A HISTÓRIA: Uma célebre autora (Meryl Streep) faz uma viagem com algumas velhas amigas (Candice Bergen e Dianne Wiest) para se divertir e curar feridas antigas. O seu sobrinho (Lucas Hedges) junta-se a elas, bem como a sua nova agente literária (Gemma Chan), que está ansiosa para saber mais sobre o seu próximo livro.

"Let Them All Talk": disponível na HBO desde 10 de dezembro.


Crítica: Hugo Gomes

Estamos entre os que defendem que Steven Soderbergh não é um "autor", mantendo-o longe do sentido mais romântico da palavra. Porque o que vemos nele é uma aptidão invulgar para embarcar em qualquer género, estilos e formato (o prolífero realizador até já filmou inteiramente em iPhone). A palavra mais adequada para ele é superdotado. Alguém isento de personalidade, mas nato o suficiente para nunca se reduzir ao anonimato.

Mas deixemos de falar de Soderbergh para nos concentrarmos neste Soderbergh em concreto: rodado em agosto de 2019 com a totalidade dos atores sob improviso constante (o guião era somente composto por esboços), “Let Them All Talk” é quase como um exercício levado da breca aos territórios comuns de um Woody Allen, mas formalmente centrado nos tiques e toques do subgénero "mumblecore" [o estilo de cinema americano independente de baixo orçamento e naturalista].

A história desta escritora com bloqueios criativos e um grupo próximo de pessoas que se banham nas suas inspirações (ou na falta dela), no luxuoso paquete Queen Mary II, parece ter o efeito de um espelho para um realizador em constante experimentação. Talvez uma busca com o objetivo de resolver o seu próprio bloqueio, mas é através desse "modus operandi" que se vê a particularidade deste seu trabalho: o de fazer mais com menos.

Filme estilisticamente despido, onde os atores se encarregam de demonstrar as suas destrezas e preencher os espaços vazios deixados por um realizador mentalmente hipertensivo, esta "brincadeira" de encenação acaba por separar o “trigo do joio” no elenco.

Por um lado, veteranas como Meryl Streep (três Óscares) ou Dianne Wiest (dois) exibem aquilo pelo qual são reconhecidas – experiência e como usá-la a seu favor –, mas o “verdinho” Lucas Hedges sai prejudicado nesta “fotografia” e, sem conseguir acompanhar as colegas, partem de si alguns embaraços involuntários.

Mas nada disso realmente importa, "Let Them All Talk" é um filme-teste e não uma derradeira prova de fogo. Tal como a protagonista, está apenas de passagem e tem um objetivo, o de recuperar as palavras certas. Esperemos que o cineasta de " Sexo, Mentiras e Vídeo", "Uma Traição Fatal" ou "Efeitos Secundários" as tenha encontrado para que nos possa entregar algo mais entusiasmante da próxima vez…

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