Palco Principal - Qual a sensação de veres as tuas músicas serem conhecidas através de comerciais televisivos (tal como aconteceu em Portugal com Sail)?

Aaron Bruno - Hoje em dia, os anúncios tornaram-se mais populares do que a MTV, e algumas vezes até mais do que a própria rádio. Nos Estados Unidos a coisa para nós começou através da rádio e do passa-palavra, assim como no Canadá e em alguns países europeus. No caso português, foi-me enviado o anúncio, nem sequer sabia o que estava a acontecer. O meu manager disse-me: “vê este anúncio, é muito bom”. É claro que, quando ouves a tua música num anúncio, ficas preocupado com a tua canção parecer disparatada, mas achei que era muito bom artisticamente e fiquei entusiasmado. Não conheço muito sobre a companhia que o escolheu mas, para nós, sendo uma banda nova, foi uma oportunidade para as pessoas ouvirem a nossa música.

Palco Principal - Quando os Under The Influence of Giants acabaram, qual foi o sentimento predominante? Medo, alívio, excitação?

AB - Todos eles. Senti medo porque escrevia com esses tipos há muitos anos, mas, ao mesmo tempo, uma grande excitação, porque sabia que tinha chegado a hora de fazer o meu próprio disco. Não sabia que iria lançar um disco sob o nome Awolnation, apenas que ia escrever as minhas canções, produzir-me a mim próprio e entrar no mundo da composição. Escrevi imensas canções, de início sempre muito «poppy», por isso não tinha a certeza onde ia chegar, mas acabei por prosseguir e dar de caras com a Red Bull e assinar um contrato. Já tinha tido más experiências mas com eles foi do estilo “faz o que estás a fazer e nós editamos-te”. Não teria assinado de outra forma, deram-me total controlo artístico e pude produzir o meu próprio disco. Foi um acidente, nunca esperei que a coisa chegasse a este ponto. Sabia que seríamos bons ao vivo – acredito muito em mim enquanto performer -, mas não saberia se as pessoas iriam gostar das canções.

Palco Principal - Preferes a parte de compor ou os concertos?

AB - Os concertos são o celebrar do trabalho duro que é a composição, mas é difícil dizer que são iguais em proporção. Quando escrevo uma canção fico emocionado, por vezes fico a ouvi-la durante uns dias - ouço-a num CD no meu carro enquanto fumo uns a caminho da praia para ir surfar. Emocionar-me com as coisas faz parte da educação que recebi, e sinto orgulho nos meus pais por me terem criado da forma como o fizeram. Tenho também orgulho em todas as pessoas que me rodearam no meu crescimento, por terem acreditado em mim e neles próprios. Sinto, por isso, uma nostalgia em falar disso, é como se os representasse a todos por ter sido um underdog que acabou por chegar até aqui. Quando tens a oportunidade de tocar ao vivo num festival gigantesco como este, e tens um mar de gente a cantar as tuas canções, não há nada melhor do que isso. A não ser o surf. E o sexo. Mas não te sei dizer do que gosto mais.

Palco Principal - A tua música, assim como os vídeos, parecem ter uma forte ligação ao cinema...

AB - Sempre fui um grande fã de cinema. Adoro filmes de ficção científica e um pouco de todos os géneros. Também gosto de filmes um pouco cheesy e não digo que não a um par de blockbusters. Wes Anderson, Spike Joonze... Gosto de pensar no tipo que realiza os nossos vídeos como um Wes Anderson mais novo -ele realizou Sail e Not your fault e vai realizar também Kill your heroes, que não deve demorar muito até estar a rodar por aí.

Palco Principal - Qual é a tua relação com o surf? Uma religião, algo mais importante que a própria música?

AB - Não penso que conseguiria escrever canções se não fosse o surf e a minha relação com o mar. A música é a minha vida, o meu trabalho, aquilo que faço de melhor. Não sou o melhor surfista, consigo apanhar ondas e surfar, mas não sou mais do que um surfista razoável. Ao contrário de alguns amigos meus, que são autênticos pro`s. Mas é inspirador vê-los surfar e sinto-me inspirado por essa dedicação.

Palco Principal - Devias surfar por cá! Sabes que tivemos a maior onda do mundo?

AB - Não me vou meter com essa. Queria ter surfado hoje mas, como o voo se atrasou, não deu. Mas parece que vamos estar de volta em novembro, e dessa vez vai mesmo acontecer.

Palco Principal - Manténs-te a par da música que se vai fazendo nos dias de hoje? O que tens andado a ouvir?

AB - Ouço mais música enquanto conduzo para ir surfar, não só as dos outros mas também as minhas, para as ir analisando. Por agora, tenho estado a ouvir um hip hop um bocado manhoso, Beach House, Edward Zharpe & The Magnetic Zeros... Não há assim nada que esteja a deixar-me mais em delírio, mas os Beach House são muito bons e estou ansioso pelo novo dos The Killers – o Brandon é muito bom compositor.

Palco Principal - Tens uma visão muito crítica relativamente à envolvente musical, nomeadamente o ter de cantar em playback ou fazer poses para fotos promocionais. Isso poderá mudar quando assinares com uma grande editora?

AB - As obrigações legais a que te sujeitas quando assinas com uma grande editora são um fardo. Toda a ideia de posar para fotos e dar autógrafos – se alguém vier ter comigo para um autógrafo, estou disponível de todo o coração -, nãoé por isso que estou na música. Não o faço para ser popular ou arranjar miúdas. Nunca quis ser famoso, apenas fazer canções que as pessoas gostassem. Os Awolnation são um sítio onde as pessoas devem chegar deixando tudo para trás. A vida está bastante dura nos dias de hoje, sei que nos Estados Unidos e também por cá as coisas não estão bem em termos económicos, que os empregos estão difíceis de arranjar, e espero que este disco ajude as pessoas a sentirem-se melhor - como os Beatles, os Public Enemy ou os Radiohead me ajudaram.

Palco Principal - Queres deixar alguma mensagem para os fãs portugueses?

AB - Muito obrigado por nos terem ouvido, seja vendo o comercial na televisão ou por ouvirem uma canção na rádio e não mudarem de canal. Também quero encorajar as pessoas a interpretarem as letras das canções à sua maneira, e não a olhar para elas literalmente. Há muitas metáforas escondidas e é importante que cada um tire as suas próprias conclusões. Não me levo demasiado a sério, e penso que um dia vou acordar e perceber que tudo isto não passou de um sonho.

Pedro Miguel Silva