Belfast
A HISTÓRIA: Um jovem rapaz de nove anos terá de encontrar o seu caminho para a num mundo que, subitamente, se virou do avesso. A sua comunidade estável e carinhosa, e tudo o que ele aprendera sobre a vida, transformara-se para sempre; mas a alegria, o riso, a música e a magia inerente ao cinema permaneceram...
"Belfast": nos cinemas a partir de 24 de fevereiro.
Crítica: Daniel Antero
Kenneth Branagh, figura de renome em Hollywood, conhecido pelas adaptações cinematográficas de Shakespeare, os filmes "Thor" para o Universo Cinematográfico Marvel e pelo seu papel como Gilderoy Lockhart na saga "Harry Potter", cresceu no meio do 'The Troubles', o conflito que colocou frente a frente protestantes e católicos e viu a Irlanda do Norte lutar por um estatuto especial com a Grã-Bretanha.
No meio da guerra, Branagh teve a sua infância abalada com os trágicos surtos de violência e abandonou a cidade de Belfast com a sua família. Agora, apresenta-nos o seu projeto mais pessoal, pronto a domar fantasmas do passado e a homenagear a sua cidade natal.
Com a perspetiva única de uma criança de nove anos, onde até baixa a câmara ao nível do olhar daquela, Branagh consegue retratar aqueles tumultos e a atmosfera violenta com doçura, pois reconhece que Buddy, de espada e escudo na mão, ainda vive num mundo idílico de brincadeira e descoberta. O seu fascínio e alegria encontram-se no futebol e nas cores garridas que o cinema lhe mostra, mas breves notícias, curtos diálogos e mudanças de estado de espírito súbitas vão sendo injetadas na sua realidade.
Nesses momentos, no meio de sorrisos e gritos felizes que preenchem o ar, Buddy irá formar a sua própria compreensão do mundo, enquanto lida com a selvajaria que entra pelas pequenas ruelas do seu bairro e semeia um rasto de destruição. Confuso, ele suporta-se nos pais (Caitriona Balfe e Jamie Dornan) e avós (memoráveis Judi Dench e Ciarán Hinds, nomeados para os Óscares), que fazem de tudo para manter a guerra civil longe e dar a Buddy uma infância despreocupada. Mesmo que tenham de partir em busca de uma vida melhor.
Leve com a história política e a representação social, onde vemos pontuados a presença militar, os bloqueios de estradas e os pontos de controlo, “Belfast” convida-nos a entrar numa doce dinâmica de amor, de memórias saudosistas. Pois Kenneth Branagh está mais interessado na formação de caráter e no crescimento de uma criança, na sua casa, onde a inocência e proteção são calorosas... e relembrar-nos que estas experiências exteriores se poderão revelar traumatizantes e dramáticas para o jovem protagonista.
Ao som de Van Morrison, partamos para a nostalgia de 1969 e viver uma homenagem à cidade de Belfast e às suas pessoas, onde as cicatrizes da guerra ainda hoje são visíveis.
Comentários