Em entrevista à “GQ”, Tolokonnikova contou que o único texto que está autorizada a ler, de forma a combater o aborrecimento, é a Bíblia.

“A prisão é um bom sítio para aprender a ouvires a tua própria mente e o teu próprio corpo. Aprendi a ler mais profundamente, por exemplo. Durante quatro meses, não tive nada para ler a não ser a Bíblia, li-a durante os quatro meses – diligentemente, atenta a todos os detalhes”, revelou.

A artista continuou: “A prisão é como um mosteiro – é um local para práticas ascéticas. Depois de um mês cá, tornei-me vegetariana. Andar às voltas durante uma hora naquele pequeno pátio empoeirado deixa-te num estado bastante meditativo. Não temos muito contacto com notícias. Apenas o suficiente para nos inspirarmos”.

Tolokonnikova foi ainda questionada acerca do alegado tratamento VIP que os três membros das Pussy Riot têm recebido na prisão, explicando: “O Auschwitz tinha salas de morte VIP? Se sim, suponho que podem chamar as nossas condições de tratamento VIP”.

Sobre o apoio que a banda tem recebido do mundo ocidental, contou: “Continuo sem conseguir afastar a sensação que passei os últimos seis meses a atuar num filme de grande orçamento. A quantidade de apoio ocidental que recebemos é um milagre. Acredito que, se a Russia tivesse meios de comunicação independentes, a nossa performance seria mais bem entendida em casa”. “Neste momento, estamos no inferno aqui. É difícil viver num sítio onde toda a gente pode odiar-te por causa de algo que ouviu na televisão. É por isso que cada gesto de apoio é tão importante e tão apreciado”, concluiu.

Recorde-se que o caso Pussy Riot regressa aos tribunais no próximo dia 1 de outubro, para a fase de recurso.

Tolokonnikova, Alekhina e Samutsevich foram condenadas a dois anos de prisão no passado dia 17 de agosto, após terem sido consideradas culpadas de hooliganismo motivado por ódio religioso.

Sara Novais