Orson Welles (1941), destronado em 2012 por "Vertigo - A Mulher que Viveu Duas Vezes", de Alfred Hitchcock (1958).
Em 2022, "Vertigo" ficou em segundo lugar e "O Mundo a Seus Pés" em terceiro, com "Ladrão de Bicicletas" em 41.º.
Em quarto está "Viagem a Tóquio" (1953), de Yasujirô Ozu, seguido por "Disponível para Amar" (2000), de Wong Kar-wai.
Pouco conhecido do grande público, a escolha de "Jeanne Dielman", que ficou em 35.º em 2012, está a ser controversa, com acusações aos especialistas de terem cedido ao "politicamente correto", deixando de fora títulos ou cineastas problemáticos. Foi notada a saída da lista de "Lawrence da Arábia" (1962), de David Lean, que aborda o colonialismo britânico, e "Chinatown" (1974), de Roman Polanski.
Outros filmes que saíram da lista foram "O Padrinho, Parte II" (1974), de Francis Ford Coppola, "O Touro Enraivecido" (1980), de Martin Scorsese), "O Sétimo Selo" (1957), "Morangos Silvestres" (1957) e "Fanny e Alexandre" (1982), todos de Ingmar Bergman, "Nashville" (1975),de Robert Altman, "A Grande Ilusão" (1937), de Jean Renoir, "Gertrudes" (1964), de Carl Theodor Dreyer, "Os Rapazes da Geral" (1945), de Marcel Carné, "O Eclipse" (1962), de Michelangelo Antonioni, "O Quarto Mandamento"(1942) e "A Sede do Mal" (1958), ambos de Orson Welles, "A Quadrilha Selvagem" (1969), de Sam Peckinpah, "O Carteirista" (1959, Robert Bresson) e " A Mãe e a Puta" (1973), de Jean Eustache.
Outros preferem notar que o TOP 100 volta a refletir as mudanças no estilo e na cultura da crítica cinematográfica, com uma clara queda da hegemonia de títulos em língua inglesa (e 64 dos filmes são fora dos EUA) e mais diversidade: o número de filmes de cineastas negros passou de um em 2012 para sete, e os realizados por mulheres de dois para 11. Tem apenas dois filmes de animação ("O Meu Vizinho Totoro", de 1988, em 72.º, e "A Viagem de Chihiro" ,de 2001, ambos do Studio Ghibli e de Hayao Miyazaki) e deixou de fora sequelas, prequelas, "blockbusters" e adaptações de banda desenhada.
"Mulholland Dr." (2001), de David Lynch (8.º), é o primeiro filme do século XXI a entrar no Top 10. As novas entradas no Top 100 que estrearam desde 2012 são "Get Out" (2017), de Jordan Peele (95.º), "Parasitas" (2020), de Bong Joon-ho (90.º), "Moonlight" (2016), de Barry Jenkins (60.º) e "Retrato de Uma Rapariga em Chamas" (2019), de Céline Sciamma (30.º).
Menos recentes, entraram "Os Sapatos Vermelhos" (1948), de Michael Powell e Emeric Pressburger, "Tudo Bons Rapazes" (1990), de Martin Scorsese, "Duas Horas na Vida de Uma Mulher" (1962), de Agnès Varda, "Não Dês Bronca" (1989), de Spike Lee, "O Piano" (1993), de Jane Campion, "O Apartamento" (1960), de Billy Wilder, "Wanda" (1970), de Barbara Loden, "The Shining" (1980), de Stanley Kubrick, "Febre Tropical (2004), de Apichatpong Weerasethakul, e "Chungking Express" (1994), de Wong Kar-wai.
Numa sondagem paralela a 480 cineastas, incluindo Martin Scorsese, Michael Mann, Guillermo del Toro, Bong Joon-ho, Mia Hansen-Løve, Barry Jenkins, Edgar Wright e Joanna Hogg, o melhor filme de todos os tempos foi "2001 - Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick (1968), que ficou em sexto na lista dos críticos.
Seguem-se nesta lista "O Mundo a Seus Pés", "O Padrinho" (1972), de Francis Ford Coppola, "Viagem a Tóquio", "Jeanne Dielman", "Vertigo" e "8½" (1963), de Federico Fellini.
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