Três álbuns em três anos consecutivos é obra. Sobretudo quando todos mantêm um nível qualitativo comparável, consolidando o percurso de um dos nomes fortes da folk recente. "Dark Undercoat" (2008) foi uma bela revelação, "Victorian America" (2009) manteve os traços de uma escrita e interpretação invulgares e "Ode to Sentience" (2010) continua a dar motivos para seguir Emily Jane White bem de perto.
Os ambientes são os mesmos que a cantautora residente em São Francisco tem percorrido, cruzando heranças do rock alternativo com raízes da americana ou do blues onde é ainda evidente uma relação com alguma literatura gótico-sulista.
A referência à morte, à religião, ao Diabo, ao sangue, a fantasmas ou a cenários campestres é habitual, mas se muitos destes elementos não serão dos mais reluzentes, White consegue o pequeno milagre de os integrar em canções vincadas por uma serenidade e beleza atípicas.
"Black Silk" é o melhor exemplo desta combinação, onde voz e guitarra chegam e sobram para desenhar um dos temas mais desarmantes da sua discografia - o que não é dizer pouco. Noutros momentos, o piano ou o violino surgem como companhia embora nunca comprometam a atmosfera minimalista do álbum - mais próxima do despojamento de "Dark Undercoat" do que da maior opulência (mas não muita) de "Victorian America".
Estes dois antecessores são, aliás, o único senão de "Ode to Sentience". Se por um lado o novo disco sedimenta uma linguagem própria, não a enriquece com novos condimentos. O que não chega a ser um problema, já que um álbum com canções como "I Lay To Rest (California)", "Oh Katherine" ou "Requiem Waltz" dificilmente oferece grandes razões de queixa.
Videoclip de um tema novo, "The Cliff":
Videoclip de "Wild Tigers I Have Known" (de "Dark Undercoat"):
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