A HISTÓRIA: Uma aventura pelo mundo dos anos 90, com os Autobots e uma nova espécie de Transformer, os Maximals, na eterna batalha entre Autobots e Decepticons.

"Transformers: O Despertar das Feras": nos cinemas a partir de 8 de junho.


Crítica: Francisco Quintas

Não muito diferente do “modus operandi” da saga “Velocidade Furiosa”, os diversos “Transformers” fazem jus a uma retórica de procura & oferta muito clara: jovem ou adulto, o consumidor de brinquedos e desenhos animados da marca da Hasbro quer adaptações em imagem real dos espetaculares organismos robóticos alienígenas que dão lugar a estrondosa maquinaria e veículos deslumbrantes.

A receção com maior ou menor entusiasmo ao primeiro título, lançado em 2007 e realizado por Michael Bay, deveu-se à curta duração de batalhas megalómanas entre monstros de metal, abafadas por excessivas sub-tramas de personagens humanas, sem especial contributo ou originalidade. Sem mencionar os atores limitados, a enjoativa paleta de cores, a câmara tremida e o antagonismo barato.

Os filmes seguintes continuaram a presentear as plateias com mais robôs e explosões, nunca pretendendo outro investimento. E Michael Bay acabou por fazer cinco produções gémeas narrativas e estéticas que exibiram pouco mais que efeitos visuais de ponta e um “design” de som de abalroar os assentos da sala. Justiça seja feita: uma montanha-russa audiovisual de qualidade, não fosse ela produzida por Steven Spielberg, que não deixa os créditos por mãos alheias.

Para contornar o risco de aborrecer até os fãs mais devotos, optou-se por linhas narrativas alternativas, operadas por nomes estreantes. A primeira foi “Bumblebee” (2018), “spin-off” da personagem homónima, situada nos anos 80 e realizada por Travis Knight. E vale a pena dizer que, beneficiada pela relação entre o adorável robô amarelo e a atriz Hailee Steinfeld, a história desenvolveu uma dinâmica reminiscente de “E.T. – O Extra-Terrestre” (1982).

A meio caminho fica agora a segunda prequela, “Transformers: O Despertar das Feras”, que avança para os anos 1990. E, infelizmente, nem o carisma de Steven Caple Jr., realizador de “Creed II” (2018), foi capaz de afugentar os clichés de sempre.

Anthony Ramos e Dominique Fishback

Qualquer prequela tem o desafio de superar o obstáculo inevitável de o espectador conhecer os acontecimentos que se seguem, mas como é habitual nesta saga, não se encontram novas motivações, fórmulas ou antagonistas: está novamente em causa o fim do mundo e uma ideia abstrata e repetitiva de bem contra o mal, com direito a feixe de luz maligno apontado ao céu. A ação e destruição entretêm, mas existem limites para frases de efeitos, melodramas e o menosprezo da inteligência do público.

Nem tudo é mau, já que o realizador valorizou a presença dos robôs face à dos humanos. Tem-se, porquanto, o recorrente Peter Cullen, no camião de Optimus Prime, e inúmeras vozes adicionais, com destaque para Ron Perlman e Pete Davidson, que salvam as personagens rasas que receberam.

Em solo terrestre, Anthony Ramos, conhecido pelo musical “Ao Ritmo de Washington Heights” (2021), mostra-se muito cativante e empenhado, ainda que não escape ileso das fraquezas do respetivo arco de personagem. Já a que é interpretada por Dominique Fishback, atriz do poderoso “Judas e o Messias Negro” (2021), tem de lutar contra a exposição preguiçosa que é forçado a proferir e uma motivação pouco convincente.

Se recordarmos que um dos calcanhares de Aquiles de Michael Bay sempre foi a péssima conjugação de tons dramáticos e cómicos, entregues a personagens secundárias barulhentas e humores forçados, este “O Despertar das Feras” é, sem dúvida, mais equilibrado. Porém, uma vez atrelado aos moralismos unidimensionais pregados por Optimus Prime, não se pode descrever que seja descontraído.

Mas talvez seja escusado fazer qualquer julgamento sobre estes filmes, atentando às razões descritas logo de início. O espanto reside apenas na evidente falta de vontade em contar uma história com o mínimo de vigor ou inspiração. Os engravatados dos estúdios continuam a ter, esperamos, uma ideia errada do que querem os espectadores.

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