A HISTÓRIA: Preso pelo homicídio da filha de um comandante, um pai com deficiência intelectual tem de provar a sua inocência e regressar para junto da sua filha.

"Milagre na Cela 7" está disponível na Netflix.


Crítica: Hugo Gomes

Após várias versões, “Milagre na Cela 7” encontrou, por fim, a sua viralidade e sobretudo, uma adesão positiva vinda de uma sensibilidade acentuada e machucada por parte do espectador nestes tempos de confinamento.

Talvez seja esta “nova normalidade” imposta que nos faça chorar por uma história (mais do que) improvável de um recluso sentenciado à morte que deseja reencontrar-se com a sua filha, tendo como manipulativo dispositivo o facto desse pai ser… como diríamos… “especial”.

O original, uma obra sul-coreana de 2013, foi um dos grandes êxitos no seu país, tornando a história apelativa num Oriente faminto em rivalizar com as fórmulas "hollywoodescas" dos dramalhões de fazer “chorar as pedras da calçada”, vulgarmente conhecidos por “tearjerkers”.

Seguiram-se as variações indiana e filipina até chegarmos à turca com o cunho da Netflix, que apesar de tentar entrar por contextos politizados quanto à dominação militarista do regime, aplica os truques do costume ao quadrado para nos (obrigar a) emocionar.

O que temos? A música altamente intrusiva e imperativa que tem como alvo o nosso sistema nervoso, os constantes "slow-motions" e "travellings" sem razão que congelam os momentos-chaves... e o que dizer dos diálogos rudimentares e tecidos de primazia sentimental proclamados como epifanias?

Digamos que é tudo mais trapalhão do que supostamente sensível e que ofende com a sua costura arcaica de contar uma história e tentativa de seduzir aproveitando-se das nossas fraquezas.

O que nos leva para as "qualidades" enquanto cinema: os desempenhos encontram-se algures entre o exagero e o passivamente zombificado (Nisa Sofiya Aksongur, a “prometida” filha de quem seria de esperar uma maior resposta dramática), e a realização, para além de submissa aos já referidos tiques e esquemas, é de um profundo anonimato em que nenhum rasgo de imaginação se destaca.

No fim dos 132 minutos, só podemos ter uma esperança: que "Milagre na Cela 7" seja um fenómeno de popularidade efémera global por causa da acessibilidade do streaming e, para bem de todos nós, destes estranhos tempos de quarentena...

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