Celeste Rodrigues canta na «Casa de Linhares» há dez anos, ainda esta tinha o conhecido nome «Bacalhau de Molho». Ao longo do tempo o público, ou os amigos, como a fadista gosta de chamar às pessoas que a vão ver cantar aos domingos à noite, são cada vez mais estrangeiros que portugueses. O facto é admitido por Pedro Guerra, gerente deste espaço.

Pedro Guerra contou ao SAPO Música que a «Casa de Linhares» é, como grande parte das construções de Alfama, do séc. XVI. No entanto, este espaço tem uma história muito particular. O edifício pertencia aos condes de Linhares, uma das mais importantes famílias medievais. Um dos filhos dos condes era bispo de Lisboa e mandou escavar um túnel que ligasse a sua casa à Sé. Apesar de ter sido selado, ainda é possível ver o início deste caminho, escondido para lá de um arco, junto à garrafeira da Casa de Linhares.

As maiores mudanças deram-se nos últimos oito anos. Além de adotar um novo nome, a «Casa de Linhares» foi ampliada e, segundo Pedro Guerra, «deixou de ter um caráter clubístico para se tornar uma casa profissional». Além de Celeste Rodrigues, podem encontrar-se aqui vários fadistas da velha guarda, como Cidália Moreira e Jorge Miranda, e rostos da nova geração, como Raquel Tavares e Fábia Rebordão, ou até a também atriz Marina Mota.

Celeste Rodrigues, com 88 anos, assume que a sua voz já não é igual, mas os anos de vida e a experiência permitem-lhe imprimir ao fado o sentimento que alguém mais novo não consegue. «Só depois de se crescer por dentro é que se entende o que o fado que dizer», conta-nos.

Quando lhe perguntamos se precisa de alguma preparação para começar a cantar, a fadista responde dizendo que «mesmo que não nos apeteça cantar, quando começamos a ouvir as guitarras, aquilo é tão lindo, que nos apetece logo cantar».

O fado está longe de ser uma música triste para Celeste Rodrigues. Afinal, como a própria questiona, como pode aquilo que é «belo» ser triste? «Para mim não há canção mais bonita que o fado», reitera.

Quando lhe falamos de futuro, Celeste manifesta apenas um desejo: manter a voz que tem para cantar, pelo menos durante mais um ano, porque se a voz já não é a mesma, o sentimento, esse, está todo lá.

@Gonçalo Sá e Inês Alves