Adriana desembarcou em Lisboa, trazendo com ela os primeiros raios de sol da Primavera. Nos corredores do hotel, enquanto se espera pela entrevista, descobre-se que a compositora tem este efeito «cósmico», muito graças à energia positiva que traz consigo e que transmite através do olhar intenso e despretensioso.

Recebeu-nos no seu quarto de hotel, com uma vista magnífica para a Avenida da Liberdade, uma das principais artérias do coração Lisboeta. Na pacatez do espaço branco e minimalista, explica que a publicação de «Micróbio do Samba» se impôs a um dado momento no percurso da cantora.

Acabou por gravar «um samba aqui, outro lá…», confessa, até que, ao reuni-los, deu conta de que estava perante um conjunto coeso. Pediu a ajuda de um amigo, Doménico, para registar, num único momento, cada uma daquelas composições. O resultado final surpreendeu-os e, por isso mesmo, «Micróbio do Samba» pode hoje ser ouvido na rádio e encontrado nas prateleiras das lojas.

A espontaneidade deste disco é consentânea com a forma «caótica» de Adriana criar. Não tem uma rotina, as coisas vão-lhe surgindo em determinados momentos, até porque, segundo a própria, qualquer coisa pode fazer «detonar o processo de composição» de uma melodia.

Passaram 20 anos desde o lançamento do primeiro trabalho da intérprete. A música mudou muito e Adriana reflecte sobre o facto de esta se ter «democratizado».

«As possibilidades de se produzir música de uma maneira mais independente, a democratização da produção de música mudou e isso é muito bom. Antes só pessoas eleitas... você tinha que ir para o estúdio, era tudo muito mais difícil produzir música do que é hoje», considera a cantora.

Uma das características da música nos dias de hoje é a sua difusão através da internet. Adriana mostra-se fascinada com as possibilidades que esta oferece e acredita que vão surgir muito depressa soluções que tornem a web vantajosa para apreciadores e produtores de música. «Você não precisa estar viajando pelo mundo, para conhecer músicas do mundo», exemplifica a intérprete.

O «Micróbio» contagiaos portugueses em Maio

Adriana considera-se um «bicho de palco» onde cada um tem a sua hora e prefere este momento ao do estúdio que, por seu turno, envolve muita espera até se aprimorarem os pormenores técnicos das canções.

«No palco todo o mundo tem a mesma importância. O cara que descarrega o camião e põe as caixas de som lá tem a mesma importância que eu tenho. Só que a hora dele é a hora dele e a minha hora é a minha hora. No estúdio não é a minha hora, mas eu tenho de estar ali esperando».

Matthew Herbert e Bob Dylan são algumas das referências da compositora que tanto ouve música brasileira como erudita. Apesar de ouvir um pouco de tudo, há momentos em que o silêncio é dono e senhor.

«Como eu faço música tem uma hora que eu preciso do silêncio, eu prezo o silêncio muito. Quando eu estou no estúdio fazendo as minhas coisas, eu não vou chegar em casa com o ouvido cansado e ouvir música», diz.

É no palco do Centro Cultural de Belém que os portugueses vão poder apreciar este «bicho de palco». Adriana Calcanhotto vai colocar a capital a sambar nos dias 6 e 7 de Maio. O preço dos bilhetes varia entre 20 euros (2º balcão) e os 40 euros (cadeiras de orquestra). O inicio está marcado para as 21 horas.

Reportagem @Inês Fernandes Alves

Fotografia @Susana Almeida