A caminho dos
Óscares 2021
Tenet
A HISTÓRIA: Armado apenas com uma palavra –Tenet – e lutando pela sobrevivência do planeta, o Protagonista viaja pelo mundo penumbroso da espionagem internacional numa missão que irá desvendar algo além do tempo real. Não se trata de uma viagem no tempo. Mas sim, uma inversão.
"Tenet": nos cinemas a 26 de agosto.
Crítica: Hugo Gomes
À espera de Christopher Nolan… este é o impasse em que estão algumas cadeias de cinema, que olham para este "blockbuster" de quase 200 milhões de dólares de orçamento como a salvação de um negócio em ruínas por causa da pandemia.
E quanto a nós, espectadores? O que podemos esperar de Nolan e o seu “Tenet”? A resposta é simples: cinema equacional, uma fórmula retorcida e espremida com vontade de agradar a um rol de especialistas em física quântica como selo de qualidade.
Enfim, eis mais uma ficção científica alicerçada nas tendências de Nolan nos últimos filmes. Aliás, é isso mesmo, o tempo como a palavra-chave da sua carreira enquanto autor conformado aos ditames da grande indústria (como já se podia ver no ainda superior “A Origem” [ler crítica]).
Em "Tenet", tempo é a noção objetiva e subjetiva, um propósito para complicar o que não precisa ser complicado (o enredo é mais simples do que se pensa) e, sobretudo, para fazer uso das “brincadeiras visuais e sonoras” do realizador, como fossem a última ponta da ação em tela (como se os irmãos Lumiére não tivessem feito experiências com ação invertida com o seu quê de espanto e agora, passados 120 anos, ela se torna apenas redundante).
O que temos é a simplicidade de uma intriga de espionagem que pisca os olhos ao simbolismo de James Bond ou aos elegantes "thrillers" de Alfred Hitchcock, mas distorcida como um quebra-cabeças chapado só para nos dar o ar de pseudo-intelectualidade de Nolan.
Pior, "Tenet" é pesado "enfarta-brutos" dramático pontuado pelo trombone de Ludwig Göransson, que sucede a Hans Zimmer, o compositor habitual de Nolan (ocupado com "Dune"), que este conseguira transformar no mais monocórdico de Hollywood. Nolan a ser Nolan e a esquecer que é preciso menos Nolan para aguentar esta quantidade de Nolan.
Por outras palavras, o tempo (sempre ele) de “A Origem” já lá vai e o que resta são mimetizações de sofisticação que nada acrescentam à história da indústria "hollywoodesca".
Regressando ao que se passa nos cinemas à espera deste "messias": tudo dependerá da disposição dos espectadores em assistir a um turbulento jogo de cintura com meios milionários. Deste lado, ficamos pelo elogio ao conceito e ao trabalho como atriz de Elizabeth Debicki, embora seja uma pena ter de contracenar com um exagerado “wannabe” russo a cargo de Kenneth Branagh.
(*) A crítica foi alterada para corrigir o nome do compositor da banda sonora, que, tal como apontaram vários leitores, é Ludwig Göransson e não Hans Zimmer, como referido na primeira versão.
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