A história do primeiro Boom remete-nos a 1997 e a cerca de 3.500 pessoas. Tendo-se tornado um evento bienal, desde 2000 o Boom realiza-se nas margens da Barragem Marechal Carmona, em Idanha-a-Nova, e juntou este ano cerca de 30 milpessoas, de 102 nacionalidades diferentes (sim, quase meio mundo!!). É natural olhar para o lado e ver uns olhos em bico, provenientes do outro lado do mundo, do Japão, da China ou das Filipinas! Ouvir falar um espanhol com um sotaque estranho da Argentina ou do México!Cinco continentes representados e uma diversidade tal, que nos leva a pensar que poderíamos estar em qualquer parte do mundo e não nos recônditos esquecidos de Portugal.

No Boom propriamente dito, não há nada que desiluda. Nadaé deixado ao acaso. Apesar da espera para entrar, tudo é esquecido uma vez dentro do recinto. Esculturas a quase cada passo que se dá e que, durante a noite, têm uma iluminação que nos deixa embasbacados.

Começamos com uma visita ao Ambient Source, um espaço com música ambiente, que funciona 24 sobre 24 horas e onde se pode dançar, conversar ou até mesmo dormir, quando o cansaço é demais e já não se consegue chegar (ou encontrar) a tenda. Foi aqui que iniciou e terminou a música no Boom! Um concerto de Rão Kyao e Ruca Rebordão, a apresentarem o projecto “Samadhi”, para começar esta jornada, e um set especial de 6 horasde Mixmaster Morris para a finalizar.

Caminhando mais uns metros (largos), chegamos ao Alchemy Circle. Com o nome a ter origem no tema desta edição do Boom -a Alquimia -,é um espaço por onde passaram nomes como Extrawelt, Hedflux, Perfect Stranger ou Sensient e estilos entre o Techno, Progressivo ou Neo-Trance. Fica ali tão juntinho ao lago, que dá para dar um mergulho para refrescar do calor abrasador que se faz sentir e voltar à pista.

Seguindo caminho, chegamos ao Dance Temple, e aquilo que encontramos é um espaço gigantesco, um verdadeiro templo, capaz de albergar vários milhares de «boomers» para o ritual da dança. Este pode dizer-se que é o coração do Boom. As duas serpentes Quetzalcoatl a ladear o palco, as cores, o laser, luzes e a própria música transporta-nos para uma outra dimensão. Nesta jornada psicadélica, passaram nomes sonantes de todo omundo, como Hilight Tribe, que foi quem abriu novamente este espaço, Digital Talk, Goatika, Logic Bomb, Filteria, X-Dream, Kindzadza, Protonica, Shane Gobi, Ace Ventura, Space Tribe, Tristan, entre outros que merecem o mesmo destaque pelas suas performances.

Os restantes espaços que compõem o Boom levam à reflexão. No Sacred Fire, um espaço com jardins e um pequeno palco com músicas étnicas e tribais, sentimo-nos como em casa. E, se o cansaço for muito, dirijam-se à Healing Area, que,com terapias individuais ou de grupo, ajuda a retemperar energias do corpo e da mente.

Olhando à nossa volta no recinto, há uma coisa que não passa despercebida:o cuidado com o ambiente. Muitos dos matérias utilizados na construção do Boom são reaproveitados de outros festivais. As casas-de-banhosãocompostáveis, não utilizando produtos químicos, sendo queo resultado da compostagem é utilizado como adubo. Além do cuidado com as casas-de-banho, também a água dos chuveiros é aproveitada e reciclada, atravessando uma Eco-ETAR, onde passa por um tratamento de algas até poder ser novamente utlizada. Há tambémum cuidado especial com o lixo, incentivando-se as pessoas a separar e reciclar e há uma equipa a trabalhar 24h por dia,de forma aestar sempre tudo limpo e asseado (parabéns ECO-Team!!). Não foi por acaso que o Boom ganhou, em 2008 e 2010, o prémio Greener Festival Award (Outstanding Prize) e, em 2010, o European Festival Award– Green’n’Clean Festival of the Year. Foi também convidado a integrar o “United Nations Environment Music & Stakeholder Initiative”, um grupo criado pelas Nações Unidas que utiliza a “música para promover preocupações ambientais e o respeito pelo ambiente entre o público.

Aquilo que se transmite muitas vezes na imprensa acerca do Boom é toda a parte negativa relacionada com apreensões de droga e afins, mas não traduz, nem por sombras, aquilo que é um festival como o Boom - um local onde se vê toda a gente com um sorriso, onde a pulseira do Festival diz “All in One”, onde as pessoas partilham e repartem o que têm e, principalmente, o que são. Paz, Arte, Transformação Cultural, Amor. É o que diz no cabeçalho do jornal oficial distribuído pelo Boom (dharma dragon) e é aquilo que se sente lá, por quem lá passa.

Conselhos rápidos: Se estiverem a pensar ir ao Boom, tirem uns dias de férias a seguir…para se habituarem à ideia do regresso à realidade. Se não estiverem, pensem duas vezes!! É garantido que vale a pena, nem que seja pela lua cheia de agosto que conseguimos apreciar em todo o seu esplendor, em conjunto com o nascer do sol no magnífico lago de Idanha-a-Nova!

Texto: Cristiana Brandão

Fotografias: Ricardo Falcão