Estão na disputa pelo Leão de Ouro os mais recentes trabalhos do sul-coreano Park Chan-wook, com "No Other Choice", e da francesa Valérie Donzelli, "À pied d’œuvre", que estrearam na passada sexta-feira.

A "namoradinha da América" chegou na quarta-feira à cidade do norte de Itália vestindo um casaco de malha preto e branco estampado com o rosto de Guadagnino, conhecido, entre outros filmes, por "Chama-me pelo Teu Nome".

A chuva deu tréguas na tarde de sexta-feira no Lido e em nada ofuscou o desfile no tapete vermelho do elenco do filme, que uma multidão entusiasmada aguardava há muito, com os telemóveis nas mãos. Entre jovens — e outros nem tanto — havia até quem tivesse levado um banco para não perder nada, mesmo a alguma distância da barreira.

"Depois da Caçada" é um thriller psicológico em que Julia Roberts interpreta uma professora de Filosofia confrontada com um alegado caso de agressão sexual na Universidade de Yale, onde trabalha.

O filme, que apresenta diferentes pontos de vista sobre o tema oito anos após o surgimento do movimento 'MeToo', poderá gerar polémica.
"Não estamos a fazer nenhuma declaração, estamos a retratar estas pessoas num momento específico" e "[a desafiar] as pessoas a conversarem, a emocionarem-se ou a irritarem-se, depende de cada um", destacou Roberts em conferência de imprensa.

"Estamos a perder a arte do diálogo na humanidade e, se este filme puder fazer alguma coisa, se puder fazer com que todos conversem, seria o mais emocionante que, acredito, poderíamos alcançar", acrescentou.

Nesta 82.ª edição da Mostra, 21 filmes competem pelo Leão de Ouro, que será atribuído no dia 6 de setembro por um júri presidido por Alexander Payne.

Park Chan-wook regressa ao Lido pela primeira vez em 20 anos, depois de ter sido premiado há três anos em Cannes como Melhor Realizador por "Decisão de Partir".

Em "No Other Choice", conta a história de um homem cujo mundo desmorona ao perder o emprego, apesar de 25 anos de experiência.

Por sua vez, Valérie Donzelli ("Solo para mim") apresentou "À pied d’œuvre", sobre um homem que decide mudar de vida e dedicar-se à escrita, apesar de a sua situação se tornar muito mais precária.

Segundo indicou em comunicado, Donzelli procurou criar "uma personagem honesta, amável e determinada" para um filme que "questiona o valor que damos a uma vida guiada por uma paixão silenciosa, pouco espetacular, mas inevitável: a necessidade de criar, aconteça o que acontecer".

Uma estreia e Carmen Maura

Este ano não há nenhum filme ibero-americano em competição oficial; a maioria dos trabalhos apresentados por Espanha e pela América Latina estão nas secções paralelas Horizontes e Spotlight, que se focam em novas tendências.

Dos 12 filmes com produção latino-americana programados, entre longas e curtas-metragens, metade foram realizados por mulheres. Entre eles, encontra-se o documentário "Nuestra tierra", da argentina Lucrecia Martel, exibido fora de competição.

Por sua vez, o realizador catalão Jaume Claret Muxart apresenta esta sexta-feira Estrany riu ("Rio Estranho"), a sua primeira obra, que competirá na secção Horizontes e concorrerá ao prémio de melhor estreia.

No filme, ambientado numa viagem familiar pelo Danúbio, Claret aborda vários aspetos: desde as relações familiares à transmissão de valores, passando pela adolescência e pela arte.

E sob a direção da marroquina Maryam Touzani ("O Caftan Azul"), Carmen Maura protagoniza "Calle Málaga", sobre uma idosa espanhola residente em Tânger que resiste à decisão da filha de vender a sua casa.