A digressão "Vikings And Lionhearts" trouxe à capital portuguesa toda a radiância da maior produção que os Machine Head já apresentaram, enquanto grupo a tocar ao vivo, nos seus mais de 30 anos de actividade. Com direito a pirotecnia, chuva de papel e discurso motivacional, os músicos brindaram os seus seguidores na noite deste domingo, 9 de outubro.

Da formação original, o único remanescente é o frontman (guitarrista e vocalista) Robb Flynn. O músico é altamente carismático e sabe muito bem como conduzir uma malta headbanger ávida por música pesada com nuances melódicas e versos que intercalam guturais com cantos limpos repletos de emoção.

Desde 2019, o guitarrista lead que tem atuado com a banda é Wacław Kiełtyka, mais conhecido como 'Vogg'. O artista é membro de um dos grupos mais aclamados no death metal mundial, o Decapitated. Os outros dois membros que completam o quarteto com Robb no momento são Jared MacEachern (baixista) e Matt Alston (baterista).

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O alinhamento agradou tanto aos ouvintes de longa data quanto aos mais recentes e isso deve-se ao facto de terem mesclado o seu trabalho novo com clássicos mais contundentes das três décadas de história.

"BECØME THE FIRESTØRM", do lançamento "Of Kingdom and Crown", de agosto deste ano, foi o arranque ideal para trazer o frescor da fase atual dos Machine Head. A resposta do público presente no Campo Pequeno, em Lisboa, foi à altura da intensidade contagiante que o som propõe.

A sequência veio com "Imperium", do tão apreciado "Through the Ashes of Empires" (2003). Flynn convocava a todos, clamando por 'circle pit', assim que a base mais empolgante e pesada estava para entrar. Claro que a audiência respondeu de prontidão e rodas enormes abriram-se na arena.

2Ten Ton Hammer" foi iniciada logo depois. A faixa é muito especial, porque foi a que fez com que os Machine Head ganhassem uma notoriedade global no âmbito da música pesada. O tema é do álbum "The More Things Change…" (1997), uma fase da década de 90 impulsionada por um heavy metal com mais groove, que conquistou um vasto contingente de adeptos.

"I Am Hell (Sonata in C#)", de "Unto the Locust" (2011), remete a uma altura em que a banda flertou com death metal melódico e, consequentemente, satisfez metaleiros mais característicos e amantes de harmonias e solos com um maior grau técnico.

"Blood for Blood", de "Burn My Eyes" (1994), foi emendada a seguir e despejou uma energia colossal advinda de um thrash metal mais tradicional. O maior circle pit do evento ocasionou-se ali.

Aí surgiu o momento em que Robb decidiu abrir-se com o público e contar sobre o carinho que tem por Portugal desde 1994, quando os Machine Head vieram pela primeira vez para uma digressão com os Slayer, além de falar também que em momentos de depressão sempre recorreu à música e não a um suposto Deus.

"A coisa, para a qual sempre me virei, foi a música. E penso que posso falar por cada pessoa nesta sala. Vocês talvez sintam-se da mesma maneira. Em determinada altura da vida, a música veio para preencher esse vazio dentro de vocês. Nada mais o faria, e, é por isso que estão cá", frisou.

Com uma guitarra acústica em mãos, Flynn deu início aos acordes de "Darkness Within", também de "Unto the Locust", levando muitos às lágrimas.

O peso esteve logo de volta com "Now We Die", do Bloodstone & Diamonds (2014). "From This Day", de um dos álbuns mais vendidos deles, intitulado "The Burning Red" (1999), foi o tema escolhido para dar um andamento ainda melhor à atmosfera que se criou depois do momento mais intimista.

Por fim, aconteceu até trechos de covers dos Slayer e dos Iron Maiden, com "Raining Blood" e "The Number of the Beast", respetivamente, na abertura e no fecho de "Davidian", também extraída do primeiro álbum ("Burn My Eyes"). A canção é muito estimada por ter introduzido os Machine Head, em meados da década de 90, como uma das bandas mais promissoras da cena pesada norte-americana.

As luzes apagaram-se e só se ouvia o nome do grupo aos gritos, em uníssono. Os músico vieram então com o encore. A magnífica "Halo", do álbum "The Blackening" (2007), agradou a toda a gente e chegou com de uma chuva de papel picado. Assim foi entregue um espetáculo memorável, que promete ser mencionado às vindouras gerações lusitanas que vão apreciar o melhor que a música pesada consegue inspirar.