O encontro está marcado esta noite, quando for apresentado o programa dos 40 anos do Jamaica para os próximos meses, e juntará na cabine os cinco homens que colocaram música ao longo destes anos.

Mário Dias, a trabalhar na rádio TSF, foi o primeiro DJ do Jamaica, em 1975, quatro anos depois da abertura da discoteca. Tinha na altura 23 anos e viu naquele trabalho a oportunidade de se aproximar daquilo que mais queria: fazer rádio.

Na altura não era comum dizer-se DJ, mas sim alguém que passava música numa discoteca, mostrando e apresentando vinil atrás de vinil, com as novidades rock e reggae que chegavam de fora e também com o que se ouvia em Portugal: Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Fausto.

Em entrevista à agência Lusa, Mário Dias recordou que muita gente também levava discos de casa, alguns que ainda não tinham saído em Portugal, como os primeiros singles dos Talking Heads, de Blondie e Bruce Springsteen.

"O Jamaica era frequentado essencialmente por malta de esquerda e como eu tinha o privilégio de usar o microfone, era sempre o reviralho a noite inteira. Falava entre os discos, apresentava as músicas, mandava bocas, que é coisa que não se faz agora", disse Mário Dias entre risos.

O jornalista da TSF ficou no Jamaica até 1987 e desde aí até 2006 o lugar foi ocupado por Jorge Bernardino, Armando Oliveira e Pedro Rodrigues.

Actualmente é Bruno Dias, o filho, de 30 anos, que assume o mesmo papel do pai, Mário Dias.

É o DJ residente do Jamaica desde 2006, depois de ter passado pelo Ritz Club e pelo Tokyo, mas lembra-se desde sempre de estar naquela discoteca.

"Sentava-me em cima de uma caixa de vinil na cabine e passava lá as noites, porque achava piada àquilo. Uma vez por outra deixavam-me passar uns discos e fui ganhando o bichinho", explicou o DJ à agência Lusa.

Hoje, Bruno Dias ainda inclui na selecção musical muitos temas que passavam há 30 anos no Jamaica, "porque as boas músicas são intemporais".

"Noto, mas dá-me gozo, passar um Zeca Afonso, olhar para a pista e ver que há meia dúzia de pessoas que ficam com cara de quem não está a gostar da música", reconheceu.

Ainda que refugiado no espaço do DJ, na cabine atrás do aparelho de onde debita a música, Bruno Dias tem a percepção de que há várias gerações a dançar no espaço do Jamaica: "De vez em quando aparecem pessoas que dizem que conheciam o meu pai e que gostavam".

Apesar do desgaste da vida nocturna, do qual não tem saudades, Mário Dias relembra com alguma saudade as histórias de muitas noites a escolher música para os outros, ainda que esses outros fossem músicos.

"O Joe Strummer veio cá com a banda [The Clash] e ficou mais oito ou 15 dias de férias e todas as noites ia ao Jamaica. Ficámos amigos. Era um gajo do caraças e passava completamente despercebido, era o anti-vedeta absoluto", elogiou o radialista.

Há pelo menos uma tradição que passou de pai para filho, e também pelos restantes DJ que puseram música naquela discoteca ao longo de 40 anos: as noites do Jamaica terminam sempre com uma valsa.

@SAPO/Lusa