Poeta do atual, onde as palavras cheias de tradição convivem com a gíria contemporânea, B Fachada sentou-se ao piano no centro da sala de exposições da Culturgest, cercado por cadeiras, numa disposição atípica, porém mais intimista, nas noites de concerto neste espaço. Cantar o Apelo, Roupa de Estrada e Está na Hora da Passa inauguraram a viagem pelo novo registo: um disco com noção que é disco e canções com noção que são canções. As referências vão-se multiplicando, escritas na primeira pessoa, a revelar um B Fachada com consciência de si próprio e/ou da persona construída, sendo que o título do álbum não há-de ter sido escolhido ao acaso.

Nesta primeira parte dedicada às novas canções, “B Fachada” entremeou-se com “Deus, Pátria e Família”, lançado também este ano. UmEP que, nas palavras do autor, não é mais que uma “canção comprida”. Durante aproximadamente 20 minutos de cariz mais interventivo, Fachada trovou as falácias da nação, provocando em “fachadês”, língua “paternal”, certeira e audaz. A extensa duração do tema causou alguns aplausos enganados, numa pausa, com direito de resposta de um ar reprovador e brincalhão.

Não Pratico Habilidades, Barriga Pelo Amigo e Os 2 no Polibã fecharam o desfile de novidades, seguindo-se momentos mais descontraídos e de maior interação com o público.

Com o piano de cauda a substituir a viola braguesa, e a pedido prévio, Fachada tocou Cada Um, aproveitando a deixa do amor e do desamor para prosseguir com uma versão das Pega Monstro, numa roupagem mais delicada. Com a ajuda rítmica da audiência chegou-nos Tó-Zé, de “B Fachada É Pra Meninos”, disco composto para crianças, do qual se ouviram também Questões de Moral e Primeiro Dia, a canção guardada para o encore.

A falsa saída de sala fez-se largando o piano e cantando os últimos versos de Só Te Falta Seres Mulher, já sem música. B Fachada, com outro encontro marcado com o público portuense para a noite seguinte, regressou ao piano para o último tema.

Texto: Ariana Ferreira

Fotografias: Ana Oliveira