
Del Toro exibe em Veneza uma nova adaptação da história de Mary Shelley, publicada em 1818, sobre Victor Frankenstein, um cientista egocêntrico que dá vida a uma criatura que acabará por o conduzir à ruína.
"Procurando a vida, criei a morte”, afirma num momento Viktor Frankenstein (Oscar Isaac), responsável por uma criatura que, em muitos aspetos, desperta ternura.
Com uma estética gótica refinada, Del Toro traz ao cinema uma história que fala de violência, autoconhecimento e identidade através de uma personagem cativante, interpretada por Jacob Elordi.
Durante a conferência de imprensa, Del Toro, vencedor do Óscar e do Leão de Ouro por "A Forma da Água", admitiu que, para ele, "Frankenstein" “é uma religião desde criança”.
"Fui criado na religião católica (mas) nunca compreendi totalmente os santos. E depois, quando vi Boris Karloff (o ator que interpreta o monstro Frankenstein no filme de James Whale de 1931) no ecrã, percebi como se parecia um santo ou um messias. Desde então, acompanho a criatura desde criança", disse.
O filme, distribuído pela Netflix, "procura mostrar personagens imperfeitas e o direito que temos de continuar a ser imperfeitos. E o direito que temos de nos compreendermos uns aos outros nas circunstâncias mais opressivas", acrescentou o realizador mexicano.
Mas, questionado sobre se a Inteligência Artificial poderia constituir um monstro de Frankenstein atual, o mexicano foi categórico: "A Inteligência Artificial não me assusta. Tenho medo da estupidez natural, que é muito mais abundante".
Gaza
Durante a tarde, milhares de pessoas manifestaram-se nas imediações do festival para denunciar a ofensiva do Exército israelita na Faixa de Gaza.
Vários artistas expressaram apoio aos palestinianos nos últimos dias na Mostra, como a realizadora marroquina Maryam Touzani e o marido, o cineasta Nabil Ayouch, que exibiram na sexta-feira à noite, no tapete vermelho, um cartaz com a frase "Stop the genocide in Gaza" ("Parem o genocídio em Gaza").
No início do festival, um coletivo fundado por dez cineastas italianos independentes, chamado "Venice4Palestine" (V4P), apelou à condenação da guerra na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do movimento islamista palestiniano Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.
Numa carta aberta, o coletivo pediu que o festival não se torne "uma tribuna triste e vazia" e que "adote uma posição clara e sem ambiguidades".
O V4P afirma que a sua carta reuniu 2.000 assinaturas, incluindo nomes de destaque do cinema internacional, como Guillermo del Toro, Todd Field, Michael Moore e Ken Loach.
"O objetivo da carta era colocar Gaza e a Palestina no centro da atenção pública em Veneza, e foi isso que aconteceu", declarou à AFP Fabiomassimo Lozzi, um dos fundadores do coletivo.
O diretor artístico da Mostra, Alberto Barbera, afirmou na quarta-feira que o evento é "um lugar de abertura e de debate".
"Nunca hesitámos em declarar claramente o nosso enorme sofrimento perante o que está a acontecer na Palestina (...) com a morte de civis e, sobretudo, de crianças", insistiu.
Comentários