"O livro apresenta toda a riqueza do jazz em Lisboa durante os anos pré-Villas-Boas [Luís Villas-Boas, fundador do Hot Clube de Portugal em 1948]", explicou João Moreira dos Santos à agência LUSA. O investigador passou uma década a reunir informação sobre todos os locais em Lisboa relacionados com o jazz, os primeiros concertos, as lojas de discos, os clubes e os cafés, fazendo uma espécie de mapeamento jazzístico.

Dele fazem parte o Teatro da Trindade, que acolheu em 1927 um concerto dos The Robinson's Syncopators, o restaurante Primavera do Jerónimo, onde Josephine Baker almoçou em 1939, e o café Chave d' Ouro, palco das primeiras "jam sessions" públicas e onde se dizia que se serviam "torradas com sabor a charleston".

A Rádio Renascença também entra no roteiro, porque foi lá que em 1948 se realizou a primeira "jam session" numa rádio, com o saxofonista norte-americano George Johnson.

"Lisboa era uma cidade periférica naquela altura. Só o Luís Villas-Boas é que conseguiu mais tarde trazer muitos dos grandes nomes, mas a cidade era também um ponto de passagem ou de despedida para quem ia, por exemplo, para os Estados Unidos", disse.

O investigador recorda ainda que "a relação do poder com o jazz era muito subtil" na época. "Algumas elites culturais e das letras fizeram uma reação negativa ao jazz, porque achavam que ia derrubar a cultura ocidental civilizada. Para alguns era um escândalo ter negros nos salões aristocráticos e Salazar considerava-a uma música subversiva", argumentou.

João Moreira dos Santos lamentou que “muita coisa não tenha sido preservada”, exemplificando com o antigo clube Bristol, próximo do coliseu, que já foi Casa do Benfica, tinha decoração assinada por Almada Negreiros e do qual só existem as portas originais.

O livro inclui fotografias e anúncios de época que o autor encontrou "nas milhares de horas passadas a ver jornais" e livros nos arquivos da cidade. João Moreira dos Santos apresenta agora em livro uma versão alargada das visitas guiadas que realiza ocasionalmente desde 2005 em torno destes locais.

"Há muita informação nova de época", referiu, como a da atuação em 1948, no Teatro Politeama, dos Nicholas Brothers, considerados na altura "estrelas de Hollywood no step dance e no swing", e as noites de "swing" da Feira Popular. "Roteiro do Jazz na Lisboa dos anos 20-50" é editado pela Casa Sassetti.

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