“A marcha vai ser um momento de homenagem e que visa traduzir a mensagem de base de Azagaia: povo no poder”, declarou à Lusa Quitéria Guirengane, ativista e líder do grupo que está a organizar a iniciativa nacional, inédita nos últimos anos.
A marcha em homenagem ao artista chamado “rapper do povo” está confirmada nas cidades de Maputo, Inhambane, Xai-Xai, Beira, Quelimane e Nampula, pontos em que as autoridades municipais responderam positivamente ao aviso dos organizadores.
Na cidade de Pemba e na vila de Montepuez, as duas na província de Cabo Delgado (norte), os ativistas foram “aconselhados” pelas autoridades a evitar o “movimento”, argumentando que a situação de insegurança devido aos ataques de insurgentes na província abre espaço para a entrada de “aproveitadores” que podem colocar em causa os objetivos da marcha pacífica.
“Chegamos ao consenso com os próprios organizadores de que não é um contexto oportuno para a realização da marcha”, declarou Mário Adolfo, porta-voz da Polícia da República de Moçambique na província de Cabo Delgado, numa conferência de imprensa convocada hoje.
Para as cidades de Chimoio e de Tete, as autoridades municipais ainda não responderam ao documento dos organizadores, mas a lei estabelece que a marcha pode ocorrer mesmo na ausência de uma resposta, desde que tenha sido submetido às autoridades um documento formal de aviso prévio.
Na terça-feira, o funeral juntou milhares de pessoas na capital moçambicana, mas o cortejo foi bloqueado por blindados e polícia fortemente armada num ponto do percurso que passaria em frente à residência oficial do Presidente da República.
Houve momentos de tensão e chegou a ser disparado gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, que teve de recorrer a uma via alternativa.
Para as marchas de sábado, os organizadores acreditam que “tudo vai decorrer de forma organizada e pacífica”.
“Nós estamos em comunicação com o chefe do comando de operações da polícia para pedir proteção e é isso que nós esperamos que aconteça. Queremos proteção e não outro tipo de abordagem policial”, frisou Quitéria Guirengane.
Em Maputo, a marcha atravessa o coração da cidade: começa às 8h00 (6h00 em Lisboa) na estátua de Eduardo Mondlane, percorre a avenida Karl Max e termina na Praça da Independência.
“Só pela forma com que estas marchas estão a ser organizadas em quase todo o país, para nós, já é uma vitória”, concluiu a ativista moçambicana.
Com mais de 20 anos de carreira, o rapper ficou célebre pela crítica aberta à governação em Moçambique e por dar voz aos problemas da população, de tal forma que em 2008 chegou a ser questionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
As rimas não passavam na rádio e televisão públicas e os deputados da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência, apontavam-no como intérprete da oposição.
Azagaia, nome artístico de Edson da Luz, morreu na quinta-feira, aos 38 anos, em sua casa, após uma crise de epilepsia, segundo a família do artista.
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