Palco Principal - As CSS surgiram num período em que a chamada “nu rave”, protagonizada pelas CSS e por bandas como os The Klaxons ou os New Young Pony Club, estava em alta. Entretanto, o hype desapareceu e, passados seis anos, é uma tarefa complicada seguir o rasto dessas bandas. Pode dizer-se que “Planta” tem menos rave e mais pop, menos pimenta e mais açúcar, colocando as CSS às portas de uma nova sonoridade? Qualquer coisa como eletrónica para os trópicos?

Luiza Sá - Nunca nos considerámos "nu rave". Aliás, esse termo quase nem é mencionado fora de Inglaterra ou fora da Europa. Não acho que faça muito sentido. Sempre tentámos, sim, fazer a nossa versão do que é pop. Obviamente, o som vai mudando, até porque fazer sempre a mesma coisa não é muito divertido nem muito desafiante. Quando estávamos na fase de produção de "Planta", tomámos a decisão de fazer um disco eletrónico e dançante. Acho que pode servir para os trópicos ou para outra qualquer parte...

PP - Poderá este disco ser visto como o fim da adolescência das CSS (no bom sentido da coisa)?

LS - Talvez. A maioria de nós já tem mais de 30 anos e, realmente, as coisas mudam. Mas acho que continuamos sempre a divertir-nos. Talvez agora sejamos mais tranquilas...

PP - Se a tua vida dependesse disso, como classificarias “Planta” num parágrafo?

LS - É sempre muito difícil resumir o que fazemos, estar tão consciente sobre conceitos... Mas posso dizer que "Planta" é um disco muito positivo.

PP - A saída de Adriano Cintra foi encarada como uma ferida aberta, uma sensação de alívio ou um tremendo desafio? Ou nenhuma destas hipóteses serve?

LS - As mudanças mexem sempre com o status quo... O Adriano era o principal compositor e era, também, o produtor. Logo, foi uma mudança significativa que, em alguns momentos, foi sentida como um desafio maior, mas que também nos levou a trabalhar muito juntas. Acabámos precisando mais umas das outras e, nesse processo, surgiram novas formas de trabalhar. Foi muito bom.

PP - De que forma foi o vosso som espremido pela produção de David Sitek, dos TV On The Radio?

LS - Em algumas músicas, a produção do Dave não foi tão marcante; em outras foi mais. Se o Dave acha que já está bom, não mexe tanto, mas quem conheceo som dele vai conseguir ver onde tem mais e menos Sitek no disco. Acho que, além de ter aquele som eletrónico e com muito soul, o Dave leva as pessoas a trabalhar de uma forma que elas nunca trabalhariam sem ele. Ele abre os leques de possibilidades de uma forma bem divertida. Frankie Goes to North Hollywood, por exemplo, é uma faixa que foi escrita e criada com o Dave. Acho que nunca faríamos uma música assim sem ele.


PP - Que tema de “Planta” ilustra melhor o ambiente sonoro do disco e a sonoridade que procuraram?

LS - Não consigo escolher uma só música e acho que isso vale, também, para os outros discos que fizemos antes. Uma característica nossa é sermos uma mistura de vários estilos. Eo disco é um conjunto de coisas diferentes. Apenas é mais eletrónico e dançante.

PP - Por que decidiram gravar o disco em LA?

LS - LA é um lugar muito bom para nós. Todas as vezes que íamos lá em trabalho, era sempre muito especial e, em 2011, quando fomos lá tocar em dois concertos, criou-se uma semente na minha cabeça. Os nossos managers também estão lá. Quando fomos decidir os planos para 2012, tivemos a ideia de ir para LA e não existiu muita discussão. Parecia fazer sentido. E foi, até, melhor do que eu esperava!

PP - Como abraçaram a tarefa de composição das letras?

LS - Já todas nós tínhamos escrito música antes, então não foi uma mudança muito grande, nomeadamente em relação às letras. Acho que, nos anos que antecederam "Planta", acabámos compondo mais letras do que música.

PP - “Let`s Make Love and Listen to Death From Above”, cantava-se há alguns anos atrás. É esta, ainda, uma das máximas das CSS, daquelas frases que podiam ser mandadas pintar em t-shirts?

LS - O que se pode pintar numa t-shirt muda de acordo com o momento. Em "La Liberación" achava que "Fuck Everything" era um bom mote, por exemplo. Ainda gostamos muito de "Let's Make Love", mas estamos sempre em sintonia com o que estamos a fazer no momento. Agora, temos uma t-shirt que diz: "CSS - You're welcome".

PP - Acompanham a cena musical dos dias que correm ou preferem ouvir coisas mais intemporais? O que anda neste momento a rodar nos vossos i-pods e qual o vosso disco do ano até à data?

LS - De 2013, é difícil dizer, ainda. No ano passado ouvimos Grimes - "Visions" e Kendrick Lamar - "Good Kid Maad City", e também Prince Rama - "Top Ten Hitsof the End of the World" e Patti Smith - "Radio Ethiopia".

PP - Quais foram os últimos concertos a que assististe enquanto espetadora?

LS - Tinariwen, De La Soul e The Oh Sees.

PP - Ainda estamos a muitos meses do acontecimento, mas que nos podes dizer sobre o concerto de outubro em Portugal?

LS - Já faz um tempo que não tocamos em Portugal, onde nos sentimos muito em casa e muito felizes. Camos comer muito e divertir-nos, como sempre. E tocar músicas novas também!

PP - Continuam a sentir-se raparigas sexy?

LS - Mais do que nunca.

Por Pedro Miguel Silva