O barítono Jorge Chaminé, presidente do Centro Europeu da Música, foi distinguido com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural/2023, anunciou hoje o Centro Nacional de Cultura (CNC), que promove o galardão.
“Este reconhecimento europeu presta homenagem à excecional contribuição de um dos maiores embaixadores artísticos e intelectuais do património cultural europeu, tanto imaterial quanto material”, justifica o CNC em comunicado enviado à agência Lusa.
O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva foi instituído em 2013 pelo Centro Nacional de Cultura, em colaboração com a Associação Europa Nostra e o Clube Português de Imprensa, e conta com o apoio do Ministério da Cultura de Portugal, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Turismo de Portugal.
O Júri do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, presidido pela presidente do CNC, Maria Calado, foi também composto por “especialistas independentes nos campos da cultura, património e comunicação de vários países europeus”, designadamente, o presidente do conselho de administração do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro, Francisco Pinto Balsemão, o belga Piet Jaspaert, vice-presidente da Europa Nostra, o português João David Nunes, vice-presidente do Clube Português de Imprensa, Guilherme d'Oliveira Martins, ex-presidente do CNC e atual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, a sérvia Irina Subotić, presidente da Europa Nostra, e a norueguesa Marianne Ytterdal, do Conselho da Europa Nostra.
Sobre a escolha de Chaminé, de 67 anos, o júri referiu: “Após uma carreira internacional de grande sucesso como barítono, durante a qual apresentou e divulgou o património cultural da Europa em muitos teatros de ópera e salas de concerto, não só na Europa como no resto do mundo, Jorge Chaminé decidiu dedicar os últimos 20 anos da sua vida à promoção do espírito e identidade europeus através da música clássica, trabalhando maioritariamente em regime de voluntariado. É o criador e presidente do Centro Europeu da Música, sediado em Bougival, perto de Paris, ponto de encontro entre artes, humanidades, ciências e gerações, que celebra a música como linguagem universal, no cerne da identidade europeia e dos seus valores humanistas”.
No mesmo comunicado, Jorge Chaminé afirma-se surpreendido com a distinção que o “comoveu” e “honrou”.
“Sinceramente, acho que esta distinção é dirigida sobretudo ao reconhecimento da importância da Música para o nosso património cultural europeu: pelas suas inúmeras capacidades para construir elos entre os seres humanos, pela universalidade da sua linguagem, pelo seu talento em unir a diversidade, pela sua capacidade de falar a cada um de nós e de nos falar coletivamente, pelo 'milagre' de poder reunir a mente, o coração e o corpo, tríptico do ser humano completo. À Música dediquei e dedico a minha vida!”
No mesmo documento, o barítono agradece a distinção e realça o trabalho de Helena Vaz da Silva (1939-2002), ex-dirigente do CNC e ex-deputada ao Parlamento Europeu pelo PPD/PSD, à qual se refere como “uma excecional personalidade da vida cultural e política, nacional e europeia”.
Sobre Chaminé, o CNC afirma que “o artista é forjado neste perpétuo vai-e-vem entre ele próprio e os outros, a meio caminho entre a beleza de que não pode prescindir e a comunidade de que não se pode afastar”, acrescentando que "a citação de Albert Camus raramente se adequa tão bem como a Jorge Chaminé, barítono e músico empenhado, fora dos circuitos habituais, que recusa fronteiras humanas, geográficas ou musicais”.
O CNC realça o seu trabalho “incansável”, há vários anos, “à volta da importância do património musical europeu, seguindo o lema da União Europeia, ‘Unidade na diversidade’”.
O músico “dedica-se especialmente à salvaguarda da memória e do legado da famosa meio-soprano hispano-francesa Pauline Garcia-Viardot (1821-1910), que pode ser considerada a mais influente ‘mãe-fundadora’ da Europa da Cultura, e à preservação de importantes lugares de memória em Bougival, perto de Paris, nomeadamente a Villa Viardot - que foi restaurada e é inaugurada no próximo sábado, graças à sua liderança inspiradora e a esforços incansáveis, entre os quais o da Europa Nostra - e a Casa Bizet onde o compositor criou a sua obra-prima, ‘Carmen’, que hoje se tornou a ópera mais representada no mundo”.
Jorge Chaminé é também o fundador e presidente do Centro Europeu da Música, com sede em Bougival, "com antenas estabelecidas em vários países europeus e parcerias em mais de 50 países dos cinco continentes”, refere o CNC.
