Revelando o espírito internacional que os More Than A Thousand já colhem, as bandas de abertura convidadas chegaram de dois pontos distintos do Velho Continente. Cosmogon, banda do Luxemburgo reerguida das cinzas dos Ex Inferis, contam apenas com dois anos de existência e encontram-se a dias de lançar o seu primeiro registo de longa-duração. A meio-gás, acabaram por debitar a sua música de ritmos fortes mas pouco memoráveis para uma sala já composta e sedenta da musicalidade melódica que se seguia. Os problemas técnicos que marcaram o início do concerto foram esquecidos mais perto do final da atuação, no momento em que o baixista, Dani da Cunha, desceu do palco para tocar no meio dos presentes, que o circundavam a boa velocidade.

De regresso à República da Música depois de atuarem no Jurassic Club Fest 2013, os Bury Tomorrow mostraram-se confortáveis por já conhecerem a sala e um pouco do que o público português é capaz de mostrar. Carismaticamente liderados pela voz de Daniel Winter Bates, os britânicos aproveitaram esta ocasião para apresentar alguns temas de “Runes”, álbum que irão lançar no próximo mês de maio, com o selo da Nuclear Blast, como foi o caso da explosiva ‘Man on Fire’, sem deixar de parte outros conhecidos temas da sua carreira. Com breakdowns bem vincados e escalas de cordas bem conseguidas por Kristan Dawson, as vozes de Daniel e Jason Cameron (que também fazia a sua parte nas guitarras) ganhavam expressão sempre que se alternavam entre o gutural e o clean durante os refrões, com os fãs portugueses a saírem naturalmente satisfeitos com todas as exigências feitas pela banda, desde saltos a circle pits de alguma violência.

No entanto, a longa fila que se avistava à porta desta sala do bairro de Alvalade devia-se aos More Than A Thousand. Depois de aquecida (e de que maneira) a audiência, a banda setubalense tomou o palco de assalto sem grande demora para desfilar vários temas do novo disco, alternados com temas do antecessor – “Vol. 4: Make Friends and Enemies”.

Tem sido assim que a banda de Vasco, Filipe, Sérgio, Wilson e, mais recentemente, Mike tem marcado a sua carreira desde 2000: a fazer amigos e inimigos, sendo donos de um som cada vez mais maduro, melódico e orelhudo. Continuam sem prescindir dos sing-alongs no novo álbum, como é o caso da introdutória ‘Fight Your Demons’. Também novos temas como ‘I’m the Anchor’, ‘Feed the Caskets’ e ‘Heist’ já pareciam estar na ponta da língua de quase todos os presentes, que revelaram conhecer as novas faixas tão bem como os já clássicos da banda. Ainda assim, os apoteóticos momentos foram guardados para os temas do álbum anterior, em que as vozes se entrelaçavam entre o grito e a harmonia para os refrões de ‘First Bite’, ‘Nothing But Mistakes’ e ainda ‘We Wrote a Song About You’ (esta com Fábio, dos Hills Have Eyes, a dividir as vocais com Vasco).

Deu tempo para fazer amigos, saltar, construir poderosas walls of death, estrear o novo disco ao vivo e ter momentos bonitos, como os acústicos de ‘Midnight Calls’ e ‘In Loving Memory (Life Flashes)’ numa só faixa. Para terminar, foram guardados os dois singles ‘Roadsick’ e ‘No Bad Blood’.

O imenso calor que se fez sentir e o suor que se destilou não foram motivos negativos, mas sim consequências de um concerto agitado e agressivo, fazendo então ter certeza que, segundo o novo disco, os More Than A Thousand podem estar perdidos em casa, mas em palco… nunca.

Texto: Nuno Bernardo

Fotografias: Rita Bernardo