A primeira vez que esteve em Portugal foi no Coliseu dos Recreios. Estávamos no ano de 2006 e o seu primeiro álbum, "Back to the Bedlam", que alcançou múltiplas platinas por todo o mundo,foi o mote para a visita a Lisboa. Passados cinco anos da estreia do single You’re Beautiful e depois de mais duas passagens pelo nosso país - a última foiem Agostoúltimo, na Expofacic, em Cantanhede - James Blunt regressou com o seu último trabalho "Some Kind a Trouble", para um concerto imprevisível.
A magnífica sala do Coliseu dos Recreios não esgotou, mas a moldura humana presente foi mais do que suficiente para aquecer a noite.A primeira parte foi feita, honradamente, pelos Jukebox The Ghost, que subiram ao palco15 minutos antes do previsto e fizeram-se anunciar com um “Olá” dito em bom português ea plenos pulmões. O grupo originário de Nova Iorque apresentou-se pela primeira vez em Portugal e está a acompanhar o anfitrião da noite nos seus concertos pela Europa. A banda trouxe na bagagem os seus dois álbuns, "Let Live and Let Ghost” e "Eveything Until the Sun".
Schizophrenia foi a primeira canção da noite. Seguiu-se um conjunto de melodias que se fundem entre o pop/rock com algumas gotas de indie, que entram facilmente no ouvido. Entre as sete canções tocadas,destacaram-se Say When, The Stars, Summer Sun e Empires,afechar o espetáculo. Cada canção é partilhada vocalmente entre Tom Siegel (guitarrista) e Ben Thornewill (pianista). Mas o grupo é um trio,sendo quea juntar-se aos dois músicos está Jess Kristin, baterista da banda, que alternava o som das baquetas com maracas e pandeiretas.
O trio confessou quejá há duas semanas que anda na estrada e agradeceu imenso o apoio que lhes tem sido dado. "Estamos muitíssimo orgulhosos desta digressão e de a partilharmos com o James Blunt", revelaram. No final, Tom Siegel e Ben Thornewill despediram-se do público com um grande “muito obrigado” e avisaram os presentes que estariam na parte do merchandising para dar autógrafos e dizer "Hello".
Os Jukeboxe The Ghost deixaram todos os presentes rendidos e levaram com eles uma enorme salva de palmas distribuída por todos com enorme gosto. O trio mostrou-se bastante entusiasta, digno de merecerum lugar nas rádios nacionais e uma nova oportunidade num concerto em nome próprio, num espaço mais pequeno.
Depois de algum tempo, dedicado à preparaçãodo palco, James Blunt desfilou de forma despercebida até ao palco, pelo meio do público. Este só se apercebeu da sua presençaquando um foco de luz incidiu sobre o cantor e depressa a receção se tornou calorosa. De calças de ganga e t-shirt, o cantor de 37 anos sobe para o palco com a sua banda devidamente instalada e tocando os acordes de So Far Gone, do seu último trabalho. Em cima do palco, uma estrutura compostapor luzes led projetava imagens de grandes metrópoles, que iam alternando consoante as músicas.
Dangerous, o último single de “Some Kind a Trouble”, Billy e Wiseman, ambos do primeiro trabalho, foram tocadas pelo próprio James Blunt de guitarra em punho e de forma divertida, com direito a poses para os fotógrafos.
“Olá Lisboa. Boa noite”,arriscou Blunt, com ligeiro sotaque. “Tenho medo do meu português. Sei falar um bocadinho de espanhol, mas prefiro dizer obrigada", continuou. James Blunt também comentou o facto de já ter tocado naquele espaço e afirmou que é um dos melhores lugares para tocar -“ o edifício é espetacular!”.
O primeiro momento alto da noite foi com Carry you home, do segundo álbum, “All Lost Souls”, lançado em 2007, em que toda a plateia entoou numa só voz o refrão da música. Seguiram-se These Are The Words e I'll take everything, canção em que James Blunt deixou as guitarras de lado para se sentar ao piano. Foi o segundo grandemomento da noite, pois tocou-a com imensa garra, como se sentisse uma revolta em cada palavra, interagindo com o público através de expressões corporais. Depois de Out Of My Mind, os arrepios fizeram-se sentir através de Goodbye My Lover. Sozinho ao piano, com um foco de luz roxa a incidir no artista, a sala quase estremeceu quando a frase "I'm so halo" se fez ecoar.
“Esta foi a primeira música do meu primeiro álbum. É para vocês”- e High, Same Mistake fez-se ouvir. If Time Is All Love, dedicada aos namorados e aos maridos que acompanharam as suas mulheres até ao Coliseu, surgiu de seguida. Em Turn Me On e Superstar, James Blunt empoleirou-se na coluna, defrente para o público, e ainda desfilou em frente aos seus músicos, pedindo aplausos aqui e ali. Já no final do concerto, cantou a música mais esperada da noite. You're Beautiful foi novamente dedicada à plateia e todos a cantaram sem falhar uma nota. Para o fim, So Long Jimmy proporcionou o despique entre o teclista e o guitarrista. Sem interrupção, passaram para I'll Be Your Man,na qualque James Blunt salta para cima do público, com direito a um crowsurf!
O cantor agradeceu a todos o maravilhoso concerto e saiu do palco, mas nem foi preciso ninguém pedir para ele regressar. James Blunt surge novamente com a sua jovialidade para encantar com Stay The Night, ilustrada por bonitas imagens de praia. Quem estava sentado ficou logo de pé.
A última música da noite foi 1973 e assim voltámos atrás no tempo, mas, em vez da bola de espelhos, havia uma cortina com pontos luminosos que pareciam estrelas. James Blunt instalou-se ao piano e no fim da canção colocou-se em cima dele, como se estivesse em cima de uma prancha de surf, a bater palmas ao compasso da melodia. Nas despedidas, o cantor apresentou os membros da banda, tirou uma foto ao público com o seu telemóvel e ainda desceu até às grades para buscar uma bandeira portuguesa e levá-la com ele.
Foram parcas as palavras trocadas entre o público, mas este não se incomodou. Durante hora e meia James Blunt tocou como se fosse a última hora da sua vida e revisitou os grandes êxitos, um a um. Aliás, cada single do artista é puro caso de sucesso. Melodias fáceis, adaptadas a letras de carga emotiva muito grande e com mensagens muito particulares, que vão desde as conquistas a desilusões amorosas. Ficamos, certamente,à espera do seu regresso.
Uma nota aos leitores: no website do cantor estãoà venda músicas, em formato MP3, dos seus diversos concertos. Aguardamos que também surja o nosso concerto.
Texto: Ana Cláudia Silva
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