O CNC salienta ainda que, “sob o lema ‘Let’s empower Music!’, conta entre os seus projetos, que procuram ter uma visão holística em torno da Música e das suas múltiplas virtudes, com a grande rede Via Musica, à qual pertence a Rede de Casas e Museus de músicos europeus (que abrange 23 países e inclui entre muitas outras a Fundação Amália Rodrigues, em Lisboa), com a Via Scarlatti (que se desenvolve em Espanha, França, Itália e Portugal), e ainda com o 'hub' 'Música-Cérebro’”.
Jorge Chaminé é natural do Porto, onde nasceu a 30 de abril de 1956, e “ocupa um lugar de destaque no mundo do canto lírico internacional”.
Discípulo de Lola Rodríguez Aragón, Hans Hotter e Teresa Berganza, Chaminé “possui um vastíssimo repertório que vai de Bach a Xenakis (que escreveu uma obra para a sua voz), das óperas de Mozart ao repertório operático contemporâneo, do tango às liturgias hebraicas ou tibetanas, da Bossa Nova às canções de Cole Porter ou às canções ciganas”.
“Humanista e poliglota - fala francês, alemão, italiano, russo, inglês, espanhol e português -, Jorge Chaminé frequentou o curso de Direito da Universidade de Coimbra e dedicou toda a sua vida à promoção dos ideais europeus servindo-se da música como veículo privilegiado da identidade e consciência cultural da Europa aberta sobre o mundo”.
Como solista Chaminé trabalhou com a Sinfónica de Boston, a de Londres, a Filarmónica Checa e a de Berlim, a Orquestra Gulbenkian e o Ensemble Intercontemporain, sob a direção de maestros como Yehudi Menuhin, Seiji Ozawa, Giuseppe Sinopoli, Michel Corboz e Plácido Domingo, entre outros.
Em 1993, recebeu a Medalha dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em reconhecimento do trabalho desenvolvido com crianças, e foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da Music in Me (Music in Middle East), tendo desenvolvido nos países do Médio Oriente vários programas de ensino e prática musicais, nomeadamente nos campos palestinianos.
“A sua ação nos processos de paz nesta região tem sido saudada por diversas instituições”, realça o CNC.
Em maio de 2005, por ocasião dos 60 anos da criação da UNESCO, efetuou um concerto de homenagem ao diplomata Aristides de Sousa Mendes.
Chaminé foi fundador, presidente e diretor artístico do Festival CIMA ,na Toscânia, em Itália, e criou em 2000 a Associação Georges Bizet, da qual é vice-presidente.
Criou com a pianista francesa Marie-Françoise Bucquet os ateliês “Sons Croisés”, “reunindo no edifício da Fundação Gulbenkian em Paris, cantores, pianistas, músicos de câmara, [um] laboratório pedagógico e de interpretação musical que prosseguirá no Colégio de España da Cité Internationale Universitaire de Paris e que reunirá, durante vários anos, mais de 200 músicos de 46 nacionalidades diferentes”.
O barítono portuense foi criador do Festival Ibériades, em Paris, de que é ainda diretor artístico, e é também diretor do Festival de Bougival. Nesta cidade francesa, “e graças à sua ação”, a Villa, que pertenceu à meio-soprano Pauline Viardot, “voltou a ser o local musical privilegiado que foi no século XIX e Chaminé dá inúmeras 'masterclasses' e organiza vários concertos com os seus alunos cantores, pianistas e músicos de câmara”.
Jorge Chaminé foi nomeado em Madrid, em 2011, 1.º Músico para a Paz da organização Music for Peace presidida por Federico Mayor, à qual pertencem a estrutura de ensino musical venezuelana El Sistema, a Fundação Yehudi Menuhin, a West Esta Divan Orchestra, de Daniel Barenboim, e a Orquesta Simón Bolívar, de Gustavo Dudamel, entre outras.
O barítono português é professor desde 2012 na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, membro do Conselho de Administração da Fundação Internacional Yehudi Menuhin desde 2015, e do Conselho de Europa Nostra desde 2019.
Com o apoio da União Europeia e de outras organizações, criou o projeto “Music4Rom”, “em reconhecimento da influência fundamental da música de origem cigana (rom) na música clássica”.
Em 2018 Jorge Chaminé foi condecorado com o grau de Oficial da Ordem das Artes e Letras, pelo Governo de Françe e, em 2019, recebeu a Medalha Grand Vermeil da Cidade de Paris.
Jorge Chaminé foi também nomeado Embaixador para a Paz e Justiça dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas “Agenda 2030 Now”.
O primeiro distinguido com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, em 2013, foi o escritor italiano Claudio Magris.
No ano passado o galardão distinguiu a maestrina ucraniana Oksana Lyniv.
A cerimónia de entrega do Prémio Helena Vaz da Silva realiza-se no próximo dia 23 de outubro, às 18h00, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Comentários