A briga nos bastidores abriu 15 anos de uma guerra fria entre os irmãos Liam e Noel Gallagher, vocalista e guitarrista do grupo de "britpop". Um conflito que foi encerrado esta terça-feira, com o anúncio do regresso aos palcos em 2025.

"Naquela altura, a área VIP a que a imprensa tinha acesso ficava ao lado dos camarins, separada apenas por uma divisória de bambu. A determinada altura, ouvimos barulhos estranhos, gente a gritar, uma espécie de estrondo", recordou Olivier Nuc, repórter musical do jornal francês Le Figaro.

"Três minutos depois, vejo um dos organizadores a correr pela área VIP. Algo tinha acontecido. E o boato começou a aumentar: os Oasis não vão atuar", contou.

A briga entre Liam e Noel começara no camarim. No meio do desentendimento, os dois partiram uma guitarra que em 2022 seria leiloada por 385 mil euros.

"Um pouco de tristeza e um grande alívio"

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Salomon Hazot, um dos diretores pelo festival, sobe imediatamente ao palco com o microfone na mão para fazer um dos anúncios mais surreais da história do rock.

"Informo que, infelizmente, neste momento no Rock en Seine, o Liam e o Noel brigaram. A banda já não existe. Vocês podem aceder ao site dos Oasis e o Noel explicará tudo sobre a briga e o fim da sua história com o Liam", continuou enquanto o público protestava gritando "Não é verdade!", "É uma piada!".

Hazot, que também foi organizador dos concertos da banda na França, teve de traduzir a mensagem para os 30 mil espectadores de língua inglesa que compareceram ao evento.

"Já estou cansada deles. Como podem tratar os seus fãs desta forma?", lamentou na época Katie Even, uma advogada de 25 anos que gastou 500 euros para viajar de Dublin até ao festival.

Na mesma noite, Noel apresentou explicações no site do grupo. "É com um pouco de tristeza e grande alívio que vos digo que estou a deixar os Oasis. As pessoas vão escrever e dizer o que quiserem, mas é impossível continuar a trabalhar com o Liam por mais um dia. As minhas desculpas a quem comprou bilhetes", afirmou o guitarrista e compositor da banda.

O então diretor geral do festival, François Missonnier, acabou por ser o responsável por dar explicações à imprensa: "Por motivos que desconhecemos, começou uma briga entre os dois irmãos. O Noel foi embora do festival e ninguém conseguiu convencê-lo a voltar".

Anos depois, o então responsável pela comunicação e atual diretor do Rock en Seine, Matthieu Ducos, relembra estes momentos de confusão à AFP. "Quando descobrimos que o Noel tinha saído do festival, achámos que era brincadeira", conta.

"Festival amaldiçoado"

Este não foi o primeiro fiasco do festival parisiense. Nas duas edições anteriores, a cantora britânica Amy Winehouse, que faleceu em 2011, cancelou a sua participação à última hora.

"O Rock en Seine, antes dos Oasis, já começava a ter a reputação de ser um festival amaldiçoado", observa o jornalista musical Olivier Nuc.

Mas para Ducos, o episódio do Oasis acabou a contribuir para esta lenda com "grandes concertos memoráveis e ausências de grandes artistas memoráveis".

Para conter a polémica, os organizadores pediram ao grupo britânico Madness, que já tinha atuado, que subisse ao palco principal.

A resposta da banda foi: "Ok, quanto nos pagam?", diz Nuc. Na altura, o jornal Le Parisien relatava "uma quantia de 120 mil euros, além dos 50 mil pagos pelo seu primeiro concerto".

"Realmente, estamos arrasados com o que aconteceu com eles (...). Claro que não, não estamos nada arrasados", brincou Suggs, vocalista dos Madness, no palco.

Quinze anos depois e com os Gallaghers em paz, pelo menos momentaneamente, o festival parisiense candidatou-se a "receber os Oasis" no seu palco.

Seria "apoteótico um concerto de regresso como este", sonha Ducos.