O Barroselas Metalfest foi fundado pelos irmãos Ricardo e Tiago Veiga em 1998, então com 17 e 18 anos, sendo agora um evento que atrai uma média de cerca de 5.000 pessoas aos quatro dias de festival, mais de 30% das quais provenientes do estrangeiro, em particular de Espanha, segundo dados da organização compilados em 2011. “Costumamos dizer que duplicamos a população de Barroselas nesta altura”, disse à Lusa Ricardo Veiga, natural da pequena localidade com 3.927 habitantes, de acordo com os Censos de 2011.

Se o festival começou por ser um só dia no centro da vila, em 2013 são quatro dias em três palcos, tendo começado na quarta-feira, "dia zero", de forma gratuita e aberta ao público e prosseguindo até sábado, com alguns dos principais nomes da música extrema mundial no cartaz como Possessed, Pentagram e Cryptopsy.

Para o presidente da Junta de Freguesia de Barroselas, Vasco Lima, o evento é “naturalmente” uma mais-valia para o local, onde, à semelhança de outras povoações, “as pessoas acabam por se recolher e quase fugir da rua”, o que é contrariado por um festival que gera curiosidade e benefícios para o comércio. O facto de Barroselas receber um fluxo de visitantes, na sua maioria vestidos de negro com cabelos e barbas pouco comuns, ao princípio causava estranheza na população, mas hoje é encarado de forma positiva: “Não são bichos raros como se pode eventualmente pensar”, disse Vasco Lima.

Agostinho Carvalho, dono de um café há 23 anos no centro da freguesia, atribui aos participantes no festival “cinco estrelas” e lamenta que a sua presença seja, por vezes, aproveitada para lançar culpas por acontecimentos pelos quais não são responsáveis. “Às vezes há quem diga que eles fazem asneiras, aproveitam-se para lhes deitarem as culpas a eles. Para mim, são cinco estrelas”, disse à Lusa o comerciante.

Ana Paula Portela, também comerciante local, lembra que “agora é mais bem aceite pelas pessoas”, mas reconhece que “é um festival diferente, uma música diferente que nem toda a faixa etária gosta e, portanto, no início foi um bocado complicado”. Início esse que, na quarta edição do festival, em 2001, contou com incidentes no cemitério local, que são apontados como o ponto mais baixo da história do festival, quer pela organização quer pela população, mas agora geralmente considerados como estando ultrapassados.

“Em algumas realizações aconteceram episódios que chocaram de frente com aquilo que a população aceita como normal e que levaram a criar alguma resistência. Penso que, quer do lado da população de Barroselas quer do lado dos participantes, as situações se têm diluído”, disse o presidente da Junta de Freguesia, numa ideia subscrita pelos irmãos Veiga.

Tiago Veiga, formado em Economia, confessa que "os pontos baixos são fáceis de superar, os pontos altos nem sempre". Por outro lado, um dos pontos altos ocorreu no ano passado, quando, para celebrarem o 15.º aniversário do evento, uma das atividades programadas foi a atuação da Banda de Escuteiros de Barroselas a efetuar versões de clássicos de ‘heavy metal’ como Black Sabbath e Iron Maiden, algo que Tiago Veiga diz ainda lhe causar arrepios.

Já no recinto e à espera dos concertos está Nuno Carrilho, vindo de Águeda, que sublinha que a imagem nem sempre é o que parece: “O que me traz cá é a música e o convívio é muito bom. Podes deixar as tendas abertas, ninguém faz mal a ninguém. Ao fim e ao cabo, aqui passa-se uma má mensagem às vezes e isto é exatamente o contrário. Por causa do conteúdo de certas letras de certas bandas, mas [isso] é uma maneira de mandar cá para fora as coisas más. [Os músicos] estão a fazer isso e a gente curte ouvir algumas coisas, outras não.”

O SWR deste ano arrancou quinta-feira às 17:30, depois de um “dia zero” na quarta-feira, e decorre até à madrugada de domingo.

@Lusa