
Andreia Soares e Liliana Almeida deram as boas-vindas às centenas de espetadores que vieram à procura de boa música. As cantoras, vindas da pop, apresentaram a sua nova incursão musical, o Projecto Kaya, e o single Fangolé, uma mistura de fado com ritmo "mwangolé".
Os duetos foram uma constante, porque este não era um espetáculo de individualidades, e logo subiu ao palco Paulo de Carvalho. Não poderia faltar a este encontro uma das vozes que abriu caminho à liberdade, com o hino "E Depois do Adeus", e um artista que viu brotar as independências destes países.
De guitarra ao peito e Angola no coração, Paulo Flores revisitou "Ser da Lata" e "Mama Lélé", que contou com a participação especial do filho que já lhe segue as pisadas. O músico acredita que a força da lusofonia está nas novas gerações que encaram esta identidade de uma outra perspectiva.
"Na minha geração e em outras anteriores ainda existem muitos traumas do que passou e estes jovens constroem o futuro sem estas cargas tão pesadas. É bom mostrarmos as nossas diferenças e mostrar o que cada um tem de melhor para construirmos um mundo que fala português com muito mais importância e consistência", contou ao SAPO Paulo Flores.
Na plateia, avós, pais e filhos dançavam e cantavam ao som dos diversos ritmos, estava assim cumprido o objetivo traçado pelos jovens da Conexão Lusófona, que é precisamente dar voz à lusofonia e criar um ponto de encontro de gerações e culturas irmãs.
"Este novo fulgor, esta força, esta vontade de nos juntar é muito importante e nisso a Conexão Lusófona está de parabéns", disse Lura, a cantora cabo-verdiana que entrou em palco para acelerar o ritmo e incrementar a dança. Começou de mãos dadas com Paulo Flores, com a música "É só ma bo", e prosseguiu com os temas "Raboita di Rubon Manel", "Vasulina" e "M’bem di Fora". Nesta altura o largo estava já repleto, mas a falta de espaço não foi impedimento para a dança quando Lura soltou o funaná.
O dia 5 de julho fica também marcado pela celebração do 39º aniversário da independência de Cabo Verde aqui lembrado e exaltado por Lura com um forte "Viva Cabo Verde, Viva a Independência".
Mais um país, mais um ritmo quente. O cantor guineense Patche di Rima, que iniciou uma carreira de sucesso com o lançamento do álbum "Genial Amor" (2005), não deixou baixar a energia e desafiou o público a dançar "Guiné tem ku tené paz".
São Tomé e Príncipe fez-se representar pela dupla Calema, que dispensou a banda para cantar um medley ao som da guitarra de António e do cajon de Fradique. Esta dupla romântica lançou o primeiro disco em 2010, chamado "Ni Mondja Anguené", e prepara-se para lançar o segundo álbum em Lisboa, já na próxima semana.
De Timor, o guitarrista Kay Limak, membro do grupo Laloran Tasi Timor, deixou-nos os acordes que reúnem diferentes estilos com características orientais.
Stewart Sukuma foi dos mais impressionantes. Com o jogo de cintura e bem afinado, arrebatou o público com a marrabenta. Aceitou o convite para ser embaixador da música moçambicana neste evento, o que diz ser uma honra mas também uma grande responsabilidade. "Estes espetáculos são muito importantes para que os músicos das várias vertentes se possam conhecer, sem discriminação absolutamente nenhuma. Este é o momento de alegria e, acima de tudo, de consagração destes povos aqui unidos com um único objectivo: a cultura", defendeu.
Já perto do final, António Zambujo convidou-nos a dar uma voltinha na sua "Lambreta". Descobriu Luís Represas na plateia e não hesitou em chamá-lo ao palco. "Mesmo à má fila, como eu gosto", disse o cantor português, que logo se juntou a Zambujo para cantar "Zorro".
Faltava o samba para pôr os brasileiros a cantarolar. Os Couple Coffee, grupo formado pela vocalista Luanda Cozetti e o baixista Norton Daiello, trouxeram músicas de Chico Buarque e Zeca Afonso.
A festa da lusofonia despediu-se com todos artistas em palco para cantarem "Venham mais cinco", de Zeca Afonso, e "Sodade". Por momentos, o crioulo foi a língua mãe e o legado de Cesária Évora, diva dos pés descalços, uniu os artistas numa música que dá corpo à identidade lusófona.
@Vanessa Colaço e Edson Vital / SAPO Txiling
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